Fico imaginando D. Clotilde, D. Ofélia, D. Magnólia e outras tantas donas do saber que foram professoras primárias na época em que “Ivo viu a uva”, já no andar de cima, num diálogo franco com aquele que tem as chaves do Céu:
-Olhe para baixo, meu santo! O que você vê?- pergunta a mais velhinha delas.
-Vejo um Planeta que já foi azul como seus olhos!
Esse era o Pedrão! Um gentleman! Bem articulado, sabia como levantar o moral das professoras.
-Faça um upgrade, Pedro! Olhe pelo Google Earth – aconselhou a que vivia na nuvem.
-Aproxime a “Latina América/Amada América/de sangue e suor”- cantarolou uma simpatizante da finada música de protesto.
-Visualize o Brasil – simplificou uma quarta – Onde foi que erramos?
-Bem… Talvez o problema tenha sido a cartilha – respondeu reticente o santo.
-A cartilha?! – questionaram elas em uníssono.
-Pois é! As senhoras não ensinaram que “Ivo viu a uva”, que “vovó viu o Ivo” e que “vovô viu o ovo”?
Ante o gesto afirmativo delas, ele explicou:
-Pois foi isso! As nobres educadoras ensinaram a mentir desde cedo. Na verdade, Ivo viu a Eva, que era uma uva. E a vovó não viu o Ivo, porque estava de olho no vovô, que andava se engraçando com a Clara e a Gema.
-Mas, Pedro, a gente ensinou também a fazer contas… – interrompeu a professora de matemática.
-E eu não sei?! As senhoras ensinaram a subtrair, e “eles” subtraíram com perícia dos cofres públicos. As senhoras ensinaram a multiplicar, e “eles” multiplicaram com competência suas contas particulares, transferindo-as em paraísos. Fiscais, obviamente – acrescentou o santo, afastando qualquer suspeita de corrupção no Éden.
-Nós tentamos formar homens de bem – justificou-se uma sexta.
-E como formaram! – sorriu S. Pedro, entre irônico e complacente –
Formaram homens de muitos bens.
-Chega, Pedro! Não aguento mais! – suplicou a doce professora de técnicas domésticas.
-Sinto muito, professora, mas a senhora também tem culpa! Lembra-se de quando ensinou a usar laranjas?
-Chega, Pedro! – xingou a mais severa, dando-lhe um safanão na cabeça com a Seleta de capa dura, de Alfredo Clemente Pinto – Você está de castigo!
Pedrão sorriu. Uma vez professora, sempre professora!