Quando a gente é solteiro, sexta-feira é o auge. A contagem regressiva começa ainda na quarta, com o coração batendo ao ritmo do agito que está por vir. A noite mal começa e já estamos nos arrumando para a balada, revendo os amigos, ensaiando sorrisos no espelho. Sábado? É a continuação natural da festa, uma extensão da liberdade, da juventude em estado bruto. Dormir de manhã e acordar à tarde com o som de alguém fritando um ovo na cozinha, ainda com maquiagem na pele e a alma risonha.
Aí vem o namoro. E, se é de verdade, o sofá passa a ter um apelo inegociável. Na quarta, já se espera pelo fim de semana, mas agora por outro motivo: a companhia. Um filme ruim vira ótimo, desde que se esteja de conchinha. Um delivery qualquer parece jantar de novela. E o domingo? Ah, o domingo ainda carrega aquele ar melancólico do fim, um prenúncio da segunda, uma separação marcada pelo início da rotina.
Mas então a vida muda de novo e a gente forma uma família. Chegam os filhos e com eles as novas prioridades. Tudo passa por uma reconfiguração inteira do que é prazer. É aí que os domingos ganham um novo sabor.
Você começa a acordar cedo por vontade própria ou por um “bom dia, mamãe” com um sorriso banguela e mãozinhas miúdas lhe chamando pra brincar. O café da manhã vira ritual: pão fresquinho, frutas variadas, leite morno dividido com risadas. O céu tem outro azul. Os pássaros, antes ignorados, agora são tema de conversa: “Papai, olha o passarinho!”. E você olha mesmo, com genuína admiração. Descobre que a beleza das coisas miúdas é imensa.
A caminhada de domingo é sem pressa. Um chimarrão na mão, uma paz no peito. A missa vira ponto de encontro, o almoço vira festa. Maionese, frango assado ou churrasco, risada de criança ecoando entre os móveis. Não se liga mais se a sala está uma bagunça — aquilo é prova de que a casa está cheia de vida.
O parquinho virou parada obrigatória. Você corre, empurra balanço, se senta no chão quente do escorregador. Jogar bola não é mais hobby, é esquema de todo domingo. E, de repente, você se pega olhando bicicletas na internet, pensando qual modelo seria bom para acompanhar o pequeno nas primeiras pedaladas. E acha isso lindo.
A beleza dos domingos mudou. Não se mede mais por quanto você descansou, nem por quanto se divertiu na noite anterior. Mede-se por sorrisos inocentes, por mãos dadas em silêncio, por olhares trocados entre você e quem divide essa missão de amor chamada família.
No fundo, a gente descobre que os domingos sempre foram especiais e a gente mal esperava por eles toda a vida. Mas, agora, mais do que nunca, eles têm gosto de eternidade. A gente renasce quando tem filhos, vive a infância pela segunda vez e vê que a sexta e o sábado já não tinham a mesma graça. É no domingo que o melhor da vida acontece!