Quando falamos da autodescoberta pessoal, mencionamos frequentemente o tema da espiritualidade. Hoje, as pessoas gostam muito de usar esse conceito. Porém, usam de um modo não muito rigoroso. Espiritualidade significa para cada pessoa algo diferente e, na verdade, espiritualidade é viver a partir do espírito. Para os cristãos, é o Espírito Santo que nos preenche e é desta fonte que nós gostaríamos de viver. Muitas pessoas entendem por espiritualidade, ocupar-se com coisas espirituais, envolver-se com meditação ou frequentar cursos de espiritualidade.
Muitos, ao buscarem um caminho espiritual, não se sentem compreendidos pelos que estão por perto. Com sua base espiritual, eles incomodam quem está ao seu redor, pois em cada um de nós se encontra essa ânsia mais profunda, qual seja, em última instância, por uma vida a partir de Deus e com Deus. Porém, muitas vezes, nós reprimimos essa ânsia. Quando alguém próximo a nós se põe no caminho da espiritualidade, ele nos lembra dessa vontade, que, por vezes, pode estar reprimida. Nós não queremos assumir a nossa ânsia, o nosso desejo de Deus. Então, corremos o perigo de desvalorizar a busca espiritual do outro.
Uma pessoa que está buscando viver espiritualmente precisa ter uma grande confiança interior para não se deixar arrastar por essas atitudes depreciativas. Inversamente, há também exageros no caminho da espiritualidade. Às vezes, os questionamentos de fora são plenamente justificados. As pessoas precisam se perguntar. Para os antigos monges, o controle da realidade era sempre um critério importante. Se eu me confrontar com a realidade e deixar com que o espírito de Deus entre nela, então isso é um bom caminho espiritual. Entretanto, se através de minha prática espiritual, eu fugir da responsabilidade na família ou no trabalho, então essa não é a espiritualidade que Jesus nos anunciou. Por isso, caro leitor, a autodescoberta pessoal é também perceber os caminhos que estamos fazendo quando falamos em espiritualidade. Pense nisso!
Ezequiel Dal Pozzo
Padre