Aos poucos, moradores da Linha Alcântara organizam suas residências e contabilizam os prejuízos
Há mais de um mês, alguns locais da Serra Gaúcha foram atingidos pela elevação do nível das águas do Rio das Antas. Os rastros deixados pela maior enchente dos últimos 20 anos ainda estão presentes na região da Linha Alcântara, um dos locais mais prejudicados em Bento Gonçalves. Nas ruas da localidade, ainda podem ser vistos entulhos como galhos e itens como móveis e colchões que foram deteriorados pela água. Depois do susto e das perdas, neste último caso financeiras, é momento de contabilizar os prejuízos e, é claro, recomeçar.
Entre os moradores da região está o aposentado Paulo José Felippe, de 66 anos. Proprietário de uma tenda localizada às margens da ERS-431, afirma que esta foi a pior enchente dos últimos 20 anos. A anterior registrada nestas proporções, segundo ele, foi em 2001. “Esta foi uns 60 cm maior que a registrada naquele ano. Porém, a diferença desta vez foi a força da água e o acúmulo de sujeira e lodo e muitas árvores foram arrancadas ”, revela.
Apesar de ter recebido ajuda das equipes da prefeitura, que disponibilizaram uma patrola para que a maior parte da sujeira pudesse ser removida, o trabalho ainda não acabou. “Me virei praticamente sozinho”, revela. Por isso, aos poucos, ele está limpando os entulhos, como galhos, troncos e restos de móveis acumulados ao redor da sua residência e na de sua mãe, que faleceu há cerca de seis meses. Ao contabilizar os prejuízos, ele estima um montante, entre alguns móveis e ferramentas utilizadas para o trabalho. “Se calcular tudo, chega aos R$ 10 mil, pois fazia pouco tempo que tinha feito a cozinha e o quarto também. Então, as partes em que a água alcançou, ficaram deterioradas. Quem vê o rio lá embaixo, não acredita que ele ‘veio’ até aqui”, acrescenta.
Situação assustadora
“Quando vi a situação, fiquei assustada”. Esta foi a reação que Gema Terezinha Rebelato teve ao chegar à sua residência após a enchente. Na noite anterior à cheia, ela e o esposo se deslocaram até a casa de veraneio que a família possui desde 2008 para ‘erguer os móveis’, achando que a água não atingiria o nível que atingiu. Quando retornaram para a localidade, após o rio baixar, conseguiram contabilizar os prejuízos e iniciaram a limpeza da casa. “Perdi liquidificador, o aparelho de parabólica e alguns itens menores, pois achávamos que o nível da água não subiria tanto. Se não tivéssemos colocado algumas coisas no piso superior, o prejuízo seria maior. Nossa dificuldade foi com a questão de limpeza, pois a água mais forte para que pudéssemos ligar o lava jato veio somente alguns dias depois”, aponta. Ao redor da casa, os estragos da força da água ainda podem ser vistos. “Estamos ainda arrumando a cerca e retirando a sujeira acumulada. Muitas árvores também quebraram”, aponta.
Quem também lamenta a situação são Mari e Ivanir Demarchi. Há mais de 30 anos o casal possui uma casa que utiliza para veraneio. “Na época da aquisição da casa, até sabíamos que isso poderia acontecer, porém, gostamos de estar aqui. Foi uma enchente muito grande, ninguém esperava que pudesse atingir o nível que atingiu”, explana Ivanir.
Quando soube da elevação do nível das águas do Rio das Antas, se deslocaram até a casa para arruar os pertences. “Consegui salvar muitos itens, pois colocamos na parte superior da residência, em cima de mesas. O prejuízo que tivemos foi com a questão de motores que não conseguimos retirar a tempo, não tivemos muito o que fazer”, finaliza Demarchi.