Hotelaria sente os impactos da crise na Capital do Vinho. Desde abril a ocupação não passa de 10% dos leitos nos hotéis da cidade
A pandemia está afetando todos os setores da economia, inclusive turismo e hotelaria. No dia 20 de março, o decreto estadual que permitia apenas a abertura de estabelecimentos essenciais em Bento Gonçalves, também proibiu o funcionamento dos serviços de hospedagens em hotéis e pousadas. Desde então, o setor tem sofrido com a falta de hóspedes.
Em 3 de abril, após 13 dias sem receber clientes, um decreto municipal permitiu o funcionamento com ocupação de quartos reduzida. Mesmo assim não houve grandes melhorias. Segundo a diretora executiva do Sindicato Empresarial de Gastronomia e Hotelaria (SEGH) e presidente do Conselho Municipal de Turismo (Comtur), Marcia Ferronato, a perda estimada chega a cerca de 80%. “Considerando somente o setor de gastronomia, hotelaria, bares e casas noturnas, que são ligados ao SEGH, temos aproximadamente 2.800 empregos e cerca de 5.600 pessoas dependentes. Dos 21 setores da economia, o turismo é o que mais demitiu”, observa.
A oscilação entre as bandeiras vermelha e laranja, do modelo do distanciamento controlado do governo do estado para evitar o contágio do coronavírus, é um dos fatores que influenciam no aumento ou redução do número de hóspedes na cidade. De acordo com o gerente operacional do Hotel Villa Michelon, Leandro Giordani, mesmo que as restrições tenham sido flexibilizadas e permitam agora trabalhar com 50% da capacidade, há falta de atrativos para que os turistas frequentem a cidade. “De 183 restaurantes, temos apenas 16 que podem abrir. Vinícolas, artesanatos, lojas e cafés têm que fechar. Apesar da estrutura que temos, as pessoas querem passear para conhecer todo o destino”, explica.
No hotel, anteriormente muito frequentado por ficar situado no Vale dos Vinhedos, a redução no número de hospedagens é visível, com prejuízo de 85% em 2020. “O impacto foi estrondoso, nós tivemos uma queda absurda na ocupação. Estamos atendendo com praticamente 15% do volume do ano passado, no mesmo período”, relata Giordani.
Em Bento Gonçalves, a taxa média de ocupação de quartos nos meses de abril e maio não ultrapassou 5%. Em junho houve um pequeno aumento, mas não passou de 10%. Marcia explica que é uma grande queda, comparando-se ao percentual de ocupação 2019, que foi de 45%. A previsão é que somente a partir de 2023 o turismo volte ao patamar de antes da Covid-19. “É impossível manter uma estrutura hoteleira, equipe, honrar os compromissos com esta taxa, sem falar que as tarifas também tiveram uma grande queda”, afirma a presidente do Comtur.
Para o gerente do Hotel Imigrante, Natanael Mielke, os únicos turistas que vêm a Bento são aqueles que não conseguem mais apenas ficar em casa, mas sabem que não há atrações disponíveis na cidade. “Com a Maria Fumaça fechada, as vinícolas também, não há atrações suficientes para fazer valer a pena uma viagem para a Serra. Normalmente eles estudam um roteiro que contemplçe Bento, Gramado e Canela”, explica. A boa notícia é que o hotel localizado no bairro Cidade Alta recebeu mais hóspedes em julho. “As empresas não aguentam mais tanto tempo sem trabalhar, então o pessoal está movimentando, os representantes, funcionários, quem vem a trabalho está se hospedando conosco”, afirma Mielke.
Segundo a diretora executiva do SEGH, o retorno gradativo das atividades do setor é essencial para que o turismo se mantenha em Bento. “Os empresários adotaram os protocolos para cuidar de si, sua equipe e receber com segurança o cliente. A população e os turistas também têm o dever de fazer a sua parte. Vamos vencer este momento tão difícil juntos, sem apontar culpados”, conclui Marcia.