O dia 25 de julho é marcado pela comemoração de duas profissões fundamentais para a população: o colono e o motorista. Ainda que as categorias já tenham conquistado avanços, os desafios são diários.
Há mais de três décadas, Celso Antônio Strapazzon, dedica a vida à agricultura. Para que os produtos cultivados estejam “fresquinhos” e aptos para serem vendidos nos mercados, fruteiras, restaurantes e na Feira do Produtor Rural, a rotina dele começa logo que o dia amanhece e só termina ao anoitecer.
A profissão, por vezes suada e cansativa, é considerada uma das mais antigas da humanidade. Para homenagear os responsáveis pelo cultivo de grande parte dos alimentos consumidos pela população, neste sábado, 25 de julho, comemora-se em todo país o Dia do Colono. Em Bento Gonçalves, cerca de duas mil famílias vivem da agricultura.
No distrito de São Pedro, onde Strapazzon reside com a família, todos os demais integrantes também são trabalhadores rurais. Na propriedade, lidam com diversas variedades. “Trabalhamos com parreiras para indústria, uva de mesa e com hortaliças em estufas, alface, salsa, cebolinha, radichi, rúcula, beterraba e morangos”, cita.
Dentre os desafios que os agricultores enfrentam na atividade, Strapazzon acredita que lidar com a variação do tempo é um dos maiores. “Hoje temos uma produção bonita, pronta. Amanhã, podemos não ter mais, devido ao granizo, chuva e seca”, aponta.
Embora a atividade agrícola seja fundamental, Strapazzon confessa que às vezes a população não dá o devido valor. “O trabalho e a produção precisam de tempo para ficarem prontos. Não é de um dia para outro. Podemos estar vendendo bem algum produto, investir e quando fica pronto para venda, ninguém mais tem interesse”, relata.
Com a quarentena, medida imposta para conter a propagação do coronavírus, a Feira do Produtor Rural ficou suspensa por quatro sábados. Strapazzon foi um dos feirantes que sentiu os prejuízos, pois não tinha para quem vender a mercadoria que produziu naquela época. “É muito triste ver a produção pronta e ter que jogar fora”, afirma.
Agora, as atividades da feira já retornaram no município, porém, não de forma plena. Com a Serra Gaúcha classificada na bandeira vermelha nas últimas semanas, apenas 50% dos agricultores podiam trabalhar. “Não acho justo, pois diminuindo o número de feirantes, não reduz o número de compradores. Assim, alguns produtores tem a mercadoria pronta e não podem vender”, acrescenta.
Apesar das dificuldades enfrentadas ao exercer a profissão escolhida, Strapazzon afirma sentir orgulho de ser agricultor e o motivo é justo. “Fazemos um trabalho extremamente necessário e importante para o ser humano, não adianta ter dinheiro e não ter alimentos para comprar”, destaca.
Em busca de aperfeiçoamento
Desde 2006, Fabiano Orsatto trabalha como agricultor, ao lado do pai, Antônio Orsatto, 74 anos. No distrito de Tuiuty, eles plantam os mais diversos tipos de uvas para suco, que posteriormente são vendidas para a Cooperativa Vinícola Aurora. “Bordô, Isabel Precoce, Magna, Carmem, Bibiana”, cita.
Pensando em evoluir, Orsatto define a rotina como sendo em constante busca por aperfeiçoamento, com cursos que realiza. “Estamos sempre pensando em buscar inovações, tecnologias, cursos para poder aproveitar melhor a nossa propriedade”, pontua.
Ainda que considere o trabalho puxado em alguns momentos, em especial na hora da poda e colheita, Orsatto acredita que, principalmente quando comparado com antigamente, já melhorou muito, com a ajuda da modernização. “Pelos relatos do meu pai, era mais sofrido”, observa.
Estradas melhores: reivindicação justa, porém antiga
O presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, Cedenir Postal, relata que uma das principais dificuldades que a categoria sofre é relacionada a infraestrutura. “As estradas de Bento estão ruins, mas muito ruins mesmo. E não é porque agora tivemos um período de chuvas, tem muitas que não tem manutenção há tempos”, destaca.
De acordo com Postal, além de estreitas, a grande maioria delas ainda não recebeu asfaltamento e estão em condições precárias de uso. “Principalmente as de chão. Falta manutenção e não é dada a devida atenção que os agricultores merecem”, reforça.
Postal acredita que os municípios que se emanciparam de Bento conseguem manter as estradas de forma melhor. “Pinto Bandeira está fazendo asfalto. Monte Belo não é diferente. Santa Tereza também, apesar das dificuldades que o município tem, com pouca renda, consegue fazer esses investimentos”, compara.
Internet e energia elétrica precárias
Outra demanda da categoria é relacionada a necessidade de energia elétrica de qualidade e regularidade. Segundo Postal, nas localidades mais distantes, quando falta luz, algumas vezes demora dias para que seja reestabelecida. “Os agricultores necessitam de mais potência e não tem. Quem precisa instalar câmara fria, motores para irrigação, enfim, de mais força de luz, não tem”, assegura.
Em relação a internet não é diferente. Os locais mais distantes são os que mais sofrem com a precariedade, como em alguns pontos do distrito de Tuiuty. Porém, outros locais já avançaram. “Distrito de Faria Lemos, em algumas localidades já têm fibra ótica”, menciona Postal.
Avanços da categoria
Com muita luta ao longo dos anos, os agricultores alcançaram vários progressos que ficaram marcados na história. Postal, afirma que um dos principais, se deu a partir da Constituição Federal de 1988, que garantiu mais direitos. “A aposentadoria, tanto de homens quanto de mulheres, porque até esse período, só os homens conseguiam se aposentar com meio salário mínimo”, cita.
A inclusão da uva na Política de Garantia de Preços Mínimos (PGPM) também é considerada uma conquista. O programa é uma ferramenta utilizada para reduzir oscilações na renda dos produtores rurais e assegurar uma remuneração mínima. “Mesmo que às vezes não seja o preço ideal, tem uma garantia”, afirma Postal.
A mais recente conquista dos trabalhadores é referente a Reforma da Previdência. Os agricultores familiares foram a única categoria que não sofreu nenhuma modificação. “Todas as outras tiveram aumento no tempo de contribuição ou alguma outra mudança. A nossa categoria foi a única que continuou como estava. Acho que isso foi uma das maiores conquistas que tivemos depois da constituição de 1988”, aponta.
Pés na estrada
Os desafios daqueles que trabalham nas estradas brasileiras são imensos: vão desde a necessidade de trafegar em rodovias em más condições, de encarar trânsitos caóticos ou até mesmo os próprios riscos de se envolver em acidentes. Por isso, no dia 25 de julho, também é comemorado o Dia do Motorista.
Independente de serem condutores de caminhões, ônibus, táxis ou de veículos de passeio, a responsabilidade de transportar outras pessoas, alimentos, medicamentos ou tantos outros produtos essenciais é enorme.
Quem sabe bem disso é o Samoel Sulzbacher Ribeiro, 34 anos. Inicialmente, ele realizava viagens apenas na região. Agora, além do Rio Grande do Sul, viaja para os estados de Santa Catarina e Paraná. Já são cerca de cinco anos trabalhando como motorista.
O gosto pela profissão é antigo e surgiu pelo exemplo que tinha dentro de casa, durante a infância. É que o pai, Manoel Dinis Pires Ribeiro, também era caminhoneiro. “Quando era criança, ia viajar com eles nas férias, então acho que vem daí”, comenta.
Ribeiro viaja pelo país com o objetivo de entregar móveis. Entre idas e vindas pelas estradas do Brasil, já vivenciou diversas situações. Entretanto, aquela que ficou marcada, foi quando o caminhão, em um dia de chuva, ficou atolado no barro, quando já estava anoitecendo. “Conseguimos tirar o caminhão com ajuda de pessoas que nem conhecíamos, um trator e outro caminhão ajudaram. Foi um gesto nobre”, conta.
Como as viagens duram cerca de quatro a cinco dias, os postos de combustíveis são os locais em que consegue tomar um banho, se alimentar e dormir. Deixar o lar por esse período, mesmo que não seja longo, nem sempre é fácil. “Deixamos a família, saímos preocupados, pois vivemos em tempos difíceis e a saudade bate”, relata.
Ainda assim, Ribeiro exerce a profissão com satisfação e alegria. E, ao ser questionado do que mais gosta na atividade, a resposta é fácil de imaginar. “De estar conhecendo novos lugares”, resume.
Conquista suada por meio do trabalho
Quando o gás de cozinha acaba justo naquele intervalinho curto de almoço, quem vai correndo fazer a entrega, para salvar a refeição, é Rogério Casagrande. Há 18 anos, ele trabalha na Comercial de Gás Cainelli, como motorista.
Com 25 anos de profissão, o dia que ficou marcado no coração e na memória do motorista, foi quando realizou um sonho, graças ao trabalho que desenvolve. “O dia que consegui comprar o meu apartamento. Foi inesquecível”, conta.
A rotina de Casagrande é essa: dirigir todos os dias. Entre tantas ruas, avenidas e estradas percorridas, uma das histórias que não esquece, foi de quando uma pessoa reclamou do preço do gás. “E eu respondi que é caro, mas é bom, o melhor gás. Ela achou engraçado e até hoje é minha cliente”, relembra.
Trabalhar livre nas ruas é o que Casagrande mais gosta na profissão. Ciente da importância, reforça que é importante dirigir com cuidando, respeitando os pedestres e outros veículos, além de “atender as pessoas e ter um emprego que me deixa satisfeito e feliz”, finaliza.