Desde 1998 na Serra Gaúcha, o vice-reitor da UCS e sub-reitor do CARVI fala sobre sua trajetória como professor, bem como os desafios e a atuação da Universidade junto à comunidade
Odacir Deonísio Graciolli é vice-reitor da Universidade de Caxias do Sul (UCS) e sub-reitor do Campus Universitário da Região dos Vinhedos (CARVI), de Bento Gonçalves. Escolheu a Serra Gaúcha como lar desde 1998, quando se mudou com sua família para a região. Apesar de não ser natural do Rio Grande do Sul, Graciolli identificou-se muito com a região e a colonização, visto que a rotina e vida dos que aqui residem era parecida com a da região oeste de Santa Catarina, onde foi criado. Desde muito novo, aprendeu a valorizar as pequenas coisas do dia a dia, incluindo a educação, que, para ele, sempre foi primordial. Repassou esses valores, juntamente com sua esposa, Elisângela, aos filhos Lucas e Ana Maria.
Origens e trajetória
Sou natural do oeste de Santa Catarina, de uma família simples e humilde. Aos 18 anos, fui para Florianópolis, servindo o Exército voluntariamente por dois anos. Sou graduado em Ciências da Computação pela Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC (1991). Sou mestre (1994) e doutor (1998) em Engenharia de Produção pela UFSC, tendo cursado um período do doutorado na França. Já fui empresário e atuei em consultorias e projetos ligados à minha área de atuação. Ao me formar no doutorado, tive oportunidades de trabalho, em diferentes cidades do País. Ao pesquisar regiões com melhor qualidade de vida, optei pela Serra Gaúcha, em 1998. Há mais de 20 anos, Bento é o meu lar e da minha família. A adaptação foi fácil, pois tanto eu quanto minha esposa, Elisângela, descendemos de italianos, então foi como se estivéssemos com novos vizinhos, mas em casa. No início da minha formação, não imaginava ser professor, mas essa profissão acabou me atraindo. Estamos até hoje evoluindo na questão da educação que, na minha opinião, é uma das causas mais nobres e fundamentais para o desenvolvimento das pessoas e, consequentemente, de uma sociedade.
Educação e sociedade
A educação no Brasil nunca se manteve como priorização nos sucessivos governantes, infelizmente. Não estou falando de utopia, mas do desejo e projeto de uma sociedade de, por exemplo, em duas décadas, como a Coreia do Sul ou a Finlândia, transformaram um país pobre em um país do topo da lista dos mais desenvolvidos do mundo.
Nos últimos 20 anos, houve uma flexibilização nas regras do Ministério da Educação (MEC) para o Ensino Superior e, com uma economia aquecida, houve uma expansão de acesso ao Ensino Superior, o que é muito bom; no entanto, a questão da qualidade não foi observada de forma adequada, havendo um foco maior na quantidade. Surgiram, assim, nesse período, muitas Instituições de Ensino Superior (IES) com foco empresarial, ou seja, com fins lucrativos, sem muita atenção às questões formativas do estudante, tanto na parte técnica quanto na humanística, e que acabam refletindo na atuação desse futuro profissional na sociedade.
É importantíssimo escolhermos uma boa instituição para nossa formação, pois ela pode mudar significativamente nossa vida e onde vivemos. Fica aqui uma orientação para que se busque muitas informações sobre a Instituição em que se depositará a confiança na formação, com qualidade de educação. Sim, o valor da mensalidade é uma variável de peso, mas de longe não é a mais importante. Hoje em dia, há muitas oportunidades de benefícios para aqueles estudantes que não tenham a condição financeira para custear sua formação. A qualidade da educação recebida deve ser o foco do aluno na hora da opção por uma Instituição de Ensino Superior.
Aqui e em qualquer lugar do mundo aprender exige comprometimento e dedicação. Nós precisamos de muitos talentos que possam promover o desenvolvimento de uma sociedade em todas as suas dimensões, econômica, social e ambiental. É nosso papel como sociedade nos envolvermos com a educação de qualidade, quer seja o professor, o estudante, a família, o empregador ou governante.
Aulas e pandemia
A educação vem buscando inovar em seus processos para a aprendizagem diante da pluralidade de características dos estudantes que buscam uma formação. São pessoas de diferentes idades, valores, culturas e, principalmente, diferentes processos mentais. Nesse sentido, novas metodologias e reformulações dos projetos dos cursos vêm sendo desenvolvidas e aplicadas na UCS, apoiadas em parcerias com Instituições de Ensino de referência no mundo, como a Finlândia.
A pandemia acelerou uma parte da transformação digital que o mundo vinha desenvolvendo. Na UCS não foi diferente; com a pausa das atividades presenciais em função da pandemia, na terceira semana de março, tivemos 2.700 turmas que retomaram as aulas uma semana depois de forma síncrona, em que o professor desenvolve a aula com a turma conectada simultaneamente numa plataforma digital no mesmo horário da aula presencial, o que é diferente do modelo EAD clássico. Essa forma síncrona é também um modelo diferenciado, que usa novas metodologias e tecnologias, dando suporte ao aprendizado. Em toda a UCS, isso funcionou muito bem. Para os alunos, que não tinham conexão ou como participar das aulas de forma on-line, a Universidade disponibiliza um kit para que eles possam acompanhar as atividades. Nas disciplinas em que as aulas práticas eram necessárias, ficamos dependentes do regramento das autoridades e, conforme autorizadas, estamos conseguindo dar sequência, respeitando os protocolos, com agendamento de horários e todas as questões de biossegurança.
Posição da UCS
Há vários rankings que fazem a classificação ou atribuem notas para as Instituições de Ensino Superior. O MEC faz periodicamente avaliações de cursos e da própria IES, buscando analisar os indicadores que medem dimensões relacionadas à formação dos estudantes. A Universidade de Caxias do Sul tem uma classificação de nível 4, numa escala até 5. Em outros rankings, como o da Folha de São Paulo (RUF), que considera a avaliação do MEC mas também outras variáveis, como empregabilidade e inovação, a UCS sempre esteve muito bem classificada: 3ª melhor universidade do país entre as comunitárias e privadas, 13ª posição entre todas as universidades brasileiras (incluindo públicas) e 4ª lugar no Rio Grande do Sul. No indicador que reflete a inovação, pelo menos nos últimos sete anos, esteve sempre entre as primeiras colocações. Além disso, ela foi relacionada entre as mil melhores universidades do mundo por um ranking internacional, feito pela revista britânica Times Higher. É um orgulho para todos nós.
Planos a curto, médio e longo prazo
Desenvolvemos muitas estratégias, planos e ações. A Universidade reverte todos os recursos arrecadados para os fins da própria Universidade, ou seja, a mensalidade do aluno é revertida em benefício do próprio aluno, com investimentos em ambientes de aprendizagem e suas respectivas operações. O CARVI possui excelente estrutura de laboratórios nas áreas das engenharias, computação e arquitetura. Também estamos consolidando os cursos na área da saúde, sem descuidar das áreas das humanidades, sociais e jurídicas. Estamos com um portfólio disponível de cursos de graduação de curta duração, em média 2,5 anos, em diversas áreas e com preços muito competitivos. No entanto, também atuamos no ensino técnico em segurança do trabalho e, em parceria com o Hospital Tacchini, desenvolvemos um projeto de técnico em enfermagem, que deve iniciar agora em setembro.
Além disso, temos outros cursos e programas, como, por exemplo, o UCS Sênior, em que as pessoas com mais de 50 anos aprendem dança, uso de tecnologias e smartphones, entre outros. Nós podemos atender a muitas outras necessidades da sociedade, desde que haja a demanda, para que possamos avaliar a forma de atendê-la. Estamos com o projeto do TecnoUCS – instalação de ambientes de inovação voltados a incubadora de empresas, processo de geração de startups e de um parque tecnológico. Quanto a médio prazo, está no nosso planejamento um curso de Medicina aqui em Bento, porém isso não depende somente da UCS; precisamos atender os critérios definidos, principalmente, pelo MEC e que envolve até o sistema de saúde da região. Também estamos expandindo a oferta de turmas de mestrados. A longo prazo, acredito que possamos continuar contribuindo na formação de talentos, seja qual for a área de interesse.
Cursos ofertados e mais procurados
São diversos produtos educacionais ofertados aqui em Bento, desde formações mais rápidas através de cursos de extensão até os de mestrado. Na extensão, nós ofertamos centenas de cursos para diversos públicos, em diferentes áreas do conhecimento, para formados e não formados, de forma paga ou gratuita, presencial ou a distância. Em nível pós-médio, oferecemos os cursos de técnico em segurança do trabalho e, a partir desse ano, o técnico em enfermagem. No ensino superior, oferecemos cerca de 20 cursos de curta duração (tecnólogos), de licenciatura e bacharelado. Em nível de pós-graduação, ofertamos dezenas de especializações e MBA e algumas turmas de mestrados.
Nos cursos de bacharelado, vem crescendo a procura pela área da saúde; nas engenharias e arquitetura, temos uma boa procura, assim como nas áreas sociais, como direito, administração e contábeis. Há também programas para uma segunda graduação, que aproveitam disciplinas cursadas e rapidamente o aluno pode ter mais uma graduação. No mestrado, oferecemos o curso de Engenharia de Produção, que atende alunos formados em todas as engenharias e também egressos de administração, contábeis, computação, etc. Já formamos algumas dezenas de mestres que estão atuando como professores e, principalmente, em resolução de problemas complexos nas empresas da região.
Formação e mercado
Praticamente todos os estudantes do CARVI estão empregados durante e após a formação. Mantemos um programa voltado à empregabilidade, chamado UCS Carreiras. Os projetos dos cursos, as estruturas e os professores somam oportunidades para o estudante fazer uma formação completa em termos técnicos, humanísticos e éticos. As propostas de formação contemporânea permitem uma grande flexibilidade, dando ao aluno mais autonomia na sua formação. Por exemplo, um tema transversal na formação, independente do curso, é o empreendedorismo. Nós temos várias turmas regulares dessa disciplina, que atende diferentes cursos numa mesma turma, o que a torna um ambiente de interação muito rico e interessante.
O processo de empreender e inovar desenvolve competências desejadas para criação de empresas e auxilia também na própria atuação na empresa, bem como em todos os setores da sociedade. Nós oportunizamos uma boa formação nessa área, até por que o modelo de emprego e ocupação mudou e vai mudar muito mais. Ou seja, para algumas profissões, a atuação profissional já não é mais a mesma. Quando a formação é sólida, consistente, com qualidade, nos adaptamos rapidamente ao que o ambiente nos exige.
Infraestrutura e comunidade
O Campus está voltado para a atuação da Universidade, em ensino, pesquisa e extensão, atendendo à comunidade acadêmica. No entanto, muitas das atividades de extensão atendem também à comunidade em geral. Nas áreas das engenharias e da saúde, as empresas podem demandar alguns serviços de laboratórios. Na área da educação, por exemplo, fizemos muitas formações de professores. Valorizamos, também, a interação, através de dezenas de palestras anuais em todas as áreas do conhecimento oferecidas, por exemplo, às escolas municipais e estaduais. Anualmente, em torno de dois mil alunos do ensino médio e fundamental realizam aulas de biologia, física e química nos laboratórios do CARVI. Desenvolvemos projetos na área ambiental, social e cultural. Na social, por exemplo, patrocinamos o Bento Vôlei, além de cedermos nosso espaço físico para treinamentos e aulas de informática. No Campus, temos instalado o Observatório Social. Prestamos assistência ao Pelotão Curumim. A Brigada Militar usa nossa estrutura para fazer treinamentos em nossos laboratórios de informática. Quando falamos na questão cultural, a Orquestra sempre se apresentou trazendo música e emoção aos munícipes. Temos o SAJU, Serviço de Assistência Jurídica, que é desenvolvido por alunos e professores do curso de Direito e presta atendimento gratuito a pessoas carentes, com cerca de quatro mil atendimentos anuais, além da implantação neste ano do serviço de atendimento psicológico (SEPA).
Necessidade do campus e investimentos
Algumas áreas demandam muitos investimentos em laboratórios, como as engenharias e a área da saúde. Estamos com a parte das engenharias, incluindo física e química, consolidada; fizemos grandes investimentos no passado. Atualmente estamos consolidando os laboratórios específicos na área da saúde. Por menor que seja o investimento, sempre estamos em constante aprimoramento e transformação, investindo entre R$ 500 mil e R$ 1 milhão anuais. No entanto, os investimentos também se dão nas pessoas, nos professores e funcionários. É um grande equilíbrio entre projetos de cursos, infraestrutura e pessoal.
O que os estudantes buscam
Aqueles alunos que tem uma influência familiar, de amigos, que pretendem fazer uma boa formação, independentemente da área, procuram uma boa universidade para o seu currículo. Uma boa formação no ensino superior proporciona melhores oportunidades na carreira profissional e na vida. Precisamos, como sociedade, ajudar os jovens que estão no ensino médio a planejar seu futuro, construir um projeto de vida. Nós, da Universidade, estamos de portas abertas para recebê-los, para responder ou orientar quanto à sua formação.