Entidade que representa os empresários apela para que o modelo adotado deixe de ser impositivo e passe a ser consultivo, atuando como auxílio aos gestores no monitoramento da situação e tomada de decisões

O Centro da Indústria, Comércio e Serviços de Bento Gonçalves (CIG-BG), em nota assinada pelo seu presidente, Rogério Capoani, se manifestou nesta terça-feira “extremamente preocupado com essa ação e este contexto todo que o governo vem nos impondo”, ao determinar medidas restritivas à atividade comercial com inclusão da Região da Serra na bandeira vermelha, que impõe medidas ainda mais duras para conter a propagação do coronavírus. A manifestação do presidente se deu com a confirmação, no final da tarde de segunda, por parte do governador Eduardo Leite, de que Bento e região seriam mantidas na bandeira vermelha mesmo contrariando dados que mostram avanços nos indicadores da Região da Serra.

Segundo Capoani, “inicialmente julgávamos até que o modelo (de bandeiras) era uma inovação, de certa forma funcional considerando o contexto, tanto que serviu de exemplo para outros estados”. O presidente destaca que é compreensível que esta época do ano, devido ao clima – úmido e frio – seja favorecida a proliferação do vírus, e que as estruturas montadas para combater a doença bem como a prevenção ao contágio devem ser mantidas. “A nossa entidade se coloca como parceira comprometida em reforçar este trabalho (de atenção aos pacientes da Covid-19 e prevenção à propagação do vírus) juntamente com o poder público e demais entidades” afirmou.

Mas destacou que é “inconcebível continuarmos com este modelo de definição por bandeiras que força o fechamento dos nossos negócios!”. O presidente do CIC-BG alerta que o cerceamento de qualquer atividade econômica, ainda que seja temporário, é uma penalidade, “e a gente discorda desta posição da secretaria (estadual da Saúde) e do Comitê Estadual de Infectologia que colocam que a única forma de prevenção e de contenção do processo de contágio seria o lockdown”.

O governador

A hipótese de suspender as atividades econômicas em todo o estado foi parte da fala do governador Eduardo Leite ao anunciar segunda à tardinha a decisão do Comitê Estadual de Enfrentamento ao Coronavírus, sobre quais regiões permaneceriam em bandeira laranja e quais evoluiriam para a vermelha. Segundo Leite, se os indicadores do estado não melhorarem “não teremos receio em adotar medidas duras, mas necessárias, para combater o coronavírus. Para evitar que cheguemos a esse ponto é importante que cada um faça a sua parte, disse o governador.

Capoani contesta: “para nós está comprovado, tecnicamente, até mesmo pelo que se viu em outros países que adotaram esta medida, que realmente o lockdown não funciona”. O dirigente empresarial entende como solução a busca de um equilíbrio nas ações de prevenção da saúde pública, com enfrentamento ao vírus, e das atividades econômicas”. Capoani reforçou apelo já encaminhado ao governo do Rio Grande do Sul “no sentido de revisar os planos que estão em prática, fazendo com que o modelo passe por uma reformulação mantendo os níveis de consumo da população”.

Ao mesmo tempo, na opinião do presidente do CIC, o governo deveria entregar às administrações municipais a responsabilidade pelas ações em seus territórios. “Que o governo demande aos municípios a competência total e absoluta para gerir suas ações. Julgamos que esse é o caminho e o formato mais adequado para promover a prevenção, manter a saúde das pessoas e não prejudicar as empresas do município, tanto as do comércio quanto da indústria e dos serviços”, reforçou o presidente Rogério Capoani, do CIC-BG.

A ocupação dos leitos de UTI

A previsão de ocupação dos leitos em Unidade de Tratamento Intensivo (UTIs) da região, de acordo com o levantameno do Centro da Indústria, Comércio e Serviços de Bento Gonçalves, não justifica a decisão do Comitê Estadual de Enfrentamento ao Coronavírus de manter o município em bandeira vermelha.

De acordo com a entidade, ao mesmo tempo em que aumentou no número de leitos disponíveis em uma semana, tantos os mantidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) quando pela rede privada, é preciso considerar que na região são atendidos pacientes encaminhados de outras cidades do estado. “Demonstramos numericamente nossa capacidade de atendimento para leito de UTI no período de 10 a 16 de julho. Dos 107 que aumentamos estávamos ocupando 69, e a previsão para o próximo período era ocuparmos, no máximo, mais 10. Ainda assim portanto, teríamos 75 leitos livres”, lembrou o presidente do CIC.

O reforço nos leitos de UTI foram de 99% nos serviços mantidos pelo SUS e de 47% nos hospitais privados, uma média de 71% no geral, passando de 150 leitos disponíveis em 20 de março passado para 257 leitos conforme o levantamento feito no dia 9 deste mês.

Importante

Os argumentos ignorados pelo governo do estado
(evolução no período de 26/06 a 02/07 para 03/07 a 09/07)

Melhora no indicador 1, das hospitalizações, da bandeira laranja para amarela com queda de 1,08 para 0,98, ou de 10%.

Melhora no indicador 4, de UTI ocupada, da bandeira preta para vermelha com queda de 1,44 para 1,15, ou de 20,14%.

Estágio de evolução (indicador 5), teve queda de 0,58 (bandeira vermelha) para 0,49 (bandeira laranja). Significa melhora no índice, em relação ao período anterior, com aumento do número de curados de 42% na semana de 26 de junho a 2 de julho e de 51% na semana de 3 de julho a 9 de julho. Uma melhora de 15,52%.

INDICADOR 6 – INCIDÊNCIA DE NOVOS CASOS

Observando-se o indicador, percebe-se rigidez na avaliação por se tratar de uma pandemia. Ou seja, para permanecer no laranja permite apenas 3 internações nos últimos 7 dias, para cada 100 mil habitantes.

Porém, por ser uma pandemia, pune a região por ter apresentado mais de 3 hospitalizações como preconiza, mesmo tendo, a região, frigoríficos que atendem aos mercados interno e externo e muitas casas de permanencia de idosos.

É punir a atividade produtiva e a capacidade de atendimento aos idosos, concentradas nesta região.

OBSERVAÇÕES:

O modelo considerado para definição do grau de risco (cores das bandeiras) tem 11 indicadores, sendo apenas dois desses indicadores relativos à avaliação de desempenho do estado.

A média ponderada da Região da Serra – que prejudica Bento – foi atingida pela piora dos números do estado (veja tabela maior, acima): Indicador 9 (leito de UTI livre/leito de UTI ocupado) e indicador 11 (total de leitos livres em comparação ao período anterior.

SRAG, ou Síndrome Respiratória Aguda Grave: Cálculo diverge da metodologia informada.

LEITO CLÍNICO: Critério é rígido e não abrange a capacidade de 906 leitos clínicos que a Serra possui, com uma ocupação média de 16%.

ESSA DISPONIBILIDADE DE LEITOS POSSIBILITA A INTERNAÇÃO DE TODOS OS PACIENTES COM COVID-19, SIMULTANEAMENTE.

O que Capoani disse:

A Serra, hoje, presta um atendimento em leito de UTI a pacientes de outras regiões e, infelizmente, nossos esforços não foram reconhecidos. Fomos injustamente penalizados com a bandeira vermelha. O modelo é rígido e incapaz de comportar as variáveis da saúde física, saúde mental e saúde financeira. Todos os nossos antigos problemas desapareceram e o foco, agora, é somente a Covid-19.

Inicialmente julgávamos até que o modelo (de bandeiras) era uma inovação, de certa forma funcional considerando o contexto, tanto que serviu de exemplo para outros estados

Inconcebível continuarmos com este modelo de definição por bandeiras que força o fechamento dos nossos negócios.

Para nós está comprovado, tecnicamente, até mesmo pelo que se viu em outros países que adotaram esta medida, que realmente o lockdown não funciona

Queremos que o governo demande aos municípios, ou grupos de municípios em regiões menores, a competência total e absoluta para gerir suas ações. Julgamos que esse é o caminho e o formato mais adequado para promover a prevenção, manter a saúde das pessoas e não prejudicar as empresas do município, tanto as do comércio quanto da indústria e dos serviços.