Ao falar dos avós, sempre em tom de muito carinho, Giovani Francisco dos Santos, se emociona. É que considera que a educação, os princípios e o caráter que carrega, foram formados pela vó, Santina Peruzzo Marinello, 77 anos, e pelo vô, Natal Marinello, falecido em 2016, aos 77 anos.
Os pais de Giovani, de origem muito humilde, como o próprio define, precisavam trabalhar fora durante sua infância. Por esse motivo, foi criado pelos avós maternos, até os 12 anos. Entretanto, sempre faz questão de reforçar que mesmo não morando na mesma casa, o pai e a mãe nunca deixaram de ser figuras presentes na vida dele. “Sempre tive muita presença familiar, que é a base”, frisa.
O vô, que sofreu um Acidente Vascular Cerebral (AVC), ficou acamado durante seis anos. Tempo pelo qual recebeu todos os cuidados e dedicação da família. Ao lembrar dele, com os olhos marejados e a voz embargada de emoção, Giovani afirma que ele era como um pai. “Um cara que me faz falta de uma maneira fora do comum”, confessa.
Quando Natal faleceu, foi Giovani quem teve o cuidado de providenciar o último desejo do vô. “Como neto, fiz toda parte da igreja. Tínhamos uma gavetinha na Capela das Almas, mas como ele era da comunidade Cristo Rei, fiz o pedido para que fosse velado lá, como era da vontade dele e assim foi feito. Fiz também a parte da mensagem, mas não sei como consegui ler”, relata.
Se antigamente era Giovani quem recebia os cuidados dos avós, agora, é o contrário. Desde abril, quando a vó Santina fraturou o fêmur, está morando na casa dos pais dele, que fica no mesmo terreno em que reside. Portanto, estão sempre todos juntos. “Fizemos todo protocolo de ir ao hospital com ela e decidimos trazer para casa, para cuidarmos. É como digo: para receber o cuidado que teve comigo. A gente retribui de alguma maneira”, afirma.
Giovani faz parte de uma parcela de brasileiros que se dedicam aos cuidados dos parentes idosos, um grupo da população que está crescendo cada vez mais. De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua (PNAD-C 2019), o número de familiares que cuidam de indivíduos com 60 anos ou mais, saltou de 3,7 milhões em 2016, para 5,1 milhões em 2019, o que representa um acréscimo de 37,8% ao todo.
Cuidar: uma forma de amar
Além dos pequenos cuidados diários, Giovani, que é profissional de educação física, ajuda a vó a manter a saúde em dia com exercícios físicos adaptados para a idade dela. “Ela sempre foi muito pró ativa, já voltou a caminhar, então vejo o que posso fazer, de acordo com o que o médico autoriza, e ela segue o protocolo”, conta.
De acordo com o neto, Santina sabe exatamente quantos passos tem que dar por dia e assim o faz. Além disso, realiza outras atividades. “Também faz o ato do agachamento sentando e levantando na cadeira”, menciona.
Em relação aos cuidados com os idosos, Giovani acredita que falta o hábito de se colocar no lugar deles “Eu ainda consigo correr, mas eles conseguem? Consigo amarrar meus tênis, mas será que eles conseguem se abaixar? Não é porque não querem, mas porque não conseguem. É uma condição, diferente de uma opção. Temos que ter esse cuidado, porque eles fizeram muito por nós”, assegura.
Todo esse zelo para com Santina vem de todos os lados da família. Da filha, Neurilze Maria Marinello dos Santos e do genro, Altair Francisco dos Santos, que por já estar aposentado, fica em tempo integral com ela. “É como se fosse filho da minha vó. Tem um cuidado extremamente grande com ela. Estão sempre juntos. Acredito que minha vó está se sentindo muito bem cuidada por todos nós”, orgulha-se.
Estudos: uma prioridade
Giovani destaca que a família sempre fez questão de incentiva-lo a estudar: era algo colocado em primeiro plano. Inclusive, era a vó Santina quem o levava para a escola. “Podia não ter o melhor brinquedo ou a melhor roupa, mas estava sempre estudando. Eles não queriam que eu passasse pelo que eles passaram”, afirma.
Ao relatar a história dos avós e dos pais, Giovani diz que foi muito sofrida, mas que para ele nunca faltou nada. “Ficavam sem para eles, mas para mim sempre tinha. Eu não sofri nada. Não tive tudo do melhor, mas tive o melhor para o momento”, destaca.
Atenção é o que faz a diferença
A pesquisa também revela quais são as principais atividades requeridas pela terceira idade. Entre elas, está o auxílio nos cuidados pessoais (74,1%) e acompanhar no médico, em exames, praças, parques ou em ações religiosas (61,1%). Embora todas as opções anteriores sejam importantes, a mais desejada por eles é monitorar ou fazer companhia dentro de casa (83,4%).
Giovani acredita que os idosos sentem sim falta de receber mais atenção e que, por menor que seja, já faz toda diferença para quem recebe. “Se o neto sentar ao lado e conversar nem que seja por 15 minutos, vai fazer diferença para os idosos, eles vão se sentir queridos”, analisa.
Outro exemplo que Giovani expõe é em relação aos sogros, que moram no interior de Santa Tereza e também já são considerados idosos. “Sábado é dia de ir lá, então se reúnem as três filhas, os três genros, os três netos e a casa fica cheia. Quando estou lá, sento no colo do meu sogro, brinco com ele. Até o ato de incomodar e brincar faz com que eles se sintam muito bem. Acho que isso faz falta: estar perto da família”, observa.
Cuidados em tempos de distanciamento
A relação do neto para com a vó Santina sempre foi de muita proximidade: abraços, beijos e aquele famoso colinho de vó. Entretanto, com a pandemia do coronavírus, que exige distanciamento social, principalmente de pessoas que fazem parte do grupo de risco, Giovani relata que, embora siga todos os protocolos de higienização, tenta não ter o mesmo toque de antes para protegê-la.
Com a situação, Giovani afirma que a vó fica sentida. “É difícil, porque sempre fui muito amoroso com ela, mas para mim (se pegar o coronavírus) talvez não aconteça nada, mas com ela, será que vai acontecer algo ou não? ”, questiona.