Quem anda por Bento Gonçalves, facilmente encontra grupos de ciclistas pedalando pelas ruas e avenidas da cidade. Essas cenas se tornam ainda mais evidentes para quem está indo em direção de rotas turísticas, como o Vale dos Vinhedos e Caminhos de Pedra, já que o interior é um dos destinos preferidos de quem faz uso da bike.
Dentro do município, os ciclistas têm, desde 2014, um espaço destinado para a prática do esporte: a ciclofaixa da Avenida Planalto. Entretanto, o uso é liberado apenas aos domingos e feriados, entre o período das 8h e 20h, motivo que gera muita reclamação entre os adeptos.
Em março do ano passado, em entrevista para uma reportagem do Semanário, o então secretário de Gestão Integrada e Mobilidade Urbana da época, Gilberto da Rosa, afirmou que “essa demanda realmente existe e é bastante justa, precisamos liberar a ciclofaixa em outros dias e horários. Nós vamos trabalhar para colocar isso em prática”. Entretanto, após um ano e três meses, nenhuma alteração foi feita.
O Analista de Custos, Márcio Secco, 34 anos, considera-se um usuário frequente da ciclofaixa. Ele, que pedala há cerca de dois anos, é um dos ciclistas que defende o funcionamento do espaço em outros dias também. “Liberar somente nos domingos e feriados é muito pouco para uma cidade onde tem centenas de praticantes. Deveria ser aberta permanentemente”, afirma.
De acordo com Secco, a ciclofaixa também é importante para que os usuários tenham segurança. “O trânsito está cada dia mais perigoso e dificulta muito. Além disso, proporciona a prática do esporte para todas as faixas de idade, gênero e tipos físicos, pois as pessoas não precisam se deslocar até o interior ou para outras cidades para pedalar”, argumenta.
Questionado sobre quais as principais demandas dos ciclistas, Secco, que costuma percorrer entre 500 km a 700 km por mês sob duas rodas, responde queainda faltam incentivos do município. “Melhorando a ciclovia, organizando eventos na região, dando maior suporte. É nítido o aumento de adeptos ao ciclismo na cidade. Temos uma região rica em belezas naturais e a bike é um meio de ligação espetacular entre esses lugares”, frisa.
Com a finalidade de aumentar a qualidade de vida, o eletricista automotivo, Andrei Tondo Rodrigues, 31 anos, começou a pedalar. Inicialmente, percorria aproximadamente 15 km usando a ciclofaixa da Planalto. “Peguei uma bicicleta que estava jogada no porão de casa e comecei. Confesso que não era fácil, pois o sedentarismo tinha tomado conta de mim”, relata.
Do início da relação com a bike para cá, já se passaram cinco anos. Porém, quando relembra do começo, Tondo admite que “a ciclofaixa da Planalto foi um bom ponto para o incentivo do esporte, apesar de ser pequena”, afirma. Também acrescenta que seria importante estipular horários para proibir o estacionamento de carros em cima da mesma. “Por exemplo, das 17 horas às 21 horas”, pontua.
Entre as demais necessidades que acredita sentir em relação ao esporte, Tondo cita a falta de competições no município. “Temos parques maravilhoso como a Fervi e Fundaparque, que podem ser locais de grandes eventos, incentivando ainda mais pessoas a praticar esse esporte, que para mim, não existe outro melhor”, analisa.
Já o contador, Diego Stello, 29 anos, que começou a pedalar por influência dos amigos, acredita que os destinos turísticos da região, onde muitos ciclistas vão pedalar, deveriam ser contemplados com ciclofaixas. “Para que outros ciclistas possam aderir o esporte e também alavancar o turismo do local”, ressalta.
Stello, que pedala até três vezes por semana, afirma que a maior demanda dos ciclistas ainda é a falta de infraestrutura para pedalar com segurança. “A ciclofaixa da Planalto é um projeto bem interessante, pois é bem sinalizada e de fácil acesso. Porém não é tão segura quanto deveria, porque muitos motoristas não respeitam o espaço”, opina.
O que diz a prefeitura
Questionado sobre porquê após um ano da promessa, nada foi alterado na ciclofaixa da Avenida Planalto, o secretário interino de Gestão Integrada e Mobilidade Urbana, Vanderlei Mesquita, afirma que houve um novo planejamento desta ação. “Possuímos várias demandas no trânsito que precisamos equacionar antes desta nova realidade. Estamos tratando de uma área que é o corredor gastronômico da cidade, com diversos estabelecimentos no entorno. A área recebe um número grande de veículos diariamente, podendo ser um problema para segurança dos ciclistas. São questões que precisam ser avaliadas antes de qualquer modificação”, responde.
Ainda sobre a chance da ciclofaixa ser liberada em outros dias, Mesquita afirma que a possibilidade existe, mas “com horários diferenciados do utilizado nos domingos e feriados”, afirma.
Já em relação a projetos para criar ciclovia/ciclofaixa nas rotas turísticas já mencionadas no início da reportagem, o secretário afirma esse é um objetivo do município há anos, mas que esbarra na necessidade de autorização do Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer). “Há um projeto em tramitação federal há anos, inclusive para uma ciclovia no Vale dos Vinhedos, realizado com empreendedores locais”, frisa.
Quando questionado sobre porque o município não investe em infraestrutura para atender o crescente número de praticantes do esporte e sobre a existência de outros projetos para atender os ciclistas, Mesquita destaca que o plano Diretor de Mobilidade Urbana sugere algumas ideias. “Sempre temos que lembrar que qualquer execução demanda muito cuidado, pois devido a nossa topografia e ao grande fluxo de automóveis, estes projetos demandam atenção especial com a segurança dos ciclistas”, ressalta.