Ações de aproximação com a sociedade bento-gonçalvense é um dos pilares de atuação do tenente-coronel Paulo César de Carvalho
Passo-fundense de naturalidade, mas bento-gonçalvense de coração. É assim que podemos definir o tenente-coronel Paulo César de Carvalho, comandante do 3º Batalhão de Policiamento de Áreas Turísticas (3º BPAT). Apesar de ter vivido boa parte da sua vida no Planalto Médio, escolheu Bento Gonçalves há menos de um ano para ser o seu lar. Mesmo estando há pouco tempo na Capital do Vinho, Carvalho sente-se em casa e revela como foi bem acolhido pela comunidade, bem como as ações do Batalhão, as conquistas e a atuação da tropa em prol da sociedade.
Quem é o tenente-coronel Paulo César de Carvalho?
Sou de Passo Fundo, porém, tenho raízes muito fortes em Bento Gonçalves. Minha família, por parte de mãe, quando chegou da Itália em meados de 1882, veio para Bento. A nona, Ignês Venturini, acabou indo para Passo Fundo onde casou-se com um alemão, de sobrenome Loss, e constituíram família. Lá nasceram os filhos, destes, minha mãe, que casou com um Carvalho de Lagoa Vermelha. Minha família aqui de Bento seria os Venturini e Ferrari, da parte alemã os Loss e por parte de pai os Moreiras, Rodrigues e Carvalhos.
Fale sobre sua carreira.
Servi o exército em 1985, em Quaraí, e naquela época já tinha ideia de seguir carreira militar. Fiz as provas para a escola de sargentos, acabei não passando por poucas questões e retornando para Passo Fundo já casado. Logo que saí do exército, fiquei pouco tempo na vida civil. Meu pai também era sargento da Brigada Militar, considero como uma herança de família, sendo o único dos irmãos a seguir na área. Em 86 entrei no curso de soldado, no 3º RPMon, em Passo Fundo. Um dado interessante é que entrei na unidade naquele ano e fiz minha carreira praticamente toda nela. Em 90 anos de história da unidade, sou o primeiro e único, pelo que eu saiba, que entrou como soldado e colocou a sua foto como comandante. É como entrar em uma fábrica, ser um chão de fábrica e chegar na cadeira de presidente. É um orgulho muito grande ter a minha foto no rol dos comandantes, de uma unidade antiga e que ajudou muito na minha carreira. Além disso, neste período fui um dos primeiros a trabalhar com informática no regimento. Em 1987, fiz o curso de cabo em Capão da Canoa e em 92 entrei na Academia de Polícia Militar. Passei para a faculdade de Engenharia Mecânica e minha ideia era trocar para Engenharia Eletrônica. Porém, nesse meio tempo passei para o curso de formação de oficiais. Então fiz um vestibular, fui aluno oficial em 92 e me formei em 95 aspirante oficial na academia. Fiz um vestibular na PUC que era muito concorrido, cinco mil candidatos para 90 vagas e consegui passar.
Entrando na academia cursei por quatro anos. Lá fomos moldados com princípios como liderança, o trabalho de policial militar, administração, administração pública, tanto que a gente sai formado de lá como bacharéis em segurança pública. Depois disso voltei para Passo Fundo como Aspirante, sai Segundo Tenente, Primeiro Tenente, Capitão, e fui trabalhar na então 5ª Companhia Independente Ambiental. Lá, criamos um Batalhão, na época, e a Companhia passou a ser o 3º Batalhão Ambiental da Brigada Militar, e tive a oportunidade de ser comandante. Saí Major e retornei para o CRPO Planalto onde tive as funções de chefe da inteligência, do setor de inteligência. Fui Chefe de Operações e Chefe do Estado Maior. De 2015 a 2017 fui subcomandante do 3º RPMon, e depois passei a ser comandante, como Major. Em 2019 que fui promovido a tenente-coronel e me deram duas opções: Vacaria ou Bento Gonçalves. O que pesou nesta decisão, em virtude que já tinham oficiais de tenentes-coronéis em Passo Fundo e não tinha vaga, foi que minha filha já residia em Bento. Neste momento inicia a minha história no 3ª BPAT. Cheguei ao município no mês de agosto de 2019, para conhecer a unidade e toda a sua estrutura, e assumi a partir de setembro do mesmo ano.
Quais os principais desafios em Bento Gonçalves?
Quando cheguei as estatísticas estavam com problemas, principalmente dos homicídios. Via como um desafio muito forte, pois estávamos com índices criminais de homicídios muito alto. Partindo de um trabalho muito forte desenvolvido na Brigada, e ações pontuais, de prevenção e repreensão qualificada, ou seja, usando o setor de inteligência e a força tática, especificamente direcionado em pontos específicos da cidade, nós conseguimos dar visibilidade ao policiamento. Percebi que as motos não estavam sendo utilizadas, não tinha uma Roncam montada: montei este grupo. Conseguimos, com ele, diminuir os índices de furto e roubo na área central. Paralelo a isso, implementamos o policiamento comunitário, pois até então não tínhamos uma base móvel comunitária. Implementamos este policiamento comunitário, fizemos uma negociação para renovação do projeto e Consepro renovado por mais cinco anos, aonde a prefeitura dá um suporte aos policiais militares, bem como para a Polícia Civil, que também foi blindada. Tudo isso trouxe mais motivação ao nosso efetivo.
Hoje, quando falamos em índices criminais, tenho quase todos eles equilibrados. Só estou com o furto um pouco acima, mas os demais estão todos abaixo, inclusive o homicídio que era um grande problema. Então hoje nós estamos com 10% menos homicídios em Bento Gonçalves. Era um grande desafio, mas, conseguimos diminuir estes números com um trabalho sério, técnico e com o apoio do efetivo.
União e parceria
Em virtude de ter sido soldado, tenho um grande carinho pelo meu efetivo. Vejo-os como companheiros e não como subordinados. Eles são parceiros, colegas, profissionais que trabalham fardados, um profissional da segurança pública. Tudo que faço neste Batalhão é para eles se sentirem bem. Percebo que eles trabalham muito mais em equipe, sinto que tem essa aproximação comigo, em virtude de saberem que já fui soldado, que já passei pelo que eles passaram. Sou da época de uma Brigada mais antiga, mais complicada. Hoje é mais tranquila, com viaturas novas, combustível disponível, fardamentos novos, armamentos de última geração.
Qual a importância do Consepro para a Brigada Militar?
O Consepro faz, inclusive, aquele suporte para o Estado. Quando há verbas o Estado manda, mas, muitas vezes, o Consepro vem para dar suporte a isso. Ele entra com a questão da rapidez, de agilidade. Muitas vezes não se recebe verbas de manutenção do prédio. O Consepro, assim como o Grupo Renascer, entra nos apoiando nisso. Ambos são muito importantes para nós, pois são formados por pessoas do bem, que estão voluntariamente trabalhando para que realmente a Brigada tenha suas coisas e que elas funcionem. O Renascer foi criado para ajudar o Pelotão de Operações Especiais, aí, na época, conversamos com o presidente e demos a ideia de ajudar a Brigada como um todo, tanto que o Renascer é da Serra, diferente do Consepro que é mais local.
O Coronavírus impactou na segurança de Bento?
Quando iniciou o coronavírus, tivemos a situação de que houve um aumento de arrombamentos, depredações, principalmente na área central. Tomando conhecimento disso, sentamos com os oficiais, e fizemos um planejamento especificamente para aquele local. Fazendo este trabalho nós conseguimos praticamente zerar os furtos e danos que estavam ocorrendo naquela área. Houve este primeiro momento, que a Brigada Militar deu um enfrentamento rápido e acabou parando. Vínhamos numa diminuição da criminalidade em Bento. Se o coronavírus ajudou ou não, não tenho um dado certo para afirmar. Diminuiu, sim, os índices, mas por todo o trabalho que já estava sendo desenvolvido ao longo dos meses.
Quais os cuidados que estão sendo tomados pelos servidores?
Logo no início, através da Secretaria Municipal de Saúde e de Segurança, por meio do Capitão Caetano, recebemos de imediato máscaras, álcool em gel e luvas. Fizemos toda uma higienização das viaturas, equipes da prefeitura sanitizaram o local. Todos os nossos servidores possuem máscaras de excelente qualidade, todos têm álcool disponível, assim como as viaturas. Houve uma mudança de comportamento, mas desde o início estamos nos cuidando. Isso pode ser um reflexo de que, por isso, não tenho nenhum problema na minha tropa. Dos 25 municípios de atuação, tenho somente um servidor afastado. Estávamos preocupados, pois não tem como nós, policiais, não termos contato com as pessoas. Temos que chegar na ocorrência, resolver, inclusive tocando na pessoa: quando ocorre uma abordagem, ao fazer uma revista. Achei que iríamos ter mais problemas, mas, por enquanto, está tranquilo.
Como está a segurança de Bento, se comparada a outros municípios?
Quando cheguei em Bento Gonçalves todos que me procuravam falavam que era inseguro e sempre bati na tecla insistindo que não. Já tinha as estatísticas daquela época, as ocorrências já estavam equilibradas e estavam baixando e isso comprovava estatisticamente que Bento era seguro. Nós tínhamos um caso pontual que eram os homicídios, mas, sabíamos que com um trabalho específico, mais direcionado, resolveríamos. Digo com todas as palavras: Bento é uma cidade tranquila, segura. Converso com várias pessoas da sociedade e da comunidade e elas se sentem seguras aqui. Vemos as movimentações das viaturas, muitas em lugares estratégicos. Tu vais passar por algum local e vai enxergar uma viatura, seja carro ou moto, pois os policiais estão em movimento e eles são planejados e organizados juntamente com nossos oficiais do Batalhão.
Que modelo de proteção está sendo aplicado em Bento? De que forma isso foi planejado?
Enfatizo o planejamento comunitário. A minha bandeira é o Policiamento Comunitário e o Proerd. Damos muita ênfase também ao trabalho da Maria da Penha, com grande parceria e aproximação com a Polícia Civil. A ideia do Policiamento Comunitário é esta, de aproximação com a comunidade. Estamos voltando aos poucos com esta proximidade, com todos os cuidados como o uso de luvas, álcool gel, máscaras. Quando for se resolvendo esta questão da pandemia, nossos PMs vão se aproximar mais da comunidade e ouvi-la, esta é a ideia. Sou uma pessoa que gosta muito de conversar com outras pessoas.
Quando cheguei em Bento achei que teria dificuldade, mas, aos poucos, a tropa foi conhecendo meu trabalho, assim como outras tantas pessoas. Estou muito bem inserido, tanto que temos hoje um grupo chamado ‘Amigos do 3ª Batalhão’, que se coloca à disposição, que são parceiros. Sempre digo que a polícia é um reflexo de sua comunidade, por isso falo que Bento Gonçalves tem uma policia de excelência, pois a comunidade fez com que ela fosse de excelência. Não estou atrás de poder. Tu faz isso com amor. Quero exercer minha função e ter o dever de dar uma resposta positiva para a comunidade e são estas respostas que temos de nossos PMs. Nunca fui de dar ordem, sou do convencimento. Tento convencer meu efetivo a prestar um serviço bom, de excelência, pois, se tirarmos a farda, também somos da comunidade. Temos esposa, parentes, amigos, família, então temos que ter esta empatia com as pessoas e saber que fazemos parte deste todo. Tanto que não tenho denúncias quanto ao nosso efetivo ser mal-educado, ao contrário, as pessoas sempre elogiam o trabalho e isso nos orgulha muito.
Como está hoje em dia o brigadiano?
Falando pelo efetivo do 3º BPAT, ele sempre esteve bem assistido, sempre tiveram apoio do seu comando, do meu como comandante e de nossos oficiais, nossos sargentos também dão todo o suporte. Existe uma parceria, um companheirismo. É bom ser brigadiano em Bento, tanto que recebemos servidores de outras cidades que têm interesse em vir para a nossa região. Nossos policiais são bem tratados e nos sentimos bem inseridos na comunidade.
Encontros com lideranças e comunidade. Como e quando isso ocorre?
Desde que cheguei em Bento estive muito envolvido com a comunidade. Vejo que tudo isso é de muita responsabilidade, pois é o momento que se ouve uma queixa e uma solicitação. É muita responsabilidade, pois tu deves dar o melhor de você para atender àquele apelo, seja de comunidade ou de empresários, com quem também tenho muito contato. Participei de muitas reuniões nas comunidades, em diferentes bairros. Não me interessava se tinha 10 ou 50 pessoas. Estava sempre preparado para receber elogios e críticas. Mas, por incrível que pareça, em todas as reuniões que participei antes da Covid só tive elogios e em todas elas as pessoas se colocaram à disposição para ajudar a Brigada, diferente de alguns locais em que tive a oportunidade de trabalhar. A comunidade de Bento é muito acolhedora e parceira.
O Caveirão e a sua utilidade
O Caveirão hoje, conversando com o comando, colocamos à disposição do Batalhão de Choque de Caxias do Sul, pois via mais como uma viatura para este tipo de trabalho. Devemos entender que nós, como Batalhão, somos um Batalhão de Polícia de Áreas Turísticas e assim a gente deve se comportar. Via o caveirão mais como uma excelente ferramenta em uma situação de choque, para ocorrência de mais vulto, então ela tinha pouca serventia aqui. Tivemos ocorrências de vulto que poderia ser utilizado? Tivemos. Mas, até mobilizar a situação já aconteceu, a gente precisa de agilidade. Então, colocamos à disposição para o Batalhão de Choque em Caxias do Sul. Em função disso, o comando nos acenou com duas camionetes, que hoje estão à disposição da Força Tática e que já estão sendo utilizadas.
Projeções para o BPAT
Estamos atingindo todos os nossos objetivos. Os projetos que estamos colocando aqui no Batalhão estão acontecendo. Temos outros que estamos projetando e vamos anunciar. Tudo que foi projetado teve envolvimento de nossos oficiais, praças, soldados, agentes, tenentes. São propostas projetadas em conjunto. Muitas coisas não decido sozinho, chamo o efetivo, converso com eles, ouço o que querem. Acho importante um comandante ouvir. Não haveria necessidade de ouvi-los, poderia decidir e ponto. Mas, não é o meu perfil. As pessoas possuem muitas ideias boas e essa troca de informações é importantíssima. Minha filosofia de comando também é aproximar a comunidade, é ouvir as pessoas, então a gente tem vários amigos que estão conosco. Hoje a gente tem uma Patrulha Rural, estamos dando atenção especificamente à comunidade rural. É uma atuação forte, em conjunto e que está dando resultados.