No que diz respeito à última década, a história da cultura urbana da Capital do Vinho se confunde e funde de maneira indissociável as do Nest Panos, coletivo de hip hop da cidade, e do Battle in the Cypher (BITC), um dos mais importantes festivais do gênero na América Latina, ambos idealizados e fundados pelos amigos e b.boys William Sarate Ballestrin e Pedro Ramon Festa, em 2009 e 2010, respectivamente. Apesar de levar em seu título o acróstico do coletivo, o documentário “Nem eu sei tudo”, que será lançado nas plataformas digitais na quinta-feira, 18, vai muito além de uma homenagem e um registro histórico dos dez anos de trajetória destas iniciativas, ao se propor a contar uma história bem mais ampla: a transformação promovida pelo hip hop na vida de quem vive dele, bem como na sociedade bento-gonçalvense em geral.


Com financiamento do Fundo Municipal de Cultura e assinado pela Ancora Produções, o audiovisual registra a fusão dos quatro elementos da cultura hip hop (mc, dj, break e o grafitti), por meio de material de arquivo e de cenas captadas ao longo de todo o ano de 2019. Além dos depoimentos do coletivo Nest Panos, a história conta ainda com a participação de outras personagens influentes no cenário hip hop, como a banda DaGuedes, Back Spin Crew, MC Miliano, os rappers Marcell Gugu, Síntese, Nego Max, PMC, o b.boy Onnurb e oo grafiteiro, Wagner Wagz, entre outros.


Em respeito às regras de distanciamento social necessárias para frear o avanço da pandemia de Covid-19, a estreia será online pelo portal nemeuseitudo.com.br, lançado no dia 28 de maio, onde já é possível conferir os teasers e o trailer oficial da obra.


Há oito anos na Nest Panos, a fotógrafa e produtora, Bruna Ferreira, quem sempre esteve por trás do planejamento dos eventos do coletivo e também das câmeras que registraram esses momentos, lembra que o documentário não busca retratar a história do grupo bento-gonçalvense, mas a dedicação de quem vive pelo hip hop e os retornos e transformações promovidas pela cultura.


Neste sentido, dentre todos os momentos vividos e captados ao longo do último ano, o que guarda com mais carinho ocupa apenas alguns segundos da produção. Foi uma conversa que teve com dois jovens no interior de Minas Gerais, onde eles contam o empenho dispensado para virem todos os anos até Bento Gonçalves para o BITC. “Um deles, por exemplo, vende doces, que a mãe ajuda a fazer, para conseguir dinheiro para a viagem. Assim que volta de Bento, já começa a fazer caixinha para o próximo ano. Fazer parte da vida das pessoas assim, a ponto delas acompanharem o que fazemos, é algo que não tem preço”, exclama.


Mesmo somado o fato de ser o primeiro documentário que dirigiu, além do trabalho de lapidar 113h de imagem — e uma década de história — em 51 minutos, para Fernanda Turchetto, responsável pelo roteiro e pela direção de fotografia e de som da produção, a experiência que fica vai muito além da questão profissional. “Não tínhamos nenhuma ligação com o hip hop. Além dos relatos, vivenciamos cenas que falam por si: coisas dando certo, outras errado, abraços, intervenções, crianças falando de cultura nas escolas. Acredito que quem assistir, ficará com aquela sensação de querer lutar junto com eles”, enfatiza.