Primeira etapa do estudo da Secretaria Municipal da Saúde que visa identificar assintomáticos detectou a presença do vírus em 3,6% dos voluntários testados
Exatos 4.336. Essa é a estimativa de bento-gonçalvenses já infectados pelo novo coronavírus, quando cruzados os dados da população da Capital do Vinho em 2019 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e estatísticas (IBGE) com os do levantamento “Epidemiologia da Covid-19 em Bento Gonçalves”, divulgados pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS) na quarta-feira, 3. O número é cerca de seis vezes maior do que os 708 casos oficialmente contabilizados pela pasta, no município.
Realizada entre o sábado, 30 de maio, e terça-feira, 3 de junho, a primeira parte do estudo que visa identificar assintomáticos da Covid-19 realizou 250 testes rápidos com pessoas de diferentes áreas de atuação, que lidam diretamente com o público, como profissionais da imprensa, do turismo, do comércio, de supermercados, além de religiosos ligados às igrejas católicas e evangélicas.
Dentre os testes rápidos aplicados, nove detectaram a doença, sendo que quatro dos infectados já estavam com anticorpos e cinco ainda contavam com o vírus ativo. Levando em conta a amostragem, 3,6% da população da Capital do Vinho já teve contato com o novo coronavírus.
Caso os números apresentados pelo levantamento fossem contabilizados oficialmente, Bento Gonçalves seria a cidade mais afetada em todo o Rio Grande do Sul, com três vezes mais casos que Lajeado, município no topo da lista de casos confirmados no estado até o momento. Já a incidência do coronavírus por 100 mil habitantes saltaria dos 548 atuais para 3.599. Além do dobro de Lajeado, a título de exemplo, a incidência seria mais de três vezes superior a registrada em São Paulo, município com mais casos confirmados no Brasil.
O resultado, porém, foi analisado como “dentro do monitoramento realizado”, pelo então secretário municipal de Saúde, Diogo Segabinazzi Siqueira, de acordo com publicação no site da Prefeitura. No mesmo texto, o prefeito, Guilherme Pasin, que viria a assumir a SMS com o pedido de desligamento de Siqueira solicitado no mesmo dia da divulgação do estudo, destacou que o resultado será tomado em conta para a aplicação de novas políticas públicas de enfrentamento a pandemia na cidade. “Com estes dados nas mãos poderemos ter mais embasamento para nossas ações e a segurança para nossa população. E assim, entramos em uma nova fase do nosso planejamento de ações contra disseminação da doença”, diz em um trecho da matéria.
Subnotificação é problema em todo Brasil
Como reflexo local de uma realidade nacional, os dados revelados pela pesquisa encabeçada pela SMS de Bento Gonçalves se assemelham a números mais abrangentes sobre a subnotificação em todo o país.
A possibilidade de que a população que já teve contato com o vírus na cidade seja seis vezes maior vai de encontro, por exemplo, ao estudo coordenado pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel), com financiamento do Ministério da Saúde, que aponta que o total de infectados no Brasil pode ser multiplicado por sete.
Um dos principais fatores para a subnotificação é a falta de testes. De acordo com levantamento da plataforma World o Meters, o Brasil testa 4.378 pessoas a cada milhão. Uma média 13 vezes menor que os Estados Unidos e 19 vezes inferior a da Espanha.