Pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI) aponta que perda do poder de compra já atingiu quatro em cada dez brasileiros desde o início da pandemia
O decreto municipal do dia 16 abril, autorizou que estabelecimentos comerciais de Bento Gonçalves trabalhem com atendimento ao público. Entretanto, mesmo com a medida em vigor há quase um mês, a efetividade das vendas está longe de retomar o ritmo em que estava antes da pandemia do coronavírus. A situação é relatada pelos comerciantes dos bairros do município.
Afim de entender como está a vida de quem – apesar de todas as dificuldades – tenta sobreviver mantendo aberto o comércio nos bairros do município, a reportagem do Jornal Semanário conversou com funcionários e proprietários. O relato da maioria é de preocupação com o cenário da economia brasileira em tempos de Covid-19.
Bairro Santa Helena
Ao iniciar a reportagem, no Bairro Santa Helena, uma comerciante, dona de uma pequena loja de roupas, preferiu não dar entrevista, porém, contou que decidiu fechar as portas do estabelecimento por não ter mais condições de mantê-lo aberto. Também confessou estar muito desanimada com a situação que está vivendo.
Em outra loja, a vendedora, Patrícia da Rosa, relembra que o ano tinha começado muito bem, tanto que definiu o movimento do estabelecimento como “perfeito” quando citou que estava vendendo muito. Agora, ela conta que o somente os consumidores mais antigos continuam comprando. “Caiu muito o movimento. Só clientes que não se preocupam com o orçamento do mês que ainda vem comprar”, afirma.
Além da queda nas vendas, Patrícia menciona outra dificuldade: a inadimplência aumentou durante esse período. “A gente liga para cobrar, mas os clientes não têm como pagar, estão guardando dinheiro para o caso de acontecer algo pior. Perdemos de vender e de receber também”, lamenta.
Há 18 anos com uma loja de eletrônica, a proprietária, Sedilane de Almeida, conta que as vendas presenciais caíram cerca de 90%. Agora, os clientes que continuam frequentando, são os que precisam de algum conserto. “Os clientes que vinham comprar não vêm mais”, constata.
Por um lado, se as vendas na loja física caíram, por outro, no modo online, tiveram um resultado diferente: cresceram muito. “Estamos trabalhando com e-commerce e as vendas dessa forma aumentaram bastante”, afirma.
Proprietário de uma loja de materiais de construção, Marlon Augusto Propodolski, também estava feliz com o início do ano, quando as vendas iam bem. “O pessoal estava construindo, reformando, enfim, até fevereiro estava bom, mas em março começamos a parar e deu uma caída”, relata.
Propodolski afirma que foi complicado fechar as portas da loja, porque automaticamente o faturamento também parou. Entretanto, aponta que embora ainda não tenha voltado ao movimento normal, não chegaram a ter prejuízos. “Não foi aquela queda que achávamos que seria, pensávamos que seria muito maior. Foi ruim sim, mas conseguimos manter a estrutura”, analisa.
Bairro São Roque
O casal Valdecir de Melo e Cibeli de Melo são proprietários de uma loja de vestuário e brinquedos infantis que há quatro anos está localizada no bairro São Roque. Como tiram o sustendo da família do mesmo estabelecimento, quando a loja fechou, ambos ficaram sem ter onde tirar renda.
Cibeli conta que se o comércio continuasse fechado, não sabiam se teriam dinheiro para comprar comida nas próximas semanas. “Foi bem desesperador porque a gente não tem reservas”, afirma. Porém, mesmo com o estabelecimento operando, estão sentindo dificuldades nas vendas. “As pessoas não sabem se vão ter o emprego ou todo o salário no mês que vem, estão com receio de fazer uma dívida e não ter como assumir depois”, analisa.
Bairro Botafogo
A proprietária de uma agropecuária e petshop, Margô Margarida Fleck Zanchetti, relata que os clientes estão indo na loja para comprar apenas o essencial: a alimentação dos animais. Embora a loja tenha oito anos, Margô afirma que essa é a maior crise já enfrentada. “O banho e tosa decaiu muito, em torno de 40%, foi o que mais reduziu. O pessoal está segurando”, frisa.
Durante a quarentena, o estabelecimento tinha autorização para funcionar, porém, apenas para a venda de alimentos. Ainda assim, o movimento era baixíssimo. “Tínhamos só 20% do movimento normal. Estamos aqui só para emergências mesmo porque a queda foi grande”, garante.
A realidade do sócio de uma vidraçaria, Valmor Polletto, não é muito diferente. Ele afirma que do último um mês e meio, faturaram apenas 15% do que costumavam faturar antes da pandemia. “Crise assim não tínhamos passado até agora, essa é a primeira vez que acontece. Bem complicado”, diz.
Polletto relata que a maioria dos clientes suspendeu os pedidos e que provavelmente a loja vai fechar por um tempo. “O povo está inseguro, muita gente perdeu o emprego. Aqui, vamos conseguir não demitir ninguém, mas provavelmente vamos parar um tempo e reiniciar quando passar essa pandemia”, conclui.
Perda total ou parcial da renda mensal atinge 40% dos brasileiros
Uma pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI), mostra que do total de entrevistados, 23% perderam totalmente a renda e 17% tiveram redução do ganho mensal, atingindo ao todo o percentual de 40%.
Além disso, a pesquisa mostra que o impacto na renda e o medo do desemprego levaram 77% dos consumidores a reduzir, durante o período de isolamento social, o consumo de pelo menos um de 15 produtos testados. Ou seja, de cada quatro brasileiros, três reduziram os gastos. Apenas 23% dos entrevistados não reduziram em nada as compras, quando em comparação com o hábito anterior ao período da pandemia.
Ainda de acordo com a pesquisa, a maioria dos brasileiros não estão dispostos a retomar o mesmo patamar de compras que tinham antes. Os percentuais desse comportamento no futuro variam de 50% a 72%, dependendo do produto.