Data comemorativa não será igual neste domingo para muitas famílias. Porquanto, outras celebram o primeiro ano de maternidade
O mês de maio chegou e, com ele, permanecemos em distanciamento social devido à pandemia da Covid-19. Com isso, não há como ter o domingo, 10, celebrando o Dia das Mães deste ano como de costume, com os tradicionais almoços em família, momento em que filhos presenteiam, abraçam e trocam carinhos com suas mães.
Mas como fazer com aquelas que estão a quilômetros de distância? Ou ainda, que moram na mesma cidade, porém o isolamento impede o contato físico? A reportagem do Jornal Semanário conversou com dois filhos que, infelizmente, não poderão demonstrar esse afeto de forma presencial.
Neide Fantin Scalco, 53 anos, é manicure e a penúltima de onze filhos de Cassilda Viel Fantin, 95 anos, que faz parte do grupo etário que mais corre risco com o novo coronavírus. Conta que a casa da mãe estava sempre cheia. “Ela passava o dia inteiro com visitas. Somos em 11 na família, nove vivas e dois falecidos. O Dia das Mães era o mais feliz. Na véspera, comprava torta, doces, ficava enlouquecida. Porém, este ano minha mãe nem sabe direito o que está acontecendo”, relata.
Ela comenta que como dona Cassilda não sabe mexer com internet, certamente as filhas nem poderão fazer vídeo chamada. “Domingo é o meu fim de semana de cuidar dela, provavelmente vou representar todas as filhas, por que a mãe não pode receber visitas. Está muito triste, pede pelas filhas e, nós, estamos de coração partido. Nunca mais vou reclamar por estar cansada de trabalhar, de não poder ter certas coisas. Temos que viver o hoje, e bem, se visitar mais e ficar mais com a família”, sublinha.
Adoção: uma questão de amor
Georgina Alves é a quinta de sete filhos de Arcelino Alves e Josephina Alves de Oliveira, ambos falecidos. Natural de Caxias do Sul e bento-gonçalvense de coração, aos cinco anos foi adotada pela prima de sua mãe Italina Frizzo Bertoletti. Sua mãe faleceu de infarto de forma precoce. Então, familiares e amigos se reuniram para ajudar a cuidar das crianças, até mesmo adotando as três menores por casais que não possuíam filhos.
Nisso, entra na história dona Italina, hoje com 93 anos, casada com Hulysses Bertoletti (in memorian). “Eles me adotaram num período muito difícil, pois de um momento para outro perdi mãe, pai e seis irmãos. Mais, iniciei uma nova família e a saudade era muita. Ganhei apoio, exemplo de uma vida com retidão, amor ao próximo e responsabilidade”, lembra Georgina.
Em 1969, ela se casa e dessa união nascem dois filhos e mais tarde vem três netas. Com a morte do pai adotivo, em 1993, a mãe Diva, como é conhecida, seguiu sua vida. “Ela sempre preferiu morar sozinha, viajar por vários países e estados. Até dois anos atrás fazia ginástica semanalmente com grupos da terceira idade. Vai às Águas Termais duas a três vezes por ano, gosta de caminhar e fazer passeios. Aprendi muito com ela, é uma grande mulher e um grande exemplo”, exalta.
Georgina relata que a celebração da maternidade antes da pandemia era muito animada. “Nos reuníamos com frequência, em almoços, passeios nos mais diversos locais turísticos junto aos netos e bisnetos”, lembra. “Agora neste dia das mães será bem diferente, mais isolados. Ela mesma, com sabedoria, diz: ‘temos que ficar isolados, é para o nosso bem. Não durará para sempre’”.
Para tentar amenizar a saudade, mãe e filha conversaram por vídeoconferência. “Ela está recebendo o nosso carinho e amor. Quando isso tudo passar, espero que seja logo, faremos um almoço e passaremos muito tempo juntas aproveitando cada segundo perdido”, finaliza.
A emoção do primeiro dia das mães
Mãe de sangue, de coração, de primeira viagem, mãe duas vezes. São várias formas de mães, mas o amor por seus filhos é único. Josiane Fagundes França Mello, 27 anos, vai comemorar seu primeiro Dia das Mães este ano. Ela e o marido Anderson Roberto Mello, 31 anos, há oito meses convivem com a alegria de ter a pequena Giovanna.
Josiane conta que a gravidez foi planejada e muito esperada. “Comentei com o Anderson que gostaria de ter dois filhos e que o primeiro viesse antes dos 30. Ele teve uma reação de espanto, tipo ‘vamos ter que acelerar’. E aconteceu”, lembra. “A bolsa estourou às 8h do dia 3 de setembro. Porém, no mesmo dia o Anderson tinha uma seleção de trabalho, mas mandou um e-mail avisando que não poderia ir. A gente estava apavorado, não sabíamos o que fazer muito bem. Ligamos para a médica, que nos acalmou e seguimos para o hospital”, lembra.
A aflição e o medo também tomaram conta de Josiane, mas a vontade de ver sua filha era maior. “Sempre quis parto normal. Logo internei e minha pressão, que normalmente é baixa, estava 16 por alguma coisa. Já fiquei preocupada que pudesse ter pré-eclâmpsia, mas não tive. Não tinha contração e nem dor, aí não tinha dilatação o suficiente. Passaram duas, três horas e nada, tinha dorzinhas, e nada. A médica ia e vinha, só tinha um, dois centímetros. Às 17h tinha apenas quatro. Então, para começar a dilatação e contrações, foi preciso induzir o parto com ocitocina. Aí sim começaram as dores fortes, uma atrás da outra. Não aguentava mais de dor, tomei analgesia para amenizar, mas nada de dilatar. A médica até sugeriu que fizesse cesárea, mas insisti no parto normal. Internei às 9h e a Giovanna nasceu perto das 4h da manhã do dia 4, com 3.325 Kg e 50 cm. Só acreditei quando vi ela nos meus braços. O Anderson sempre esteve do meu lado, me dando força durante a gravidez, no parto e na minha recuperação”, enaltece.
Chega a fase da escolinha. Hora de ver o filho dar os primeiros passos na educação. “Precisava voltar a trabalhar, não sabia se ela se adaptaria, porque é muito apegada a mim. Fizemos um teste e deu certo. Eu estava mais aflita do que ela, mas graças a Deus se adaptou muito bem. Hoje está com a boca cheia de dentinhos e logo começa a caminhar”, comenta.
Josiane celebra o fato de poder estar com a pequena ao seu lado, neste momento de pandemia. “É um amor sem igual, diferente de todos, a gente faz de tudo pra alegrar e amenizar a dor. Se não pudéssemos estar juntas, acho que seria aflição, muita saudade e uma vontade imensa de abraçar e beijar por um longo período. Agora, sendo mãe, eu entendo e dou mais valor ainda a minha mãezinha”, finaliza.
Foto: Franciele Zanon