Comunidade Terapêutica Rural se alia no combate à Covid-19 e produz sabão caseiro que é doado às famílias em vulnerabilidade social de Bento Gonçalves
De uma ideia de dentro do setor de Saúde Mental da Secretaria Municipal de Saúde para a concretização na Comunidade Terapêutica Rural, a produção de sabão está beneficiando muitas famílias em situação de vulnerabilidade social. Isso tudo em apenas duas semanas. Até o momento, já foram entregues 1.500 barras do produto.
Diariamente são produzidas pelos residentes, com supervisão dos monitores, uma média de 300 unidades. “Conseguimos os ingredientes com empresas parceiras e começamos imediatamente a produção. Adaptamos o espaço já existente para abrigar a ‘Oficina do Sabão’, instalamos uma pia, o maquinário, as formas e até um carimbo. Vamos patentear a nossa marca (risos)”, brinca o coordenador da Comunidade, Leonir Vivan.
O processo é o seguinte: dois quilos de sebo são derretidos no fogão à lenha. Após, são colocados em uma máquina para aquecer e transformar o sólido em líquido. Em uma segunda máquina são acrescentados os demais ingredientes (água, bicarbonato de sódio, soda cáustica, álcool e óleo de cozinha usado). A solução vai para a forma e fica um dia em descanso. Depois de três dias está pronto para o uso e cada processo rende cerca de 120 barras. “Todos os produtos são manuseados apenas pelos monitores de plantão, o residente só auxilia no processo”, esclarece Vivan.
O charme fica por conta das folhas de louro, sálvia, alecrim e alfazema acrescidas ao produto final. “Essas plantas são produzidas aqui mesmo, por nós. O sabão é neutro, então pode ser usado para louça, roupa e cabelo, sem agredir. Naturalmente que, quando é embalado para entrega, fica o aroma dos chás ou da flor, depende de qual vai”, explica o monitor Jucinei Basso.
Atualmente, 15 internos estão em tratamento. Daniel Batistin está há três meses na casa de acolhimento e se diz agradecido por ajudar quem precisa. “Me sinto muito útil porque quando precisei a casa me ajudou. Porque não retribuir? Além disso, ajudo outras pessoas lá fora, que precisam”, frisa.
Os integrantes recebem, durante cerca de seis meses, auxílio psicológico, psiquiátrico, enfermagem, clínico, participam de grupos de autoestima, além da colaboração de entidades. “Vejo como um grande corpo da sociedade. A comunidade é um dos membros e a cabeça é a solidariedade”, destaca o coordenador de Saúde Mental, o psicólogo Maurice Bouwary. Ele indica ainda que a produção deve continuar após a pandemia. “Queremos que esse processo prossiga para que colabore também com as unidades de saúde e as escolas”, pontua.
Vejo como um grande corpo da sociedade. A comunidade é um dos membros e a cabeça é a solidariedade. Maurice Bouwary, psicólogo
Transformando vidas desde 2011
O local é muito bem organizado. Há um interno designado para cada função dentro da casa. De acordo com Vivan, os pacientes participam de todas as atividades cotidianas, como limpeza, organização, alimentação e cuidado com os animais. “Aqui criamos um clima familiar. Temos tarefas e eles participam de todas. Realizamos o acompanhamento antes, durante e depois”, sublinha.
Além disso, um horto também fica sob guarda dos usuários. Mudas de árvores frutíferas e nativas são produzidas e encaminhadas à Secretaria Municipal do Meio Ambiente para arborização urbana.
Foto: Franciele Zanon Foto: Franciele Zanon
Localizada no Passo Velho, no distrito de Tuiuty, a Comunidade Terapêutica é a única no Brasil com atendimento totalmente custeado pela municipalidade. Os trabalhos são coordenados pelo Centro de Apoio Psicossocial Álcool e Drogas (Caps-AD), que realiza a triagem inicial e encaminha para tratamento.