Em meio ao pandemônio que é a pandemia do coronavírus, recebo mensagem que afirma ser esta uma boa oportunidade de os humanos aprenderem a ser mais humanos. Tomara que sim! Mas como tudo é muito relativo, desconfio que, passado este tsunami, Cristo vai voltar pros altares, assim como Maria e todos os santos invocados. E – pior – a empatia, que é colocar-se no lugar do outro – também vai pro brejo. As disputas e ofensas políticas que, mesmo em meio ao pânico geral, não pararam de acontecer, vão explodir feito vírus, logo que o surto e o susto passar. Acho que é de nossa natureza esquecer as lições da vida quando tudo anda bem.
Ou será que não? Se a aprendizagem acontecer na dor, nosso DNA pode criar laços afetivos e de efetiva humanidade? Ou depende da perspectiva de cada um? Como nunca vivemos isso antes, nestas proporções, só o tempo dirá.
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Revendo minha coletânea de crônicas dos últimos dez anos, encontrei o texto “A Síndrome do Porco”, de 2009, em plena gripe suína, provavelmente já publicado neste espaço. Ao reler, percebi a escrita despreocupada da época, apesar de alguns cuidados obrigatórios. No final, “me compreendi”. Segue:
“Dizem que, durante a era glacial, muitos animais morriam de frio. Os porcos-espinhos, numa tentativa de sobrevivência, juntavam-se uns aos outros para se manterem aquecidos. Mas, devido aos espinhos, começaram a se ferir. Aí, magoados, distanciaram-se, e muitos acabaram morrendo congelados. Então, tiveram de fazer uma escolha: ou aceitariam as farpas dos semelhantes ou desapareceriam da face da Terra. Sabiamente, optaram pela vida e aprenderam a conviver sem se machucar tanto. Parece que, ao pé da letra, a história se inverteu. Para a gente se manter viva, é preciso não apenas guardar distância dos espirros e fungadas, mas também da massa em geral. Aliás, afirmam os técnicos, prevenção esta que deveria ser aplicada diante de qualquer outra ameaça de infecção por vírus. Embora as autoridades garantam que a gripe A é tão ou menos letal do que a gripe comum, o povo já entendeu o recado: a pandemia mata. Resultado: estamos todos em polvorosa, monitorando nossos espirros e policiando os suspiros dos que nos cercam…”
Qual foi a grande lição? Gostaria de dizer que fiquei mais espiritualizada, mais evoluída, mais paciente, mais tolerante, semeando boas energias… Mas a consciência maior que tenho é da vulnerabilidade por ter entrado no grupo de risco.