Pelo que eu me lembro, os anos sessenta/setenta não voavam como hoje. No máximo, andavam a cavalo…
A tecnologia era muito primitiva. O Vale do Silício estava longe de se transformar no polo tecnológico mais famoso do Planeta.
Na moda, roupas espaciais, metálicas e fluorescentes compartilhavam o espaço com estampas psicodélicas. Aliás, o termo psicodélico nasceu na época, em função do estado mental provocado pelo uso de drogas alucinógenas como o LSD.
O homem ia à Lua. A mulher ficava por aqui mesmo, dando os primeiros passos em prol da liberdade tão sonhada.
Os Beatles surgiam revolucionando a música e Elvis tornava-se o ídolo do rock’n roll.
No Brasil, a Jovem Guarda fazia sucesso. Roberto Carlos era o bom, cabelo na testa, ele era o dono da festa. Vanderleia exibia sua ternurinha ao lado do Tremendão. Os grandes olhos verdes de Ronnie Von arrebatavam corações…
O movimento hippie mobilizava o mundo contestando o sistema. Woodstock reunia cerca de 500 mil pessoas em três dias de amor, música, sexo e drogas.
Mas no interior, tchê , ainda era “inverno”. A nova “estação” que arejava as ideias nos grandes centros, haveria de demorar anos ainda para chegar às cidades pequenas e vilas, onde imperava o machismo, inclusive nos bailes – as moças, se convidadas, tinham a obrigação de dançar três “peças”, ou corriam o risco de não poder fazê-lo com mais ninguém, na noite toda.
E é num evento desses que vamos agora adentrar…
André da Rocha City. A mocinha da cidade, que era bonita e dançava bem, chegou chegando. Mas na entrada, teve que se curvar para conseguir ultrapassar o vão da porta, já que um macho alfa com facão na cintura se atravessara com o braço esticado no alto. Ela passou por baixo do sovaco dele fingindo não vê-lo, ferindo a vaidade do rapaz, que então lhe metralhou: “Não te preocupa, que não quero dançar contigo”.
A guria tratou de seguir em frente rapidinho e se juntou a um grupo seleto que só paquerava os bonitos. Então quis o destino que outro moço não muito favorecido pela natureza se interessasse por ela, chamando-a para dançar. Ela foi, mas, de saída, preveniu: “Só danço três”. O cavalheiro se manteve impávido até o final da milonga. Assim que o gaiteiro fechou os foles, ele disse: “Obrigado! Eu só queria dançar uma”. E deixou-a no meio do salão.