Um levantamento realizado pela consultoria iDados aponta que os profissionais que cursaram uma faculdade levam mais tempo para conseguir uma recolocação profissional quando ficam desempregados. Em média, quem possui o ensino superior demora 16,8 meses – quase um ano e meio – para conseguir retornar ao mercado, enquanto que os trabalhadores só com o ensino fundamental levam cerca de 13,1 meses.
A consultora de gestão de pessoas na Mundi Desenvolvimento Pessoal e Organizacional, Bárbara Marçal, conta que percebe essa realidade em Bento Gonçalves e aponta um conjunto de fatores para essa situação: “salário, mudança das estruturas nas empresas, indenizações maiores e a questão de os empregadores se perguntarem por que aquela pessoa está tanto tempo parada”, cita.
Em relação ao salário, Bárbara acredita que os profissionais que tem formação acadêmica, quando saem de um emprego, geralmente vão em busca de outro com o mesmo nível salarial, mas nem sempre encontram, o que acaba atrasando o retorno ao mercado. “Quem tem ensino superior normalmente quer ganhar mais, quer o retorno do investimento. Algumas vezes, as empresas têm o mesmo cargo de atuação, porém com salário menor, então os candidatos repensam e não aceitam, preferem insistir em buscar uma recolocação do mesmo patamar e isso faz com que acabem demorando mais”, afirma.
Considerando que os brasileiros com ensino superior geralmente trabalham em regime formal, em caso de demissão, recebem indenizações – como a multa do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e seguro desemprego – portanto conseguem ter uma folga até buscar outra recolocação. Esse ponto também é percebido pela consultora. “As pessoas que recebem salários mais altos, quando são desligadas recebem indenizações maiores e muitas vezes optam por ficar algum tempo paradas, dando uma desopilada para retornar às vezes quatro ou cinco meses depois”, comenta.
Outro fator contribuinte, de acordo com Bárbara, é observado nos processos seletivos mais longos. Em alguns casos, o preenchimento de uma vaga que exige maior qualificação pode se estender por meses. “Para essas oportunidades, a tomada de decisão por parte das empresas é mais lenta porque elas não querem errar. Estou com um processo seletivo em andamento há dois meses, em que as pessoas estão participando das entrevistas. O salário é bem interessante e a empresa está muito cautelosa, por isso são várias etapas, o que acaba gerando essa demora”, exemplifica.
Ensino médio x Ensino Superior
Lilian Maira Barbosa Lins, 28 anos, estudou até o 2° ano do ensino médio. Há cinco meses ela está na busca por uma nova chance de voltar ao mercado de trabalho, mas relata estar sentindo resistência. “Está bem ruim de encontrar trabalho. Até tem vagas, mas às vezes não dão oportunidade. De repente é por conta da escolaridade já que sempre exigem ensino médio completo”, opina.
Antes de ficar desempregada, Lilian trabalhava na área de produção de uma empresa. Apesar das dificuldades, não perde a esperança de conseguir uma vaga. “A expectativa para esse ano é conseguir uma chance e até mesmo de crescer dentro de alguma empresa”, conclui.
Se por um lado, a não conclusão do ensino médio talvez faça diferença na hora da Lilian conseguir uma oportunidade, por outro, o currículo composto por uma vasta experiência profissional do jovem Bruno Albernaz Horta, 34 anos, também pode estar sendo uma barreira para ele se inserir no mercado.
Com o curso superior em administração de empresas praticamente concluído e anos de experiência na área comercial, o rapaz relata que está há seis meses na busca por uma vaga. “Não estou conseguindo me inserir no mercado de trabalho talvez por conta da minha experiência. Algumas empresas querem alguém que se desenvolva lá dentro. Às vezes uma pessoa muito pronta para exercer determinada atividade não é muito interessante por causa da rotatividade, eles acham que a pessoa vai entrar e logo sair”, analisa.
Embora enfrentando as adversidades mencionadas, Horta não vai desistir de investir na qualificação. Assim que terminar a faculdade tem planos de fazer uma pós-graduação. “É um investimento e a gente almeja ascender depois de se formar, mas muitas vezes não é assim”, diz.
Baixo índice de desemprego em Bento
O secretário de Desenvolvimento Econômico, Sílvio Bertolini Pasin, afirma que só em 2019 mais de duas mil empresas foram abertas na cidade, acarretando no aumento de quase 700 vagas de trabalho.
Para este ano, a expectativa para o município, de acordo com Pasin, é de no mínimo manter os mesmos índices do ano passado. “Embora seja um ano de eleições, que causa muitos entraves, acreditamos que vamos manter o crescimento. Ou seja, devemos ter mais duas mil novas empresas e em torno de 800 a 900 novos empregos”, afirma.
Segundo Pasin, o índice de desemprego no município varia na média de 2% a 3%. “Tecnicamente, índices abaixo de 5% são considerados como desemprego zero. O Sistema Nacional de Emprego (Sine) tem vagas sobrando. Se existe ofertas de empregos, não tem desemprego. O que pode é ter alguma pessoa que não está adaptada para aquela vaga, por vários fatores”, analisa.
Realidade econômica deve impactar nos empregos
O Ministério da Economia projeta uma melhora no desempenho econômico do país. As estimativas indicam que o Produto Interno Bruto (PIB) deve crescer em torno de 2,5%. Com isso, o professor e pesquisador do Instituto de Pesquisas Econômicas e Sociais da Universidade de Caxias do Sul (UCS) Mosár Leandro Ness, garante que o reflexo será sentido diretamente no mercado de trabalho. “A razão é que o empresário só irá contratar se tiver a certeza de que o trabalhador pague seu salário. Assim, se o nível de atividade cresce, leva a um aumento da demanda por mão de obra”, explica.
Ness afirma que o aumento das vagas de emprego pode sofrer variação, podendo ser mais ou menos sensível, dependendo do nível de agregação tecnológica. “Isso faz com que em uma economia com baixo nível de agregação tecnológica, os trabalhadores mais qualificados demorem mais para encontrar um novo emprego”, diz.
O pesquisador também garante que Bento Gonçalves irá se beneficiar do aquecimento da economia, na qual as áreas chaves do município devem apresentar uma taxa expressiva de crescimento. “O setor moveleiro está em expansão, tanto interna, quanto externamente. Novos mercados estão surgindo, como a Grã-Bretanha que já demanda móveis gaúchos. O setor turístico está plenamente consolidado e forma uma parceria com o setor vinícola. Por essas e outras razões o crescimento na demanda por trabalho deverá se consolidar e crescer”, afirma.
Sine
O coordenador do Sine de Bento, Jairo Antônio Alberici, afirma que a entidade tem cerca de 55 vagas de emprego, sendo a maioria para a prestação de serviços. De acordo com ele, o ano começou com baixo movimento, em decorrência do período de férias. “Temos atendimento médio de 140 pessoas por dia entre seguro desemprego e procura de vagas para trabalho. Acredito que até a metade de fevereiro já está normalizada a procura”, relata.
Alberici afirma que a expectativa para esse ano é recolocar a mão de obra no trabalho. “Espero que a partir de março realmente a indústria e comércio comecem a procurar mais trabalhadores”, conclui.