Ao todo serão 22 vagas ofertadas para jovens entre 18 e 35 anos; as inscrições seguem até o dia 28 de fevereiro
Além de uma troca cultural entre o povo trentino e os descendentes de outras partes do mundo, uma oportunidade ímpar para que os netos e bisnetos de imigrantes trentinos possam redescobrir e vivenciar as raízes e tradições de seus antepassados e conhecer a realidade da Itália hoje. É dessa forma e com esse intuito que a Província Autônoma de Trento promove mais uma edição de seu programa de intercâmbio para jovens descendentes de origem trentina do Brasil e de outros países. Os interessados devem ter entre 18 e 35 anos e podem manifestar seu interesse pelo e-mail circolotrentinobento@gmail.com.
Segundo Sandro Giordani, vice-presidente do Circolo Trentino — instituição que está à frente da divulgação da iniciativa em Bento Gonçalves —, diversos jovens de Bento Gonçalves e de cidades próximas como Flores da Cunha, Caxias do Sul e Farroupilha já participaram de outras edições, mas a presença mais massiva é de catarinenses. Por isso, destaca, o Circolo tem se empenhado em divulgar o programa e auxiliar os interessados. “Faz mais de 10 anos que existe esse intercâmbio e sempre apoiamos, mas de uns cinco anos para cá, temos trabalhado com mais ênfase, para que o pessoal tenha acesso às informações e conhecimento que existem essas vagas para que possam participar. Informamos todas as normas e o que precisa para se inscrever, deixamos tudo bem claro, orientando e esclarecendo qualquer dúvida pelo e-mail”, pontua.
Para assegurar a presença homogênea de jovens descentes e de residentes, entre os países e dentro dos próprios locais de origem, o programa admitirá 44 participantes, sendo 22 estrangeiros e 22 trentinos. O programa será dividido em duas etapas: em um primeiro momento, os selecionados de fora da Itália serão acolhidos lá e, em um segundo momento, os trentinos participarão de uma experiência semelhante em outros países. “É uma integração muito interessante, além de uma possibilidade de reencontro com as origens, afinal [os trentinos] foram alguns dos primeiros imigrantes a chegar a Bento em 1875 e no Vale dos Vinhedos, em 1876. O pessoal se envolve com outros jovens de lá da própria província e depois esses jovens também têm a oportunidade de nos visitar e conhecer nossa realidade. Vale mesmo a pena”, exclama Giordani.
O Programa garante uma contribuição de até €990,00 (aproximadamente R$4.600) para despesas de viagem e seguro de saúde. Alimentação e alojamento, de acordo com a fórmula de reciprocidade, são garantidos pelas famílias dos respectivos participantes. O período de inscrição vai até 28 de fevereiro, e o resultado será publicado até o dia 1º de abril, no site mundotrentino.net.
Termos para a apresentação da candidatura
Prazos
Para a apresentação da candidatura, o módulo deverá chegar à Estrutura provincial competente, no período entre 1º de janeiro e 28 de fevereiro do ano de referência.
Critérios de acolhida
Após o exame das candidaturas recebidas dentro dos prazos estabelecidos, a lista contendo os nomes dos 44 candidatos admitidos à edição de referência será publicada neste site, a partir de 1º de abril do mesmo ano. Em caso de exclusão, a candidatura poderá ser reapresentada no ano seguinte.
Critério de exclusão
Já haver participado de uma iniciativa análoga
O relato de quem já esteve lá
Guardado no álbum de fotografia e na memória, um brinde feito em novembro de 2019 ficará eternizado com carinho na história da turismóloga e tecnóloga em gastronomia bento-gonçalvense, Ana Carla Zandonai, 34 anos. Afinal, esse foi o momento que sacramentou o reencontro de 10 anos com os amigos e conterrâneos que conheceu na Itália durante um intercâmbio, que mais que amizade e histórias para contar, proporcionou uma verdadeira mudança na vida de todos os participantes.
Conforme conta, ela participou das duas primeiras edições do Programa organizado pela Província de Trento. Na primeira, em 2009, como uma das jovens de origem trentina selecionadas; e no segundo, em 2011, convidada pela Secretaria de Turismo de Bento Gonçalves, para acompanhar e guiar o novo grupo de selecionados da cidade.
Criado em 2009, o Programa de intercâmbio da Província de Trento foi uma das iniciativas que buscou estreitar os laços de Bento Gonçalves com Rovereto, Villa Lagarina, Trambileno, Nogaredo e Terragnolo, cidades que, neste ano, haviam renovado o Gemellagio — tratado de cidades-irmãs — assinado dois anos antes, com a Capital do Vinho. Na época, 12 jovens da Serra Gaúcha, entre eles Ana, foram selecionados para participar da iniciativa.
Nessa oportunidade, Ana e os colegas ficaram hospedados em um apartamento da Prefeitura em Pedersano, pequena vila localizada em um vale a sete quilômetros de Rovereto, cidade onde estudaria por três meses. Na época, prestes a se formar em Turismo, aproveitou a oportunidade para aprimorar os conhecimentos e o gosto pela gastronomia, os quais já vinham de família, estudando confeitaria, panificação e cozinha trentina, entre outros. “Meus pais tem um restaurante há 40 anos, então já era algo que eu vinha estudando. Fazia faculdade e também curso no Senac. Então fiquei muito feliz, me preparei para ir, fiz curso de italiano. Eu tinha 23 anos e era minha primeira viagem internacional, estava muito ansiosa, mas foi uma experiência muito boa”, assinala.
Em contrapartida, por quinze dias 12 jovens italianos foram recepcionados por cerca de duas semanas na Serra Gaúcha. Desses, dois estagiaram no restaurante da família de Ana, e os demais, em outros estabelecimentos da região. “Foi uma troca bem legal. Até no reencontro dos 10 anos, conversamos sobre isso, que ainda mantemos contado com essas pessoas, às acompanhamos nas redes sociais, enfim”, conta.
Na segunda vez, agora como guia convidada pela então secretária do Turismo, Ivane Fávero, Ana se hospedou em Roncegno, uma pequena comuna trentina, onde aproveitou para se inscrever em novos cursos da área. “Foram experiências muito amplas. Aprendemos muito, fizemos grandes amizades e nos sentimos acolhidos. Sempre falamos em nossos grupos de reencontro, que o que os vizinhos italianos fizeram por nós, não tem dinheiro que pague”, pontua.
Mais que a amizade, destaca que os intercâmbios ficaram marcados como momentos de direcionamento na vida dela e dos amigos. “Praticamente todas as pessoas que participaram, seja da primeira ou da segunda edição, estão trabalhando na área agora. Então é uma experiência que realmente valeu a pena, que trouxe ensinamentos que colocamos em prática. O intercâmbio foi fator definitivo para a vida que levamos. Então fico muito feliz”, explana. Nesse sentido, conta ainda, as portas que podem se abrir por meio dos contatos feitos em outro país. Dos 12 que participaram da edição de 2009, dois voltaram em 2010, para trabalhar em Trento por mais um tempo, antes de retornarem a Bento Gonçalves. Um deles, por fim, voltou à Itália pela terceira vez, após a oferta de emprego de um amigo que havia feito lá, e, desde então viva na terra de seus antepassados.