É difícil de acreditar, mas em Bento Gonçalves, nem a memória dos mortos está sendo respeitada. Uma série de furtos ocorreram nas últimas semanas mirando o cobre, a prata e outros metais valiosos que ornavam túmulos e jazigos em todos os cemitérios da cidade. A situação faz refletir sobre dois tópicos. O primeiro é sobre o tipo de situação que leva uma pessoa a violar o leito de descanso em busca de peças que valem alguns reais. O segundo é sobre quem teria a “cara de pau” de comprar tais peças, uma vez que esse não é um design que se encontra muito por aí para poder alegar que não conheciam a procedência.
O fato é que houve uma grande mudança cultural nos últimos anos. Os cemitérios, que eram visitados por grande número de pessoas durante todos os dias, e não só em datas especiais, estão cada vez mais vazios.
Além disso, a cremação, que poderia reduzir a necessidade de sepulturas e jazigos, ainda não é acessível para todos, além de também enfrentar resistências religiosas por parte de grande parte da população. Neste cenário, a construção e manutenção de necrópoles particulares tem avançado na Capital do Vinho. Restritas a pessoas com maior poder aquisitivo, na maior parte dos casos estes se tornam alvos fáceis à ação de bandidos, pois raramente são visitadas nos dias subsequentes ao furto.
Cemitérios deveriam ser espaços de respeito e consideração às pessoas que partiram e seus familiares. Infelizmente, o quadro atual não aponta nesta direção
Além destes fatores, o baixo número de denúncias a Polícia sobre as ocorrências também mascara e dificulta o combate. Segundo um levantamento do Semanário, cerca de 50 túmulos tiveram algum tipo de ornamento subtraído nos últimos anos. Entretanto, pouquíssimos casos foram devidamente registrados com Boletins de Ocorrências, e outros menos ainda tiveram algum tipo de desfecho por parte das autoridades. Possivelmente os furtos ocorrem à madrugada, quando a chances do infrator ser capturado são ínfimas, mesmo com o policiamento atuando pelas ruas.
O Poder Público já ventilou a possibilidade de instalar câmeras de videomonitoramento nos locais, além da chance de elevar o quadro efetivo que age nos cemitérios. A ideia pode surtir efeito, mas é preciso, porém, que a administração apresente acompanhamento destes índices, apontando locais problemáticos, providências tomadas e interação com a Polícia Militar.
Cemitérios deveriam ser espaços de respeito e consideração às pessoas que partiram e seus familiares. Infelizmente, o quadro atual não aponta nesta direção. Por mais que as atitudes das pessoas possam se alterar quanto a morte no futuro, os cemitérios não deixarão de existir, e cabe a nós cobrarmos e zelarmos por estes locais. Assim, o descanso de entes queridos poderá, efetivamente, ser eterno.