Recentemente, o governo argentino anunciou uma mudança no regime para a importação de mercadorias. A alteração, já publicada no Diário Oficial, torna ainda mais rigoroso o controle sobre produtos que entram na Argentina. Com o aumento dos tramites burocráticos, países vizinhos devem sentir dificuldades na hora de fechar negócio.
A medida adicionou cerca de 300 novos produtos à licença não automática, ou seja, mercadorias que não serão mais revisadas por meio de um sistema digital. Com isso, sobe de 12% para 14% a porcentagem de produtos que vão precisar de autorização prévia do Ministério do Desenvolvimento argentino para realizar a importação.
A mudança foi anunciada como uma forma de manutenção do Sistema de Monitoramento Abrangente de Importação (SIMI), criado em janeiro de 2018, para o gerenciamento e processamento de licenças de importação. Entretanto, o Presidente do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico (SIMMME) de Bento Gonçalves, Juarez José Piva, enxerga a alteração como “uma proteção disfarçada de papéis, um protecionismo de forma velada para controlar a importação”, define.
Piva relata que o governo de Alberto Fernández, está fazendo o que prometeu em campanha. E, cita a Venezuela como exemplo de país que já percorreu esse caminho. “Quem comprava aqui, tinha que pedir para o governo venezuelano liberar a exportação da mercadoria. Isso demorava dois, três, seis meses e o pessoal acabava ficando sem o produto lá. E, quem vendia aqui, já não tinha mais interesse em vender para eles. Quem ainda comercializava, colocava preços fora da realidade para não se prejudicar”, cita.
Setor metalomecânico
Piva afirma que a medida adotada pela Argentina afeta diretamente o mercado brasileiro e, principalmente do Rio Grande do Sul, considerado um dos maiores parceiros do mercado argentino.
Destaca também, que dois setores devem ser os mais atingidos com a mudança: metalomecânico e calçadista. “Nossa preocupação é com as máquinas que importamos bastante e que vão interferir muito. Com isso, as indústrias vão sentir essa retração pelo governo argentino”, aponta.
Caxias do Sul e Garibaldi, de acordo com Piva, são exemplos de municípios da Serra Gaúcha que devem sofrer com a nova medida. “Vai afetar muito no setor automotivo e nossa região vai ser diretamente afetada com isso”, acredita.
De acordo com Piva, o reflexo da alteração deve começar a ser sentido no Brasil entre fevereiro e março e alerta que pode gerar desempregos, uma vez que, com o aumento da burocracia e consequentemente da dificuldade de fechar negócios, as indústrias devem reduzir o processo de produção de mercadorias que eram exportadas.
Para os próximos meses, Piva afirma que os empreendedores devem procurar com urgência novos mercados, para compensar. “Isso não é algo tão simples. Para desenvolver um mercado externo tem que conhecer a cultura, os processos, o que cada um precisa, então temos que realmente trabalhar muito”, relata.
Setor moveleiro
Segundo dados do Sindicato das Indústrias do Mobiliário de Bento Gonçalves, o polo moveleiro não será impactado, já que não está entre os 10 maiores destinos de exportações do município.
Por outro lado, o RS, que possui mais de 2,5 mil empresas voltadas para o setor, tem a Argentina como o 4° maior destino das exportações, representando 8,2% da produção em novembro de 2019, segundo dados do Relatório Setorial da Indústria de Móveis do Brasil. Em função disso, o setor gaúcho deve sofrer alto impacto.
O Presidente da Associação das Indústrias de Móveis do Estado do Rio Grande do Sul (MOVERGS), Rogério Francio, aponta as implicações. “Mais burocracia na prestação de informações, inclusive sobre processo produtivo, incluindo o fato de que ouve um retrocesso no envio de alguns formulários que antes eram digitais. E, aumento de incertezas para o avanço da agenda econômica e comercial do Mercosul”, enfatiza.
Ações
De acordo com Francio, embora as alterações protecionistas estejam gerando muita preocupação para as indústrias moveleiras, o setor já está tomando medidas para suprir a demanda do mercado argentino.
Já o Presidente do SIMMME, Piva, relata que conversas com o Governo Federal já estão acontecendo. “O governo brasileiro já está se manifestando por meio do nosso embaixador. Esperamos que a Argentina tenha um lapso de inteligência e perceba que é um país com grande cultura, diversidade, possibilidades agrícolas”, finaliza.