No decorrer de minha análise dos problemas de corrupção no Brasil, teci algumas hipóteses. Estou retomando o assunto, para acrescentar alguns pontos relevantes que, da primeira vez, me escapuliram.
Começo com a Carta Magna de 1988. Na ocasião, o Dr. Ulisses (um crânio) sugeriu à Assembleia Constituinte o respeito pelos substantivos do texto; que os analistas ficassem à vontade para mexer os adjetivos, mas que não suprimissem as palavras que designam a substância.
Substantivo é, pois, a essência; o adjetivo, a maquiagem. Numa comparação grosseira, poderíamos dizer que o substantivo equivale à mulher ao sair da cama, pela manhã (em novela, não conta). O adjetivo é a roupa, a maquiagem, o sapato, o perfume e quaisquer outros detalhes que a transformam numa diva ou perua.
Seguindo este raciocínio, dá pra se imaginar que o mundo, sem adjetivos, seria só um Planeta. Nem azul, nem cinza. A humanidade, composta de gente, não importando se magra ou gorda, alta ou baixa, inteligente ou burra, boa ou má e suas infinitas gradações… Apenas gente.
Tudo preto no branco, sem impressões pessoais. Pão seria pão, e queijo seria queijo. Não haveria pão sírio, árabe, francês… Queijo cottage, minas, provolone… Simplificação absoluta… Perdão! Só simplificação.
Políticos corruptos? Nem pensar! Apenas políticos. Homens chifrudos e mulheres traídas? Nunca! Só homens e mulheres. Crianças birrentas? Jamais! Só crianças.
Sem adjetivos, as fofocas padeceriam de inanição. Os salões sucumbiriam. Os botequins bocejariam de tédio. Os advogados decretariam falência própria. Os puxa-sacos emudeceriam. Os egos implodiriam. Os casais não discutiriam a relação. O diálogo morreria. Os discursos se esgotariam em menos de cinco minutos. O dicionário sofreria um corte, e a gente se viraria com meia dúzia de palavras.
Ah! E os estádios de futebol! Seria um campo de paz. Algumas poucas expressões de xingamento ao juiz e ao técnico sobreviveriam através de substantivos. Mas não havendo torcedores fanáticos, os jogos não seriam competições acirradas, não desencadeariam discussões apaixonadas, ninguém ficaria absurdamente feliz, nem completamente desesperado, nem nada.
Malditos adjetivos!