Município apresenta elevação tanto na exportação, quanto na importação e saldo fecha em alta
Mais uma vez o ano foi de alta na balança comercial da Capital do Vinho. De acordo com levantamento do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviço (MDIC), entre janeiro e novembro de 2019, as exportações da cidade chegaram a US$ 77,7 milhões, um aumento de 12,69% quando comparado com o mesmo período de 2018. Do outro lado da balança, as importações registram uma elevação ainda maior: 14,45%, sendo que o total ficou em US$ 45,69 milhões. O saldo fechou em alta de US$ 32,01 milhões (cerca de R$128 milhões na cotação atual).
Se uma das explicações para o avanço em todos os valores pode estar no aumento de empresas na cidade com abertura ao mercado internacional — em 2019, o número de exportadoras chegou a 100, seis a mais do que no ano anterior; a quantidade de importadoras aumentou na mesma escala, chegando a 109 —, para o economista e professor do Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia (IFRS), Pedro Henrique de Morais Campetti, os motivos principais para o aumento nos dois campos nada têm em comum.
Sobre a elevação das exportações, o principal responsável seria a desvalorização do real. “Isso ocorre porque os produtos brasileiros se tornam mais baratos para o resto do mundo quando a moeda do país desvaloriza”, explica. Para ter uma ideia, em 2018, a menor cotação do dólar foi de R$3,14, chegando a uma máxima de R$4,20, enquanto que em 2019 a mínima e a máxima foram R$3,64 e R$4,26, respectivamente.
Embora, em teoria, essa ocorrência positiva para as exportações costuma causar efeito negativo nas importações, uma vez que o produto importado se torna mais caro, para Campetti, isso não aconteceu por dois motivos. “Uma grande parte dos produtos importados para Bento Gonçalves não são bens de consumo, mas bens intermediários ou de capital, necessários para a produção de outros itens. Então o próprio aumento das exportações ajuda a puxar as importações, pois muitos produtos exportados utilizam componentes ou matérias primas vindas de fora”, constata.
Principais parceiros comerciais
Segundo os dados revelados pela pesquisa, as modificações mais notáveis na balança comercial não respondem aos tipos de materiais negociados, mas aos parceiros comerciais do município. Entre os principais importadores, por exemplo, se destaca o avanço dos países sul-americanos, que praticamente dobraram seus valores saltando de US$6,52 milhões em 2018 para US$12,5 milhões em 2019. Entre eles, ênfase para a Argentina, que passou a representar sozinha 22% do valor montante de importações.
Mesmo com uma queda de US$1,73 milhões, a Europa segue como o continente que mais importa para a cidade. Sua participação, porém, caiu de 37,90% para 29,37%. Os dados revelam ainda abertura do mercado do Oriente Médio e América Central — os quais não foram citados na pesquisa anual anterior —, embora os números sejam irrisórios. Juntos, os dois continentes não representam 1% do valor importado pela Capital do Vinho.
Já no cenário das exportações, mesmo com uma leve queda de vendas para o mercado sul-americano, o continente segue como destino de mais metade dos produtos bento-gonçalvenses fora do Brasil. Os destaques ficam por conta da aproximação do mercado da América do Norte e da Europa, que cresceram 111% e 32% respectivamente. Embora Uruguai e Colômbia, com 29% de todo o valor, ainda sejam os principais compradores. Salienta-se o avanço dos Estados Unidos, o qual mais do que dobrou sua representação, passando de 4,6% para 10%.
Apesar dos números marcantes da Argentina e dos Estados Unidos poderem soar, em um primeiro momento, como resultado da aproximação diplomática e ideológica entre o então presidente argentino, Mauricio Macri, e o estadunidense, Donald Trump, com o brasileiro, Jair Messias Bolsonaro, na visão de Campetti, isso não teve influência no cenário econômico. “Esse aumento das importações da Argentina possivelmente é concernente à desvalorização do peso argentino que, em relação ao real, foi cerca de 41% em 2018 e outros 30% em 2019. Da mesma forma para os Estados Unidos. Nessa caso, a moeda brasileira desvalorizada contribui para o aumento das exportações de Bento Gonçalves para lá. Vale lembrar que recentemente o Trump disse que sobretaxaria o aço brasileiro por esse motivo: cotação”, finaliza.
Setores e produtos com maior movimentação
Um dos grandes responsáveis pelo saldo positivo da balança comercial foi a indústria moveleira, que representa mais de 50% de todas as exportações de Bento Gonçalves. Ao todo, o setor arrecadou US$ 39,06 milhões, o que corresponde a uma elevação de 13,11% em relação a 2018.
Segundo o presidente da Associação das Indústrias de Móveis do Estado do Rio Grande do Sul (Movergs), Rogério Francio, o setor tem vivenciado uma sequência de anos complicados, com patamares de produção inferiores aos apresentados em 2015. Nesse cenário, o atendimento ao mercado internacional se torna ainda mais relevante. “De uma maneira geral, 2019 não foi bom, mesmo que o câmbio tenha favorecido as exportações. Mas mesmo assim, o mercado internacional foi um dos grandes propulsores e as indústrias gaúchas têm se estruturado e preparado para atender esse comércio que cresce de forma acelerada. As empresas fizeram a lição de casa para poder suportar essa crise longa e se preparar para a nova realidade do mercado”, comenta. Para 2020, apesar de não citar números, Francio prevê crescimento nas exportações, com direito a incorporação de novos destinos internacionais.
Em antagonismo, o setor metalomecânico ainda é o que sofre mais dependência e concorrência dos produtos internacionais. No geral, cerca de um quarto de todas as importações foi direcionado ao setor, o que acarretou em um déficit superior a US$ 3,02 milhões. Para o presidente do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Bento Gonçalves (Simmme), Juarez José Piva, o resultado é uma mostra das disparidades produtivas das empresas nacionais quando comparadas a mercados mais ricos. “O déficit mostra o quanto precisamos importar devido ao custo Brasil muito alto e a defasagem tecnológica. Nossa baixa produtividade torna os nossos produtos muito fora do custo mundial”, assinala.
A boa notícia, porém, é que o cenário apresentou melhora em ambas as pontas quando comparado ao levantamento de 2018: queda de 3,48% nas importações; e elevação de 10% nas exportações. Para Piva, isso pode significar um sinal positivo de transformação. O tom otimista se estende também as previsões para 2020. “Almejamos um incremento na casa dos 8% em exportações. É uma meta ousada, porém estamos trabalhando e conquistando novos mercados. Esperamos que aprovem a reforma tributária, pois ela irá proporcionar mais competitividade tanto no mercado externo como no mercado interno”, prevê.
O produto mais importado, no entanto, nada tem a ver com o setor: se trata dos garrafões, garrafas e embalagens de vidro, com 14%. Apesar de ter caído para a segunda posição na lista, os cones de lúpulo secos ou frescos, que eram os líderes anteriores, apresentaram elevação de 1%, representando 12% das importações, comprovando o crescimento do mercado cervejeiro na cidade.