Articulação da classe produtora obrigou governo a ceder à pressão da indústria vinícola
Foi publicado no Diário Oficial da União da quarta-feira, 11, o preço mínimo básico da uva para a safra 2020. O valor inicial será de R$ 1,08 o quilo para o produto industrial, com 15º glucométricos, para os estados das regiões Sul, Sudeste e Nordeste, com vigência de 1º de janeiro a 31 de dezembro de 2020. O reajuste, do valor praticado em 2019 para o que será em 2020, foi de R$ 0,05 o quilo, o que representa 4,62%.
O presidente da Comissão Interestadual da Uva e do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Bento Gonçalves, Monte Belo do Sul, Santa Tereza e Pinto Bandeira, Cedenir Postal, afirma que os agricultores estavam bastante apreensivos, uma vez que, durante a Tecnovitis, havia sido divulgado o reajuste, porém, até que não fosse publicado, a preocupação era constante.
Ainda conforme ele, a ministra Tereza Cristina, representantes do ministério e das frentes parlamentares relacionadas ao setor, tanto gaúcha quanto nacional, sofreram grande pressão da indústria para que não houvesse o reajuste. “O aumento ficou acima da inflação, mas é importante que se diga que este é o custo de produção para o viticultor, ou seja, não há um ganho, apenas um empate. Estávamos reivindicando mais, mas consideramos esta como uma grande conquista da Comissão Interestadual da Uva”, pontua.
Para o presidente do Sindicato Rural da Serra Gaúcha, Elson Schneider, o medo que a pressão acirrada da indústria inibisse a reposição da inflação era grande. “Graças a nossa organização e articulação política houve um entendimento de que o valor inicial deveria ter a correção de acordo com a inflação e até um pouco mais, o que aconteceu. Foi uma conquista de todo setor. Mas é importante que se diga, o preço não é satisfatório. O ideal seria que estivesse entre R$ 1,30 e R$ 1,35”, destaca.
Segundo Schneider, há muito que se trabalhar para chegar ao patamar ideal. “Num passado não muito distante ficamos quatro anos sem sequer 1% de aumento, o que fez com que o preço ficasse tão defasado”, lembra. Ele sugere a modernização do cálculo, através da criação de um indexador, como ocorre com o soja, a carne e outros produtos. “Somente desta forma terminaríamos com esta especulação e com a expectativa dos produtores que todos os anos cria uma angústia no setor. Além disso, o índice facilitaria no mecanismo de gestão da propriedade”, finaliza.
O maior reajuste dos últimos anos ocorreu em 2019, quando o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento aumentou em 11,96% o preço mínimo da uva industrial. Na ocasião, o valor saiu de R$ 0,92/kg para R$ 1,03/kg, sendo que o mesmo permanece em vigor até o dia 31 de dezembro deste ano.