Com o seu desenvolvimento, as grandes cidades passaram a demandar soluções complexas de mobilidade, obrigando o poder público a priorizar projetos destinados à convivência segura entre os atores do trânsito. Mas persiste a vulnerabilidade de quem circula a pé. Mesmo com centenas de campanhas educativas e outras ações planejadas com tal objetivo, imperam condenáveis comportamentos de desrespeito ao elo mais frágil dessas relações travadas diariamente nas ruas e avenidas.
O início das obras de asfaltamento em dezenas de ruas e avenidas de Bento Gonçalves começou a produzir os efeitos desejados. Porém, outro problema mais grave, no trânsito reacendeu: a falta de respeito dos condutores para com os pedestres em sua faixa exclusiva. Os vexames são constantes, tanto numa avenida como na outra.
A gestão do trânsito em qualquer grande concentração urbana implica, obrigatoriamente, em disponibilidade de espaço físico, engenharia de trânsito, tecnologia aplicada ao tráfego, disciplina dos guiadores, sinalização eficiente e fiscalização rígida para conter os abusos. Em Bento Gonçalves, inexistem boa parte desses pré-requisitos, por conta da desordem há muito enraizada.
O desrespeito à faixa de pedestre é o mais grave como parte da conduta exigida do motorista por colocar em risco, sem quaisquer defesas, o transeunte. Essa proteção, embora antiga, nunca foi posta em primeiro plano, assim como o uso de luz baixa, da sinalização e dos limites de velocidade. As consequências decorrentes dessa tolerância se projetaram em milhares de vida desaparecidas nos acidentes de veículos. Só na Capital do Vinho, a média de pessoas atropeladas é de 32 ao ano, alguns acidentes com vítimas fatais.
Um dos melhores parâmetros para se mensurar o nível de desenvolvimento de uma metrópole é seu trânsito. Aplicado esse critério em Bento, tem-se como certo um atraso considerável. Aqui não precisa muito esforço para se flagrar veículos estacionados em fila dupla, em cima de faixa de pedestre, de calçadas, em locais proibidos e com condutores operando telefones celulares.
A sinalização é letra morta para expressivo grupo de motoristas, para quem a via pública corresponde a seu domínio particular. A legislação urbana limita o volume de barulho de carros de som ou de estabelecimentos comerciais, durante o dia e à noite, sendo os veículos passíveis de recolhimento ao depósito do Detran e o próprio comercial interditado. Contudo, essa violação escola aqui.
Sabe-se que mudar hábitos educacionais não é meta alcançável de um dia para o outro e, tampouco, atingível com ações que não tenham prosseguimento. Várias cidades, por vezes, deram início a boas campanhas de conscientização, a fim de proporcionar ambiente mais harmônico. Pouquíssimas, contudo, tiveram continuidade por falta de investimentos ou alterações bruscas na gestão do trânsito. E quando não é dada sequência aos projetos, a população não consegue absorver a mensagem dos ensinamentos e repete erros primários.
Bento Gonçalves bem que podia seguir exemplos que deram certo, mobilizando equipes de fiscalização de trânsito, ao longo do dia, para condicionar os guiadores no respeito à vida humana quando atravessando faixas de pedestre. Medida dessa ordem exige, antecipadamente, tolerância zero para com infratores, atuação continuada e demonstração de força no cumprimento da lei.