Com um média de crescimento de 12,3% ao ano, Brasil já é o quarto país do mundo em consumo de alimentos saudáveis; a mudança de hábitos e do mercado também já é percebida por empreendedores que apostam no segmento na Serra Gaúcha
Se a pressa dos tempos modernos, a publicidade em massa e um estilo de vida sedentário levaram à popularização das redes de fast food e a expansão de produtos ultra processados, alavancada pelos problemas de saúde e uma mudança de hábitos, toda a rede de alimentação parece estar se transformando. De menus de restaurantes às prateleiras e freezers de supermercados, a presença de pratos e ingredientes saudáveis está cada vez mais presente. Para além da mera impressão, essa mudança também reflete em números.
Segundo levantamento recente da Euromonitor, agência internacional de pesquisa de mercado, com um crescimento de 12,3% ao ano, o Brasil já o quarto país do mundo em consumo de alimentos saudáveis.
Outros dados relevantes também foram apresentados pela Associação Brasileira de de Franchising (ABF). De acordo com o estudo apresentado no Seminário Setorial de Food Service, em junho deste ano, em São Paulo, as franquias especializadas em comida saudável já representam 7,8% do mercado nacional, ficando à frente, por exemplo, de pizzarias e grelhados. E, no que depender, de prospecções, esses números só tendem a crescer, uma vez que a saudabilidade (alimentos sem glúten, baixo sódio e clean label) aparecem com 60% como maior tendência de mercado para 2019.
O mercado na Serra Gaúcha
Embora ainda não existam levantamentos regionais detalhados, tanto o aumento do público quanto de mercado são indicativos atestados por diferentes empreendedores da Serra Gaúcha. De restaurantes à lojas especializadas, a opinião é de que a busca por alimentos mais saudáveis é uma tendência em alta e que deve seguir em expansão.
Proprietário da Santa Seiva, uma das pioneiras em produtos naturais na cidade, Maurício Medeiros do Amaral atesta esse crescimento, que se traduz tanto em demanda quanto em investimento de mercado. Segundo ele, se comparado com 2010, quando seu negócio abriu as portas, tanto o número de clientes e também os tipos de produtos ofertados duplicaram. “Acho que chegamos em um limite da comida ruim. As pessoas não suportam mais comprar lasanha de caixinha, frango industrializado e ultra processado, esse tipo de comida. Isso começou a dar muitos problemas de saúde. As pessoas perceberam e não querem mais. Então estão voltando a busca pela comida natural”, opina. Prova do sucesso pessoal e do setor, Amaral destaca que está prestes a abrir uma nova empresa da área, um restaurante, na próxima semana. A ideia será ofertar três pratos prontos diários. Um com foco em diate vegetariana e vegana, outro lowcarb e um de comida caseira saudável.
Na área da gastronomia, outro exemplo de sucesso é o Amora, restaurante com cinco anos de história que acaba de mudar de proprietário. Formado em culinária há 15 anos, Vicente Sperotto Chies conta que o público cativo do local e a percepção dessa mudança de hábitos alimentares foram os incentivos para que se sentisse seguro em investir na compra do local, bem como em realizar, finalmente, o sonho de trabalhar com comida, posto que acabou tomando outros rumos após se graduar. “As pessoas estão adotando um estilo de vida mais saudável, estão tomando consciência da saúde e vendo que a alimentação possibilita levar uma vida melhor e por mais tempo”, resume.
Para além do hortifruti
Se por muito tempo, alimentação saudável era apenas sinônimo de legumes, frutas e verduras, com uma maior consciência da população, essa ideia foi ficando no passado. Hoje, os produtos já não se restringem ao setor de hortifruti. Ocupam, cada vez mais, as prateleiras dos mercados e também os freezers.
A busca por novas opções que levou até as gigantes do fast food como McDonald’s e Burger King a apostar na oferta de produtos para vegetarianos, também abriu espaço para novas ideias de negócio como a Tensei, fábrica farroupilhense de congelados veganos.
Criada, inicialmente, para a venda de produtos artesanais, a empresa mudou de patamar em 2017, quando foi comprada por Thiago Guerra Diniz e sua esposa. Com a ideia de profissionalizar a empresa, o casal resolveu investir em uma nova linha de produtos: com quatro opções de hambúrguer, dois de nuggets e três de salsicha. Todos feitos com combinado de pelo menos um tipo de legume, um grão e uma semente.
A ideia, segundo conta Diniz, foi ofertar produtos que fugissem do que já havia no mercado, bem como atender a nichos mais específicos de público. “Percebemos que grande parte do que existia para substitutos de carne era a base de soja. Então, vendo que o mercado negligenciava um grande público, começamos a remodelar nosso produtos. Fazemos tudo 100% vegetal, sem soja, sem glúten, sem conservantes e livre de transgênico. Quanto mais inclusivo o alimento, mas gente ele pode atender”, sublinha.
A aceitação dos produtos se confirma também em receita. Comparado ao último ano a empresa cresceu 320%. E a tendência é que o número seja ainda mais expressivo no próximo ano. “Hoje atendemos lojas e atacadistas do Rio Grande do Sul. Até o fim de 2020 a meta é ter nossos produtos em todos os estados do país”, adianta.
Bom para a saúde
De acordo com estudo recente da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), um em cada cinco brasileiros está obeso. Segundo a organização. o problema poderá reduzir o PIB do país em até 5% nas próximas três décadas, e diminuir a expectativa de vida em 3,3 anos. Embora sem dados capazes de abranger toda população, os números da Secretaria Municipal da Saúde sobre a obesidade na idade escolar, dão a entender que a situação pode ser ainda pior na Capital do Vinho. Quatro em cada 10 crianças e adolescentes com mais de sete anos estão acima do peso na cidade.
Apesar da obesidade ser o maior problema quando falamos em alimentação, a nutricionista Tatiana Godoy explica que a uma dieta equilibrada pode evitar uma gama de outras enfermidades. “Diabetes, hipertensão, doenças cardiovasculares, refluxo, falta de energia. Tudo isso pode ser ocasionado por causa de uma alimentação inadequada”, enumera. Segundo ela, mesmo assim, o ideal, quando possível, é evitar dietas restritivas. “O melhor é reeducar a alimentação, aprendendo a escolher alimentos para se manter saudável”, destaca.