Hábitos de vida mais saudáveis estão entre os principais motivos para o aumento do consumo dos vinhos produzidos em harmonia com o meio ambiente e que dispensam o uso de agrotóxicos
Uma recente pesquisa da Wine Intelligence, consultoria britânica especializada no mercado de vinhos do mundo, aponta algumas características para 2019. A busca por uma vida mais saudável, exercícios físicos e alimentação equilibrada, com o mínimo de intervenção química e livre de agrotóxicos, é uma tendência recorrente em países como Estados Unidos, Reino Unido, Austrália e Alemanha.
Algo que se reflete em boa parte do mundo, a começar pelo consumo de vinhos. De acordo com a empresa, o vinho orgânico representa cerca de 2,8% do mercado mundial e a comercialização de rótulos cresceu 20%, em média, nos últimos cinco anos.
Quando se fala em vinho orgânico, pretende-se dizer que são aqueles feitos a partir de uvas de cultivo orgânico. Da mesma forma, os vinhos biodinâmicos e os naturais. O que os diferencia é o processo, as etapas pelas quais cada um é tratado até chegar à garrafa que estará em sua casa e lhe permitirá desfrutar do sabor dessa bebida tão tradicional.
Legislação específica
O produtor de vinhos orgânicos e biodinâmicos, Hélio Marchioro, explica que para a legislação não existe diferença. Segundo Marchioro, embora os vinhos orgânicos e biodinâmicos tenham como matéria prima uvas cultivadas sem aditivos químicos e conservantes, ainda assim, na etapa posterior da produção do vinho, esses produtos podem estar presentes. “Hoje a legislação permite que você faça o vinho orgânico, a partir da uva orgânica, mas no sistema convencional. O produtor de vinho orgânico poderá ser uma cooperativa que recebe a uva orgânica e elabora o produto. Não quer dizer que a fermentação seja espontânea e sem aditivos.”, afirma o produtor.
Marchioro resgata o debate sobre a necessidade de uma legislação específica do governo federal para os vinhos orgânicos, que poderiam ser encaixados junto aos produtos artesanais, sugere. Revela que os produtores estão trabalhando para que haja a diferenciação, ou seja, que um vinho feito a partir de uma uva orgânica e biodinâmica, num sistema sem aditivos, seja tratado de acordo com o seu processo específico. Cita o exemplo da recente Lei do Queijo Artesanal, de autoria dos deputados Zé Silva (Solidariedade-MG) e Alceu Moreira (MDB – RS), que regulamenta a produção e comercialização de queijos artesanais no país e internacionalmente, desde que seguindo os critérios de inspeção sanitária do país que receberá a importação.
Os mais vendidos
A Analista de Marketing, Aline Lazzari, da Vinícola Garibaldi, uma das principais representantes na produção de vinhos orgânicos da região sul do país, diz ter um trabalho bastante focado na representação, pois o consumo da bebida está dentre os principais atrativos, principalmente para os turistas que visitam a cidade.
As duas marcas produzidas pela vinícola, uma de espumantes e outra de vinhos, recebem o método tradicional de fermentação dentro da garrafa. “Tem muita gente querendo entrar nesse mundo, querendo saber o que é”, comenta Aline. Ela diz que no ano passado, a vinícola recebeu em torno de 112 mil turistas, atendendo tanto visitantes do território nacional quanto internacional, principalmente em julho e no final do ano, épocas de fluxo maior de pessoas. A bebida mais vendida é o espumante, com destaque para o Moscatel, que já rendeu para a vinícola destaque entre os produtos mais premiados do mundo, nesse segmento.
Orgânicos e biodinâmicos
Em se tratando de vinhos orgânicos e dinâmicos, ambos trabalham com a uva orgânica, porém, o tratamento é diferente. Quem explica esse processo é a agrônoma especializada em Agricultura Biodinâmica, Lara Silvestrin. Conforme a especialista, o vinho biodinâmico, necessariamente orgânico, precisa cumprir com todas as exigências legais da produção e processamento de uvas orgânicas.
Além disso, segue os direcionamentos de produção e processamento Demeter, que são normas internacionais, revisadas anualmente, ainda mais restritivas para uso de insumos agrícolas, como defensivos químicos e adubos. São normas que estipulam limites e práticas necessárias para garantir os princípios da agricultura biodinâmica em sua prática. Ou seja, um organismo agrícola equilibrado através de preparados biodinâmicos, calendário astronômico, elaboração de composto próprio entre outras, além de manejos que favoreçam a interação benéfica entre os reinos mineral, vegetal, animal e humano.
Já os vinhedos que produzem o vinho orgânico dispensam todos os tipos de pesticidas, fungicidas ou qualquer outro agrotóxico. Nessa atividade, mesmo os fertilizantes são substituídos por adubo natural. Os primeiros vinhos orgânicos do mundo foram produzidos pelos americanos naturalistas da Califórnia. Após 30 anos, chega a vez dos europeus. Já na América Latina, destaca-se o chileno Cristóbal Undurraba, um dos pioneiros dessa forma de cultivo. Para ele, no futuro, os melhores vinhos serão os biodinâmicos.
Público consumidor
Ao falar do público que mais procura os vinhos orgânicos e biodinâmicos, Lara Silvestrin traça o perfil desses consumidores. “Podemos afirmar que o nosso público Alvo são (ou serão) a geração X (36 a 52 anos), um público responsável e que prioriza a qualidade de vida na alimentação. Especialmente mulheres que buscam uma alimentação saudável e balanceada, com mais valor energético, pertencente as classes sociais B e C. Também como público secundário, não podemos esquecer a geração Baby Bommers (52 a 70 anos), um público que continua cuidando da alimentação e é economicamente ativa”, revela a agrônoma.