Preservar a história de um clube com 100 anos nunca será uma tarefa fácil, ainda mais quando a fundação foi feita em uma época em que o acesso a esse material era restrito, ao contrário dos tempos atuais. Imagine ser mantedor de um grande acervo em sua casa, alguns inéditos, como por exemplo, as mais de 100 camisetas do clube pelo qual torce, o da sua cidade, no caso do Esportivo. Além disso, ajudar de forma voluntária a receber os adversários nos vestiários a cada jogo no Estádio da Montanha dos Vinhedos, desde sua inauguração e ainda trabalhar com as categorias de base. Os personagens em questão são pai e filho, Moacir João Menegotto e Maicon Menegotto, que juntos guardam passado, ajudam o presente e o futuro do Esportivo.
Moacir frequentou o antigo Estádio da Montanha, tornou-se sócio do clube em 1964. A cada jogo do Esportivo, estava lá, seja na chuva ou com sol quente, torcendo pelo clube contra seus adversários. Paixão pelo Alviazul, que passou anos depois para seu filho Maicon, também frequentador assíduo da antiga morada do clube bento-gonçalvense.
O afeto com o Esportivo fez com que Moacir passasse a ser um colecionador, detalhista de cada momento que o clube teve ao longo de sua história, algo que está preservado até hoje. Em uma pasta, é possível encontrar recortes antigos de jornais com matérias de jogos importantes, ingressos, carteirinhas de sócios, sua e do filho. E é claro, um acervo de camisetas de dar inveja aos maiores colecionadores e torcedores do Esportivo.
Material guardado, documentado e que Moacir descreve com orgulho. “Tenho camisetas, faixas, fotos antigas que nem mesmo o clube tem. Até da colocação do gramado da nova Montanha, eu tenho. Todos os uniformes sempre ganhando das pessoas e dos ex-jogadores, algumas delas autografadas. Algo que só eu tenho na cidade, posso dizer com orgulho que parte da história está aqui”, indica.
Destas camisas históricas, algumas guardam um carinho especial do aposentado, torcedor do centenário esportivo. “A camiseta que mais me marcou foi do Alceu, campeão do interior em 87, inclusive com a faixa. Ele voltou várias vezes para Bento e sempre conversava comigo, me dava camisas do clube que estava trabalhando. E da Volnei Caio, também, uma grande pessoa. As duas autografadas, tenho orgulho delas”, menciona.
Desde 2005, com a transferência para a Montanha dos Vinhedos, pai e filho, de forma voluntária, recebem os times adversários nos vestiários. Em virtude disso, Moacir não sobe mais até o gramado para assistir os jogos. Segundo ele, mesmo abalada por motivos que prefere não revelar, a paixão pelo clube pelo qual torce desde pequeno se mantém viva. “Tinha algo muito forte, hoje, não assisto mais jogo, fico dentro do vestiário, prefiro ouvir pelo rádio. Minha história é feita no clube, mesmo que algumas pessoas não mereçam e vejam isso de maneira errada. Eu respeito a camisa do Esportivo, e me honra estar até hoje ajudando. Ter guardado e cuidar de todo esse acervo mostram isso, e ninguém vai apagar”, exalta, emocionado.
Filho mantem a tradição
Com relação a preservar todo o material de anos obtidos pelo pai, principalmente as camisas, Maicon, também revela um grande apreço. “Não vendo e não troco. Muita gente já pediu, mas todas eu tenho um carinho enorme. É o clube da minha cidade, do meu coração. Cada registro é algo de um momento que é histórico para o time e para nós, torcedores”, sustenta.
As camisetas históricas do Esportivo estão guardadas em um local com paredes de pvc, revestidas, sem frestas, o que impossibilita a entrada de bichos. Contam também com ventilação, são colocadas em cabides e em ordem cronológica.
Além de ajudar na preservação do material, Maicon acompanha o pai nos vestiários dos visitantes e trabalha como preparador de goleiros das categorias de base do clube. Ações que ele descreve assim: “É um orgulho muito grande. É um trabalho e torcida ao mesmo tempo. Somos os primeiros a chegar e os últimos a sair nos dias de jogos. E com os meninos, a gente sonha ver alguns deles vestindo a camisa do profissional do Esportivo, depois de outro grande clube daqui ou da Europa, seleção brasileira, porque sabe que isso será fruto também do nosso trabalho”, exalta.
Cuidando dos vestiários e dos portões da Montanha dos Vinhedos, acompanhou momentos bons e não tão agradáveis, como lembra. “2004 e 2012, campeão da Copa RS, segundona. E claro esse ano, no centenário. O triste, um deles contra o Cerâmica que acabou não subindo e 2014, quando caiu foi muito triste acompanhar toda aquela campanha bem abaixo do que esperávamos”, confessa. Sobre o que representa o Esportivo em sua vida, Maicon foi simples. “É o clube na minha vida e que guardo tudo com maior carinho”, ressalta.
Fotos: Guilherme Kalsing