É época da uva, do pêssego de Pinto Bandeira, do morango de Bom Princípio, da melancia gaúcha, aquela grandona, do abacaxi de Terra de Areia, da maçã de Vacaria, do kiwi de Farroupilha, do figo preto e branco, da ameixa e tantas outras frutas que Deus nos presenteou antes de fechar as portas do paraíso para Adão e Eva. Também fugiram do paraíso os anjos, que são as crianças.
– “Tusi: manhe fruta de época que fá bene” (Gurizada: comam fruta da época que faz bem) dizia meu pai. Fora da época era caríssima.
A bergamota do Rio das Antas comprávamos de cargueiro (dois cestos que vinham pendurados nas mulas) e comíamos depois da janta, ou como janta. Um dia o Seu Pedro comentou:
– “Tenho até vergonha de colocar a lata de lixo na calçada pois na coleta vão pensar que aqui em casa só se come bergamota”.
Laranja e bergamota era só no inverno. Agora tem quase todo o ano e a “pocam”, aquela da casca grossa, conheci quando adulto. Maçã, só existia a importada da Argentina, que se raspava com colherinha e ficava uma farinha sem gosto e era tão cara que poucas vezes comi. Tinha um cheirinho cativante mas o gosto era de papel, como a maioria das frutas que já foram congeladas.
Não sei por qual razão faziam algumas proibições: melancia com vinho empedra no estomago e faz mal; leite com manga, Deus me livre, até mata; bolo quente dá dor de barriga e tantas outras recomendações. Acho que queriam nos proibir alguma coisa: por que éramos crianças proibiam o vinho, porque era cara proibiam a manga (vinha de São Paulo) e o bolo deveria estar reservado para o lanche das 16 h ou para as visitas. Interessante que não se podia comer o bolo mas podíamos comer a raspa da panela ainda quente com a colher. Hoje todos comem de tudo e nada faz mal, a não ser a barriga que aumenta, pelo menos a minha.
Algumas frutas apareceram recentemente, como o próprio kiwi. Até melancia quadrada já vi em São Paulo: eles fazem crescer dentro de caixas e ficam mais fáceis de transportar e empilhar. De todas, a que mais gosto é a pinha, uma casca grossa que é comum na Região Nordeste do Brasil e que teima em não nascer nesta terra fria do Rio Grande do Sul. Sou teimoso (“testardi” como o João Benedetti): plantei.