Da sua concepção aos dias atuais, um espaço renovado, sempre a dialogar com as urgências dos novos tempos.
No passado está o resgate de uma história, de uma cultura, de uma identidade. E quando esse passado anda de mãos dadas com o presente, num misto de nostalgia e atualidade, se dá uma combinação mais que perfeita. Esse é o caso de Bento Gonçalves e sua Via del Vino.
Passar bons momentos sentados à praça, apreciando o entorno arborizado e a beleza das flores, sobretudo, vislumbrando a arquitetura clássica do final do século XIX e início do século XX, parece remeter a outro tempo, que não 2019. Mas isso é possível, e os bento gonçalvenses não deixam essa tradição de lado. A Via del Vino representa para a cidade o lugar onde tudo começou. Afinal, foi no entorno dessa via que o centro se desenvolveu, junto da vida social e econômica do município. Aliás, ainda estão ali boa parte dos prédios de estabelecimentos comerciais da época.
A Via del Vino está localizada no centro da cidade. É ponto de passagem quase obrigatório para quem deseja fazer compras no comércio, comer algo numa das opções gastronômicas que há durante o percurso e conhecer um pouco mais de cada prédio histórico. Em frente ao Palácio Municipal, um point para se admirar, a La Fontana. O Chafariz de Vinho é uma das referências turísticas de Bento Gonçalves. Um símbolo da cidade construído em 1990, a partir de retalhos de pedras, como forma de representar as antigas taipas erguidas pelos imigrantes italianos.
Hoje, a Via del Vino de tempos atrás permanece a salvo apenas nas fotografias e na memória de quem a conheceu e desfrutou de seu espaço naquele tempo. Em especial para os antigos moradores e naturais de Bento Gonçalves, a querida vila de casinhas de madeira já foi bem maior do que é visto hoje.
O projeto da Via del Vino foi inspirado na arquitetura colonial da imigração italiana como forma de representar uma pequena vila, típica daquele momento histórico. Ele foi concebido na gestão do prefeito, na época, Fortunato Rizzardo e do secretário de turismo Jovino Nolasco de Souza, falecido em novembro de 2018.
O projeto da Via del Vino foi concebido na gestão do prefeito, na época, Fortunato Rizzardo e do secretário de turismo Jovino Nolasco de Souza, falecido em novembro de 2018. Nos anos 1990, quando a Fenavinho passou a ser anual, o local começou a sofrer modificações. É o que revela o servidor público Odair Cesar Zeni, do arquivo histórico do município. “O objetivo da Via del Vino era ser um atrativo, em razão daquela característica que Jovino projetou, do vinho encanado jorrando na rua. Havia o coreto, a La Fontana e um chafariz de pedra, colocado no centro. Tinham outras atividades ali, como um café, que depois foi retirado. A Casa do Artesão, que ainda tem, e a Casa do Vinho, por causa da Fenavinho, era o que fomentava todo esse cenário central e atrativo”, recorda.
O turismo ainda pode melhorar
Algo muito comum ao conversarmos com as pessoas que passeiam pela Via del Vino, em especial, os antigos moradores, é a nostalgia gerada pela lembrança de todas as casinhas que compunham a vila, quando foi inaugurada. Alguns se perguntam o motivo pelo qual as outras foram retiradas, sobrando apenas duas, a Casa do Artesão e, ao lado, a de variedades.
Nesse quesito, Zeni recorda o motivo pelo qual houve a nova reestruturação do espaço. “Acho que a gente tem que valorizar sempre aquilo que é interessante num determinado momento, numa determinada época. Mas também houve muitos pontos negativos. O número de construções que foram colocadas limitava muito a circulação das pessoas. Então, tu utilizavas a Via del Vino, mas não conseguias organizar grandes eventos ou grandes atividades naquele espaço”, menciona.
Zeni recorda também a aceitação do público e os benefícios que a diminuição das casas da Via del Vino trouxeram para o espaço. “Isso foi interessante porque, claro, na comunidade, muitos apoiavam e outros não, o que é normal, mas com o tempo, com as mudanças que naturalmente a cidade passou, foi se repensando não somente no espaço de circulação, mas também desse aproveitamento do espaço para organização de atividades culturais, e uma série de outras atividades que a cidade, hoje, realiza”, comenta.
Embora achasse o projeto inicial da Via del Vino muito bonito e atraente, ele considera que sua fase atual permite maiores possibilidades de interação com o público. “Eu acredito que ela tem um espaço muito interessante para a produção de atividades de lazer, culturais, eventos de um modo geral. É muito utilizado, tem uma arborização bonita, bem conservada. E permaneceu aquele espaço onde o município também organiza o dia do vinho e outras tantas atividades que acontecem na cidade”, ressalta. Zeni lembra ainda que, anteriormente, era preciso fechar algumas vias do centro para acomodar melhor o público, e que, agora, já não é mais tão necessário.
Maira da Silva, 48 anos, é comerciária de uma loja bem em frente à Casa do Vinho. Ela relembra com saudade dos desfiles de sete de setembro, junto à sua escola, nos quais a antiga Via del Vino compunha o cenário festivo. Acredita ser uma das melhores paisagens da cidade. Porém, para ela, está faltando mais espaço para as pessoas sentarem. “A gente fica aqui e vê sempre as mesmas pessoas sentadas, não dão espaço pra gente. Precisaria de mais mesinhas, mais alguma coisa” sugere.
Em se tratando do potencial turístico da cidade, o artesão José Benatti está satisfeito com suas vendas. Ele ocupa, junto com outros artesãos, a Casa do Vinho, num sistema de rodízio no qual cada um tem o seu dia certo para expor suas mercadorias. Ele fala do fluxo de turistas e do público que adquire o seu artesanato, que na maioria das vezes são turistas a procura de uma lembrança da cidade. Chegam com um determinado guia, ou então sem estarem vinculados a nenhuma agência de turismo.
Há alguns anos trabalhando na Via del Vino, o artesão também acredita que o espaço poderia melhorar ainda mais, no sentido da logística do ambiente. “O que nós precisamos, em primeira mão, é um banheiro, que nós não temos. É triste porque as vezes eu venho aqui, no domingo de manhã, trabalhar, ou venho na própria segunda feira de manhã, e tem gente que está procurando um banheiro público. E não tem. Se tu vais num restaurante ou num bar aí, tu tens que gastar para usufruir do banheiro”, relata.
O artesão destaca também a necessidade de um espaço apropriado para os ônibus de turistas estacionarem, naquele local. “Pra nós termos turistas no centro, nós precisamos de um espaço para os ônibus ficarem”, sugere. Entretanto, uma das coisas que, em sua opinião, já melhorou bastante, foi o quesito café da manhã para quem chega. “Antigamente não existia, mas hoje já tem os restaurantes que abrem mais cedo, para o café da manhã”, comenta.
O casal Leonardo Prestes, 28 anos, e Verônica Piecha, 29 anos, gosta de passear e relaxar na Via del Vino. O eletrotécnico considera as praças ao redor muito bem cuidadas, limpas e organizadas. As flores são um encantamento à parte. Verônica já tem seu roteiro programado, junto ao esposo e o filho Miguel. Sentados num dos bancos do espaço de convivência, saboreando um milk shake, desfrutando da paisagem e da atmosfera tranquila. de uma pequena grande cidade, que ainda conserva os ares de interior. Porém, acreditam que os banheiros poderiam ser um pouquinho mais bem cuidados.
O mesmo não se pode dizer de Jonatan de Moraes, 28 anos, que revela só passar pela Via del Vino quando está fazendo outra coisa, pagando alguma conta ou para tomar um sorvete. Não que ele não seja feliz na cidade, mas revela só passar pela Via del Vino quando está fazendo outra coisa, pagando alguma conta. Ele não costuma curtir o ambiente, embora ache bonito o espaço.
Juliana Bueno, 24 anos, também se refere à Via del Vino como um ambiente de passagem, apenas. Usufrui do espaço quando está no intervalo do trabalho, e sobra um tempinho para sentar num dos bancos da Via, e conversar com o amigo e colega de profissão.
Com Hermes Antunes, 70 anos, é diferente. Ele já se beneficia bastante do local. comenta que é um lugar maravilhoso para conversar, conhecer pessoas e fazer novas amizades. Foi onde conheceu Cintia do Nascimento, 31 anos, e Claudia Capovilla, 39 anos, ambas comerciárias. Claudia comenta que está sempre por ali, no intervalo do seu trabalho. Costuma sentar e bater um papo com a amiga. Já era a terceira vez que elas estavam acomodadas em uma das mesas ao lado da Casa do Vinho, e viam Hermes, outra presença confirmada no espaço de descontração. Naquela manhã, resolveram conversar.
Os três só tem coisas boas a falar de Bento. Gostam muito da cidade. Mesmo se tivessem oportunidade de sair, não iriam embora. No entanto, se há alguma coisa da qual eles iriam sugerir mudar, na Via del Vino, é a falta de proteção, nas mesas da Casa do Vinho, para eventuais dias chuvosos. Disseram que quando chove, as mesas e cadeiras ficam todas molhadas, impedindo que as pessoas permaneçam naquele local.
Achylles Poli, 63 anos, também está satisfeito, mas estaria mais contente se conseguisse da prefeitura um espaço adaptado para que ele pudesse trabalhar com mais comodidade. Comenta que em dias de chuva precisa se abrigar nas marquises das lojas, dificultando o seu trabalho como vendedor de cartelas de um sorteio semanal.
Tiago Seibert, 22 anos, é jornalista. De passagem por Bento, com destino a Garibaldi, queria aproveitar e dar um passeio na cidade. Estava interessado conhecer o L’América Shooping Center. Vindo da cidade de Lages, não sabia ao certo qual transporte público o levaria até lá. Nesse sentido, a única observação que fez, com relação à cidade, foi à falta de um ponto de orientação para os turistas.
Ele considera a facilidade proporcionada pela internet, hoje em dia, na busca das informações necessárias para realização de qualquer viagem. Porém, acredita que se na área central, ali mesmo, na Via del Vino, ou na própria estação rodoviária da cidade, tivesse um local de informações turísticas para quem chega, uma divulgação maior, ficaria mais fácil à locomoção. Em sua opinião, Bento Gonçalves é uma cidade bonita e tranquila para fazer caminhadas durante o dia, com o centro organizado, além de ser um ponto estratégico para outras cidades da região.