Cinco escolas de ensino fundamental e todas as seis creches do município contam com aulas de musicalização infantil
Perceptível do portão da entrada somente aos ouvidos mais atentos, um som distante e quase inaudível de batucadas vai aumentando de intensidade conforme se avança pelos corredores em direção as salas de aula que ficam ao fundo da Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Valentin Tramontina, localizada no bairro Fenachamp, em Garibaldi. Uma vez no último corredor, é fácil se deixar guiar até a origem das batidas que, dessa distância, já deixaram de ser meras ondas sonoras abafadas para se traduzirem em ritmo.
Atrás da porta, de olhos e ouvidos atentos, sincronizados entre a leitura de uma “partitura simplificada” no quadro e o ritmo ditado pelas palmas do professor, Maicol Coser Villa, os alunos do segundo ano tocam em compasso, tambores feitos de latas e baldes. A atividade faz parte da grade escolar do contraturno da escola: as aulas de percussão. Além dela, os 109 alunos do educandário, desde a pré-escola até o quarto ano, ainda contam com aulas semanais de canto e coral, violão e musicalização.
Obrigatória como matéria escolar na educação básica, por meio da Lei nº 11.769/2008, a musicalização infantil é trabalhada como ferramenta de desenvolvimento humano e pedagógico nas escolas de educação básica de Garibaldi. Embora a legislação inclua o ensino da música como parte da disciplina de artes, nas Emefs do município, o trabalho desenvolvido tem ido além, com classes dadas por profissionais da área, apresentações de música, formação de bandas, entre outros. “Começamos a trabalhar mais forte com isso, quando colocamos o contra turno aqui na Valentin Tramontina. Aí fomos vendo como a música estava desenvolvendo as crianças e, ano após ano, fomos expandindo para as outras escolas também”, destaca a secretária municipal da Educação, Simone Rosanelli Chies.
Ademais da pioneira, Valentin Tramontina, outras quatro escolas já contam com aulas semanais de teoria e prática musical (Attílio Tosin, Madre Felicidade, Pedro Cattani e Visconde de Cairu), enquanto a Justina Inês, no bairro São Francisco, deverá implantar o contra turno no próximo ano, sendo beneficiada também com os projetos musicais. Para além da música, muitas escolas costumam preencher o currículo escolar com outras atividades no campo das artes e fora dela. Somente no contra turno da Valentin Tramontina são 14: inglês, dança, teatro, entre outras.
Desenvolvimento infantil e outras atividades
Embora as conversas e o agito típicos da infância sejam comuns em dados momentos da aula, exigindo ora ou outra uma intervenção do professor, como resultado intrínseco do encantamento da música, uma vez munidos de suas baquetas ou escutando os acordes do violão todos se concentram e entram no ritmo da música. “Enquanto o professor explica eles não piscam, os olhos brilham porque é uma coisa que eles gostam muito”, sublinha Roberta Lazzari, coordenadora do contraturno da Emef Valentin Tramontina.
Ainda segundo Lazzari, mais que a concentração ou mesmo o desenvolvimento de habilidades musicais ou artísticas específicas, as aulas de musicalização e arte na educação básica auxiliam o desenvolvimento dos alunos também em outras matérias. “De forma geral, se desenvolve atenção, raciocínio, memória e todas essas habilidades influenciam na aprendizagem deles em todas as áreas do conhecimento”, explica.
Se por um lado muitas vezes uma criança tem dificuldade ou apreço maior pela área de humanas e exatas, o gosto pelas atividades do campo artístico parece encantar mais facilmente. Brian Gonçalves Matge, 8 anos, admite que de “dançar só gosto mais ou menos” fala tímido, mas complementa que gosta do inglês e teatro. Já a paixão maior, para alegria do professor Villa, é a música. “Gosto da banda marcial e as latas também, mas quero aprender violão”, comenta.
Aproximação com a família
Uma mesa farta com doces e salgados trazidas pelos parentes dos alunos esperava a comunidade escolar, após a apresentação promovida pela escola para comemorar o dia dos avôs, no mês passado. Ao todo, mais de 180 pais e avôs assistiram encantados às apresentações de violão e dança dos alunos da Visconde de Tramontina. O grande público, comemorado pelo professor Villa, é para ele a prova de que mais que desenvolver as crianças, a arte tem edificado a união entre escola, pais e alunos. “No início, era difícil os pais virem. Em um sábado de manhã, tinham 10 no máximo. Agora, já tivemos 180. Então é um trabalho lindo que estamos fazendo”, pontua emocionado.
Tendo trabalhado na escola desde sua inauguração em 1999, a diretora do educandário, Sílvia Salvi Castanheiro, também destaca a aproximação da escola com os pais como um dos resultados mais positivos do trabalho de inserção artística na escola. “No começo, os pais ou avôs vinham entregar as crianças e não falavam muito com a gente. Hoje, somos família, eles chegam, cumprimentam, conversam. A afetividade e o acolhimento da escola são transmitidos em casa pelas crianças. Então, cada ano que passa, essa parceria entre as famílias, as crianças e nós fica mais nítida”, exclama.
Música desde o berçário
Na mesma rua, há cerca de 250 metros da Emef Valentin Tramontina fica a Escola Municipal de Educação Infantil (Emei) Semeando o Futuro. Mais que a proximidade física entre elas, a aproximação das duas instituições de ensino também se dá pela música. Isso porque, assim como as demais cinco creches do município, as crianças do Semeando o Futuro contam com musicalização desde o berçário. Professor de música responsável por atender todas as Emeis de Garibaldi, Eron Jantsch trabalha com cantos e instrumentos com crianças de quatro meses a quatro anos. “É impressionante a aceitação e o aprendizado deles. As crianças vão aprendendo brincado, e quanto antes se trabalha essa percepção musical com eles, mais eles refinam a audição, a coordenação motora fina e atenção”, destaca.