Inaugurado no dia 17 de maio, a Casa de Passagem, no bairro Maria Goretti, já abrigou 20 pessoas e conta atualmente com nove usuários que devem ser encaminhados para outros serviços de assistência social
Dignidade. Essa é palavra que permeia o número 136, da Rua Francisco Navarini, no Maria Goretti, endereço que há um mês serve de teto para moradores de rua e pessoas em situação de vulnerabilidade de Bento Gonçalves. Inaugurada em 17 de maio, a Casa de Passagem já atendeu pelo menos 20 pessoas, sendo que nove seguem no espaço atualmente, por período indeterminado.
Diferente de albergues em cidades vizinhas bem como do Lar Bom Samaritano, espaço conveniado pela Prefeitura em Tuiuty, a Casa de Passagem funciona apenas no período da noite, entre às 19h e 7h. A ideia, segundo o secretário municipal de Assistência Social, Eduardo Virissimo, é possibilitar que as pessoas sejam acolhidas para dormir em um ambiente cômodo e seguro sem que sejam privadas de suas liberdades ao longo do dia. “Queríamos oferecer acolhida diferente dos outros abrigos e aí chegamos ao conceito de ‘uso controlado’, onde oferecemos uma oportunidade de inclusão às pessoas, permitindo, porém, que sigam com suas atividades diurnas. Conversamos com os moradores de rua pedindo se eles usariam o serviço e a maioria nos disse que se esse fosse o sistema eles gostariam, pois não queriam um lugar cheio de regras”, explica.
Ademais de um leito com cobertores, lençóis e travesseiros em quarto compartilhado, os abrigados contam com uma sala de estar completa, banheiro com chuveiro e kit com todos os itens de higienização (sabonete, shampoo, escova de dente e pasta dental, entre outros) e serviço de lavanderia. A alimentação, não inclusa, é feita na parte do dia por entidades conveniadas, a Ação Social São Roque e o Lar de Caridade.
A ocupação máxima é de 25 leitos além de dois extras para emergência, número que, segundo Virissimo, deve ser suficiente para atender a demanda da cidade mesmo durante o inverno, quando espera que a procura pelo serviço seja maior. Atualmente, de acordo com o Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas), pouco mais de 30 pessoas vivem nas ruas na cidade.
Assistência além do acolhimento
Apesar de ser um espaço aberto para qualquer pessoa que precise de um teto momentâneo, a maior procura até o momento tem sido de pessoas com problemas com drogas e álcool. É por isso, que mais que oferecer um leito seguro, a Casa de Passagem tem um objetivo maior :a reinserção social.
Uma vez no local, sempre que o aceitarem, os usuários são encaminhados para outros serviços dentro da Assistência Social. “Passado o período pedido por eles no momento em que se inscrevem na Casa, nos aproximamos para saber como podemos ajudá-los. Alguns precisam de passagem para voltar para a cidade de onde saíram, outros perderam os documentos, enquanto a maioria precisa de atendimento psicológico ou hospitalar”, destaca Virissimo.
“É bem possível que não tenhamos a reinserção social de 100%, mas estamos ajudando dentro do possível. O primeiro mês da Casa de Passagem só nos trouxe felicidade”,
Eduardo Virissimo
Embora o período máximo de hospedagem seja de 15 dias, ele pode ser estendido por vezes indeterminadas até que cada caso seja melhor solucionado. “Se precisar mais 15 dias a gente dá um jeito. Se precisar outros 15, idem. Só não queremos que morem o resto da vida lá, buscamos a reinclusão social de forma espontânea”, destaca.
Segundo a coordenadora de proteção social especial, Simone Menegotto, além de encaminhamentos ao Caps, outros situações também são comemoradas pela Secretária de Assistência Social. É o caso, por exemplo, de três residentes da Casa que estão próximos de uma vaga de emprego. “Estamos muito animados, pois o processo está dando certo. Estamos encaminhando três pessoas para o mercado de trabalho, emitindo a segunda via de seus documentos para que possam trabalhar de forma regulamentada”, comemora.
Contra a esmola
Embora as esmolas sejam movidas pela solidariedade, Virissimo destaca que, por vezes, a prática mais prejudica do que ajuda as pessoas em necessidade. Segundo o secretário, que já ventilou a ideia de se trabalhar uma campanha de conscientização sobre o assunto, Bento Gonçalves conta com um serviço completo de atendimento para pessoas em situação de vulnerabilidade. “Na Casa de Passagem eles não terão acesso a drogas ou álcool, pelo contrário, lá tentaremos encaminhá-los aos serviços para ajudá-los a se livrar disso. Muitas vezes esse ato de bondade mal pensado atrapalha o serviço que o Poder Público tenta fazer para reinserir aquela pessoa em seu lugar de direito na comunidade”, destaca.
Ajude:
Ao ver uma pessoa em situação de rua, entre em contato com o Creas pelo telefone 30520360 ou 30520364