Envelhecer com dignidade é um direito assegurado por lei. Entretanto, agressões físicas e psicológicas ainda fazem parte da realidade de muitos idosos. Em 2018, o Rio Grande do Sul registrou mais de três mil casos de violência contra esse público.
Em Bento Gonçalves, esse tipo de ocorrência também acontece. De janeiro a maio desse ano, o Conselho Municipal do Idoso (Comui) recebeu 12 denúncias, de acordo com o Secretário de Habitação e Assistência Social, Eduardo Virissimo.
Para abolir ou pelo menos minimizar esse tipo de situação, o dia 15 de junho é considerado o Dia Internacional de Conscientização e Combate à Violência contra a Pessoa Idosa. No Estado, o perfil dos agressores é composto em sua grande maioria pelos próprios filhos, que representam 28,23%. Em Bento, de acordo com a Delegada titular da Delegacia de Polícia Especializada no Atendimento à Mulher (DEAM), Deise Salton Brancher, os filhos também são os maiores agressores. “Por olho, eu acho que das ocorrências que chegam até nós, realmente, a maioria das denúncias é contra os filhos e contra os companheiros (as), justamente por maus tratos, abandono, negligência”, afirma.
De acordo com Deise, a violência sexual é mais velada ainda do que a física, tornando difícil identificar qual de fato ocorre mais. “Quando um filho agride acaba de alguma maneira transparecendo para os vizinhos, para pessoas que convivem. A violência sexual acontece lá na cama do casal, quando através de grave ameaça obriga a companheira a praticar um ato sexual e muitas vezes não sai dali porque a pessoa tem vergonha de falar, então não quer dizer que não aconteça tanto quanto ou até mais”, argumenta.
A delegada observa que as pessoas estão perdendo o medo de denunciar todo e qualquer tipo de casos de violência e abuso. “Não significa que aumentou a violência. Ela existe, está escondida lá na casa das pessoas, mas agora elas tomaram coragem e resolveram denunciar. Por isso, dizer que a violência aumentou porque cresceram as ocorrências é uma analise falha, pois essa violência acontece justamente em relação de segredo, de medo, de promessas de fazer coisas ruins para a pessoa se ela reagir”, explica. Já para Virissimo, as pessoas ainda sentem receio de fazer denúncia. “Elas não são explicitadas porque as pessoas ainda tem dentro de si que se denunciarem vão se prejudicar de alguma forma, mas na verdade não vão”, defende.
Jose Foresti, Presidente do Lar do Ancião, afirma que embora se fale muito de políticas públicas, poucas são direcionadas para os idosos. “Temos uma missão muito grande no Lar, de promover políticas públicas com as nossas mãos, mas acima de tudo buscando as pessoas para interagir aqui no Lar, fazendo com que nossos avós sintam-se interagidos, envolvidos com a comunidade e que em nenhum momento se sintam isolados”, relata.
Foresti conta que vários idosos que hoje residem no Lar, foram vítimas de maus tratos. “São várias situações. Temos casos em que as pessoas fazem de tudo para colocar o avó aqui, mas depois que consegue, os próprios familiares não visitam mais e alguns moram bem pertinho, eles reclamam que os filhos não vem visitar. A gente partilha com eles essa dificuldade”, alega.
No momento que o idoso entra nessa casa, não interessa o passado, ele vai ter qualidade de vida, vai ser respeitado, vai ter atendimento digno – Foresti
Foresti também relata que observa falta de acessibilidade para os idosos. “Se o idoso se machuca custa mais para se recuperar e é ruim viver machucado, estando bem já é difícil. Faltam calçadas planas, colocar corrimão. As famílias não se dão conta que as pessoas cada vez mais precisam dessa acessibilidade, ceder lugar no ônibus, parece que está acontecendo muito pouco, a gente percebe que muitas vezes o idoso não é reparado. São pequenas coisas que fazem a diferença”, afirma.
Atividade Física para os idosos
Um programa para incentivar, mas principalmente instruir os idosos que já praticam exercícios físicos. Essa é a ideia do projeto que a Secretaria de Habitação e Assistência Social está desenvolvendo no município. O projeto, que está em fase de testes há cerca de um mês, ainda não foi lançado, mas já acontece em 20 praças ao ar livre sob a instrução de um profissional de Educação Física contratado pela Prefeitura. “Ele tem passado por todas as academias, tem feitos grupos para ensinar, qualificar e fazer com que o idoso tenha a prática da atividade física. Uma vez por semana o idoso vai ter orientação e mais duas vezes na semana vai fazer sozinho. Engloba desde exercícios nas máquinas que a gente tem, até exercícios de caminhadas”, explica Virissimo.
Quando o projeto for lançado, as praças contarão com placas informando os horários que o educador físico estará em cada uma delas. “Nesse um mês já temos catalogados quase 200 idosos. São pessoas que já faziam suas atividades, mas não eram orientadas. Tem praças que no horário já tem cerca de vinte pessoas esperando para participar . O projeto piloto é bom, tem dado certo. A politica que queremos realmente é de tirar o idoso de dentro de casa, para ele fazer uma atividade, se mexer, ter mais sobrevida”, relata Virissimo.
Canal para denúncias: disque 100
O Disque Direitos Humanos, também chamado de Disque 100 é um canal que possibilita que qualquer pessoa faça denúncias relacionadas a violação de direitos do cidadão especialmente relacionadas aos Grupos Sociais Vulneráveis, como crianças e adolescentes, pessoas em situação de rua, idosos, pessoas com deficiência e população LGBTT.
As denúncias recebidas são analisadas e encaminhadas aos órgãos de proteção, defesa e responsabilização de acordo com as particularidades de cada uma. O canal garante o sigilo absoluto do denunciante.
De acordo com Deise, a maioria das denúncias recebidas são justamente vindas desse canal. “Os idosos muitas vezes não tem condições de vir até a delegacia, até pela idade deles, então o canal facilita isso”, conta.
Virissimo também destaca a proteção do canal em relação ao denunciante. “É muito reservado, ao ponto da pessoa nem precisar se identificar. O questionário que é feito não envolve quem denuncia, as perguntas feitas são sobre o fato ocorrido para que as autoridades investiguem, entendam o que está acontecendo e consigam agir. As pessoas querem que o poder público ou as autoridades tenham uma atitude, mas não querem ter um envolvimento com a situação”,