Em depoimento na primeira oitiva da ‘CPI das Fake News’, Dênis Alex de Oliveira alegou que o vereador coordenava a criação e alimentação de perfis falsos em redes sociais utilizados para denegrir a imagem de membros do Executivo; mais tarde, em sessão ordinária do dia, Camerini negou envolvimento
A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) denominada de “CPI das Fake News”, entrou na fase de oitivas na tarde de segunda-feira, 10 de junho, na Câmara de Vereadores. No primeiro ato, a CPI interrogou o ex-coordenador de gabinete do vereador Moacir Antônio Camerini (PDT), Dênis Alex de Oliveira, um dos suspeitos de ter utilizado da estrutura funcional da Casa para criação e alimentação de fakes usados na disseminação de notícias falsas e montagens com o intuito denegrir a imagem de figuras públicas de Bento Gonçalves. Em depoimento, Oliveira afirmou que o vereador coordenava as ações, ora dando ordens para publicações, ora participando ele mesmo da criação e divulgação dos materiais em grupos de WhattsApp.
A CPI das Fakes News foi instaurada no dia 17 de maio, após o pedido de abertura assinado por 14 parlamentares, com o objetivo de apurar as denúncias contra o vereador Camerini pela suposta manutenção de uma rede de perfis falsos utilizados para criação e divulgação de notícias inverídicas, imagens e vídeos acerca de acontecimentos do município, atingindo autoridades e outros vereadores. A investigação partiu de uma série de documentos e prints de conversas entre Camerini e seus funcionários em grupos de WhatsApp, entregues a Comissão de Ética da Câmara de Vereadores pelos ex-assessores da Casa, Dênis Alex de Oliveira, Jorge de Mattos e Jorge Bronzatto Júnior, no dia 8 de maio.
O depoimento de Oliveira
Foram cerca de 40 minutos de sessão, ao longo dos quais, Oliveira confirmou o que já havia apresentado no documento assinado por ele e entregue a Comissão de Ética. Entre outras afirmações feitas aos membros da CPI, o ex-assessor da Câmara de Vereadores alegou que há pelo menos dois anos havia criado, junto com outros assessores, familiares destes, e mesmo com o vereador, perfis falsos em redes sociais.
Segundo ele, o intuito inicial era promover ações de Camerini e defendê-lo em comentários de matérias jornalísticas de veículos locais, mas com o tempo, pressionados pelo vereador, os fakes passaram a ser usados para criar e espalhar montagens de imagem e vídeo com ataques pessoais. “A gente queria só usar para o bem, mas de uns oito meses para cá mudou. Ficou para a gente entrar em algumas notícias e brigar e também éramos cobrados para fazer os perfis e propagar memes por whats”, conta. Sobre a criação de notícias falsas, no entanto, foi menos contundente. “Acredito que a Roberta Almeida (um dos seis perfis criados pelo grupo) era usada para isso. Deve ter propagado uma ou duas fake news, mas não lembro se de fato publicaram alguma notícia falsa”, pontua.
Oliveira afirma que parte dos fakes e materiais foram criados e propagados utilizando a estrutura funcional da Câmara. “A gente usava a internet e os computadores da Casa, mas nem todos os perfis foram criados no gabinete. A alimentação deles era por aqui e fora do horário de trabalho também”, resume. Diz, ainda, que embora nunca tenha sofrido ameaça, se sentia coagido a participar por medo de ser demitido. “Se a gente não fizesse, provavelmente no dia seguinte estaríamos na rua. Aguentamos até onde dava porque precisávamos de emprego, mas quando vimos que se tornaria insustentável resolvemos comunicar a Câmara”, sublinha.
Camerini rebate
Por ter dispensado a presença de advogado durante o ato, Camerini, mesmo sobre protesto, não pôde questionar o depoente após os depoimentos. Mais tarde, em sessão ordinária da Câmara, no entanto, o vereador usou de seu espaço para negar as acusações feitas por Oliveira. Na tribuna, leu trechos de uma suposta conversa com os assessores onde dizia para que eles não usassem os perfis para difamação. “Nunca pedi para vocês fazerem fake ou prejudicar alguém. Se fazem é por conta de vocês, agora pior de tudo, é trazer problema para mim, aí tá demais”, teria escrito para os assessores. Em resposta, Oliveira teria confirmado a fala do vereador. “Sim, eu nem gosto disso, tu nunca pediu mesmo”, diria um dos trechos.
O documento em questão, segundo Camerini, deve ser apresentado na integra durante a sua oitiva, ainda sem data marcada. Os outros dois ex-assessores também devem ser ouvidos nas próximas semanas.