Desde 1925 o dia 1° de maio é conhecido por celebrar o Dia do Trabalhador, mas nos dias atuais, com a Reforma Trabalhista em vigor há um ano em cinco meses e com a Reforma da Previdência em pauta, os trabalhadores e os representantes das categorias profissionais percebem que essa data está mais apropriada para gerar um momento de reflexão do que comemoração.
Apesar de estar aposentada há quase um ano, dona Ironita Elisabete de Souza, 60 anos, continua trabalhando de domingo a domingo como Gari, profissão que exerce há 14 anos. “Me aposentei por idade, mas pretendo continuar trabalhando enquanto eu estiver com saúde. O feriado é importante, principalmente para quem trabalha. Temos que valorizar o nosso serviço, temos que trabalhar e dar o nosso melhor para ir adiante”, acredita.
De acordo com o Secretário de Desenvolvimento Econômico, Sílvio Bertolini Pasin, de janeiro até abril foram abertas de 233 vagas na cidade. “Continuam abrindo novos empreendimentos, principalmente na área de serviços e comércio. A resposta de crescimento na indústria é um pouco mais lenta. Em âmbito geral, continuamos em linha ascendente, não com inclinação muito grande, é um crescimento pequeno, porém constante”, afirma.
Pasin percebe que a Reforma Trabalhista ainda não afetou Bento Gonçalves. “O que temos aqui é a migração do empregado de carteira assinada para o proprietário do próprio negocio. O futuro estava com perspectiva ruim e melhorou”, comenta.
Uma das maiores promessas da Reforma Trabalhista era justamente a geração de empregos formais. O Advogado e Especialista em Direito Previdenciário, Cezar Gabardo, acredita que na pratica é justamente o contrário que vai acontecer. “Pelo momento que a gente vive, com o tempo vai reduzir o número de pessoas com carteiras assinadas, passando as pessoas para a informalidade. O efeito disso é preocupante. Estamos indo para um momento mundial onde não se pensa tanto no social, é cada um por si e Deus por todos. A nossa legislação era de 1940, mas as pessoas estavam acostumadas com a proteção do Governo e isso está se perdendo. Nós vamos ter menos empregos, menos carteiras assinadas e menos direitos sociais garantidos”, observa.
Gabardo comenta que em Bento Gonçalves, os sindicatos foram os mais afetados pela Reforma Trabalhista. “Existe um problema muito sério para os sindicatos quanto à sustentabilidade deles, porque não existe mais uma contribuição obrigatória, os funcionários deixaram de contribuir, a maioria vivia desses dissídios coletivos e eles estão sem recursos. Se não houver uma mudança, uma readequação, vários sindicatos vão fechar”, explica.
O que dizem os Sindicatos
O Presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Bento Gonçalves (STIMMME-BG), Elvio de Lima, conta que após as mudanças da Reforma Trabalhista, o sindicato precisou se adaptar e buscar novas formas para se manter. “A Reforma Trabalhista limitou, tirou muitos benefícios que o direito do trabalho tinha conquistado, enfraqueceu o sindicato, tirou as contribuições. Conseguimos nos reorganizar dentro das despesas e a receita que foi tirada pela contribuição sindical, tivemos que buscar de outra forma para manter toda estrutura que nós temos hoje”, conta.
Questionado sobre a possibilidade de fechar as portas, Lima afirma que o sindicato está tentando sobreviver. “Fechar eu não digo, mas temos três subsedes e vai centralizar tudo aqui em Bento, não tem como manter as outras estruturas. Vai ficar um sindicato pequeno, só para dar informações e isso vai onerar mais o município. Em um ano nós atendemos oito mil pessoas. A gente sabe que isso é lamentável”, declara.
Para Lima, nesse momento, o mais preocupante é o que vem pela frente: Reforma da Previdência. “A gente concorda que tenha que ter, mas não nesses moldes. Os jovens ainda não se conscientizaram do que vai vir pela frente. Temos que lutar por uma reforma que mantenha segura a previdência, com cuidados para não empobrecer o cidadão e lá adiante ninguém mais se aposentar”, alerta.
Já para a Presidente do Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Bento Gonçalves (SINDISERP-BG), Neilene Lunelli, a Reforma Trabalhista não cumpriu com a principal bandeira, de gerar novos empregos. “Infelizmente isso não aconteceu e ainda tivemos uma redução de renda. Poucos benefícios para os trabalhadores, maiores poderes para os empregadores. Em alguns casos pouco diálogo e negociações difíceis”, relata.
Neilene afirma que em um primeiro momento o serviço público não foi afetado de maneira intensa pelas novas regras trabalhistas, mas há preocupações para o futuro. “Estamos percebendo que a prática da terceirização tem se intensificado e terá um impacto muito negativo num futuro próximo com a possibilidade real de avanço da terceirização, em especial nas áreas de saúde, educação e segurança, o comprometimento e a qualidade do serviço prestado ficam em risco, pois está se transferindo à iniciativa privada serviços que deveriam ser o ‘guarda-chuva’ da administração pública”, comenta.
Questionada sobre os motivos que o trabalhador tem para comemorar essa data, Neilene afirma que o motivo maior de comemoração para os trabalhadores é ter um emprego. “As comemorações foram dando espaço para as preocupações, seja do trabalhador em manter o emprego e conquistar melhorias no seu trabalho, seja para muitos empresários conseguirem garantir a continuidade dos seus negócios. Estar empregado é uma grande conquista nos dias atuais”, enfatiza.