Quando as luzes do mundo se apagam, surge a aurora do definitivo. O que perturba não é propriamente a morte, mas o que vem depois. Para o dramaturgo Shakespeare, depois dela, o mistério, o silêncio…

Na visão da filósofa, o ser humano é doente, porque sabe que vai morrer. È confisco geral… Não se trata de perder só aquilo que temos, mas também aquilo que somos . Ela rompe nossa ligação com o passado, com a família, com o mundo. É o doloroso fim de uma festa que jamais se repetirá. A morte deve também vista como lógica. São Francisco, o santo da fraternidade universal saudou a chegada da morte, com apenas 44 anos, acolhendo-a, não como assassina e ladra, mas que nos toma e entrega ao Pai…

Existem duas curvas existenciais. A primeira contempla a pessoa que nasce, cresce, desenvolve, amadurece, envelhece e morre. Esta a curva biológica. Na Segunda curva – a espiritual: a vida inicia pequena, vai crescendo indefinidamente e se perde na eternidade… Dentro da vida biológica, como numa casca, vai se desenvolvendo a outra vida. Corpo e alma não são passíveis de separação, mas paralelas. É uma só história, um só destino.

O doente, em seu último e definitivo estágio, é denominado terminal. Na realidade, nascemos com um prazo de validade. Morremos um pouco todos os dias. A maioria das pessoas pensa, ” tenho muito tempo pela frente…” Na realidade não podemos ter tanta certeza assim. O tempo é um dom de Deus, que nos é dado para o nosso crescimento. Nesta decisiva partida não há prorrogação, como no futebol.

A morte é a maior de todas as crises. É o instante das coisas claras. Muitos morrem em meio ao sofrimento e à frustração: jovens irrealizados, vitimas da violência, anonimamente, sem oportunidades na vida. A única alternativa é a FÉ…

Todas estas possibilidades estão presentes na vida. A morte torna definitivo aquilo que a pessoas foi. Não será Deus quem vai salvar ou condenar … Ele respeitará nossas escolhas…
É míope a visão de dois tempos distintos: antes e depois. Nossa morte não acontecerá só num dia, ela acontece um pouco todos os dias…

A morte é o espelho contra o qual vemos a própria vida. Dá seriedade e gravidade para tudo o que fazemos. Não se repete a existência. Não se trata de querer consolar os fracos… É a revelação de um amor maior. Abre-se para o ser humano o continente da fé. Ela é a luz que ilumina as trevas que podem circundar a morte.
“Neste dia de finados, convido todos a pensarmos sobre a vida”.