Na domingo, 31 de março, o presidente Jair Messias Bolsonaro (PSL) anunciou, por meio de mensagens em seu twitter oficial, que cancelaria a instalação de 8 mil novos pedidos para instalação de radares eletrônicos nas rodovias federais, além de prometer rever a necessidade de muitos dos controladores já existentes, conforme forem renovadas cada uma das concessões dos trechos rodoviários no país. A medida, promessa presente ao longo de sua campanha presidencial, seria, segundo o presidente, uma forma de acabar com o que ele considera uma “indústria da multa” que teria o objetivo único de gerar “retorno financeiro para o Estado”.
Enquanto o anúncio presidencial tem gerado debates nas redes sociais, entre apoiadores que defendem a ideia de que os controladores são meras formas de arrecadação para o Estado e oposicionistas que defendem a necessidade deles para a manutenção da segurança no trânsito, o Semanário conversou com especialistas para compreender as consequências que a medida pode trazer para as rodovias que cortam a Serra Gaúcha e Bento Gonçalves.
Uma medida temerária
Segunda maior causa de morte evitável no país, os acidentes de trânsito vitimam fatalmente 40 mil pessoas por ano no Brasil. O dado alarmante está presente no levantamento “Retrato da Segurança Viária 2017” feito pela Ambev com um cruzamento minucioso de dados da Associação Nacional dos Transportes Públicos (ANTP), da Confederação do Transporte (CNT), do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), entre outros órgãos nacionais e internacionais.
Para além das mortes, o alto número de feridos também assusta. Somente em 2015, foram mais de 203 mil pessoas. No Rio Grande do Sul, foram 6.072 feridos (54 em cada 100 mil habitantes) e 1.786 mortos (15,9 a cada 100 mil habitantes). Entre os maiores fatores estão o consumo de álcool, velocidade e imprudência, sendo que, dados da ONU afirmam que 90% de todos os acidentes são por erros humanos.
Para o secretário municipal de Segurança José Paulo Iahnke Marinho, a possibilidade de o Governo cancelar a instalação de novos controladores de velocidade e mesmo de outros já existentes é vista com temor. “Toda decisão radical tem consequências. Quando se determina terminantemente que não se instale mais nenhum radar, se esta radicalizando uma postura. Por mais que possam existir pardais em pontos desnecessários, dentro desses 8 mil que não vão ser mais instalados por determinação presidencial, creio que existam muitos cuja existência poderia ser necessária par salvar vidas”, frisa.
Ainda segundo Marinho, os radares deveriam ser mantidos e instalados em pontos que considera críticos. Entre os exemplos bem sucedidos apresentados pelos redutores de velocidade, aponta trechos que eram famosos pela violência, como a “Curva da Morte”, na ERS-122, em Farroupilha. “A Curva da Morte fica em uma descida e é bastante íngreme, ali toda semana ocorria algum acidente grave. Depois que foi instalado o controlador naquele ponto, as pessoas obrigatoriamente reduziam a velocidade quando se aproximavam da curva, adentravam nela em baixa velocidade”, exemplifica.
Dentro desses 8 mil que não vão ser mais instalados por determinação presidencial, creio que existam muitos cuja existência poderia ser necessária par salvar vidas
Controvérsias nas instalações
Embora correlacione a existência dos radares com a queda de vítimas em pontos estratégicos, Marinho acredita que a instalação de radares devam ser precedidas por estudos que comprovem sua necessidade, evitando controladores que “apenas geram multas, sem interferir na segurança”.
Já o agente da PRF José Carlos Grando, assinala que, apesar das controvérsias, os controladores são medidas cautelares indispensáveis. “Há a polêmica de que em determinados pontos há radares com a simples função de gerar recurso para o Governo, mas ao menos aqui, temos o critério de junto com o Dnit, definir pontos que são absolutamente necessários. Acho que independente do critério da instalação, se o controlador estiver determinado à velocidade que esta regulamentada para a via, ele é legal e vai contribuir para que se reduzam as mortes no trânsito”, sublinha.
Em contraponto as opiniões dos especialistas de Bento, o presidente do Sindicato dos Rodoviários de Caxias do Sul e região, Tacimer Kulmann da Silva, defende o cancelamento dos radares, os quais considera ineficientes. “Não vejo nenhum tipo de segurança nas estradas devido a isso. Esses aparelhos são de terceiros, então é só mais corrupção. Tem que proibir tudo mesmo. O povo brasileiro não aguenta mais tanta coisa para pagar. O que precisa é polícia rodoviária para educar o trânsito, não para dar multa ao usuário das rodovias”, protesta.
A equipe do Semanário entrou em contato com a superintendência regional do Dnit, mas a assessoria preferiu não comentar o assunto. Afirmaram ainda, que esperam a decisão de um dos diretores nacionais do órgão que está chegando ao Estado para discutir a situação. Em nota em seu site, o Dnit compartilhou a fala do Ministro da Infraestrutura, Tarcísio Freitas, que frisa “um gasto excessivo em contratos de lombadas eletrônicas”, afirmando, ainda, que seguirá as orientações presidenciais. “Estamos fazendo um estudo em toda a malha viária federal, com o apoio da PRF, e somente funcionarão radares em locais onde seja indispensável seu emprego tecnicamente”, afirma.