DESPEDIDAS
Vocês sabem aquela mulher classuda, educada, cordial, que quando fala olha nos olhos sorrindo, politicamente correta nas reuniões familiares, nas relações sociais, que carrega o orgulho de ter vivido com os preceitos de trabalho, dignidade, religiosidade, constituindo, ao lado do marido, uma sólida estrutura familiar, estabelecendo, com as netas, uma profunda relação de carinho, amor e respeito profundo? Pois assim era, em vida, Da. Mercedes Anna Teresina Simonetto Cavallini , esposa de Pascoalin (in memorian), mãe do Fábio, sogra da Andréa, e avó da Laura, da Luiza e que nos deixou esta semana. Meu registro é para exaltar esses valores humanos que forjam nossa positiva estrutura familiar e social. Quantas mulheres de valor já se foram, quantas outras referências estão entre nós assumindo de forma elogiável o papel de esposa, filha, mãe, avó, de formadora de opinião, de interesse e preocupação em torno dos amigos e da comunidade. Seria preciso também dignificá-las e aplaudi-las em prosa e verso, como fazem os poetas. Pessoas assim, como Da. Mercedes não partem para sempre, vamos sempre carregá-las na lembrança, de todas as formas e todos os modos.
AS UVAS DA EMBRAPA
Cursei todo meu segundo grau, pela manhã na Escola de Enologia e a noite no Escritório Modelo do Aparecida. Ao final do período duas formaturas: de Enólogo e Técnico em Contabilidade. Minha passagem pelos bancos escolares ainda vai merecer um capítulo a parte no entanto, minha passagem pela ENOLOGIA-EMBRAPA, integradas, merece referência. Se você for até o prédio original da Embrapa e, olhar a direita, vai ver um dos parreirais experimentais que molduram a belíssima paisagem. Cada aluno da minha turma da Escola, de picão e pá na mão, cavou o buraco exemplar, tanto de diâmetro e tanto de profundidade e, após, deitou ali um pé de parreira, na terra fofa e úmida. Não foi fácil, era uma atividade extra curricular, curricular na visão do Professor Pimentel. Mas as minhas cinco parreiras estão lá, volta e meia as saúdo, produzindo frutos. No Laboratório, eram levadas a efeito as aulas práticas de Enologia com o Professor Fenócchio. Eu não tinha muita paciência e segurança com aqueles recipientes de vidro sob fogo, com aquelas misturas, logo derivou de mim uma má vontade. Um dia, percebendo, o Professor olhou pra mim e, não sei onde ele foi buscar a candura que ele não tinha, disse suavemente: “Caprara, fora daqui, tu vai acabar explodindo o Laboratório”. Casamos os interesses, o Professor e eu. Nas provas mensais de Enologia eu tinha uma dificuldade imensa, colava da Gircey e da Regina, minhas colegas, porém o Professor Fenócchio me flagrava assim de repente , parecia que tinha um olho atrás da testa e gritava: “Caprara!!!! pneu”, sim para ele pneu significava zero, me mandava entregar a prova e deu. Após formado, a eterna e incansável busca do mercado de trabalho como Enólogo, o sonho era ser contratado como técnico agrícola via Ministério do Trabalho, pelas mãos do Deputado Federal Paulo Mincarone que, convidado como paraninfo, se limitou apenas a enviar um telegrama, sim era telegrama, de felicitações e pronto. Choramos todos lágrimas de crocodilo, de raiva! Mas a minha passagem pelos bancos da Escola de Enologia teve um momento, para mim catastrófico, inolvidável. O Professor Fenócchio, que falava uma linguagem derivada de italiano que era, e português, nos levou a uma visita a Vinícola Monaco, que ficava em frente de onde hoje é o Nacional Supermercados. Fomos todos contentes, essas saídas-visitas, eram alegres, como são hoje nas escolas, até que chegamos em frente a uma pipa. Ai o Professor nos explicou que ao vinho era adicionado sangue de boi (acreditem, ele tinha levado um balde de sangue) que vinha diretamente do Matadouro Bertani, que abastecia de carne toda a cidade, localizado ai no bairro Maria Goretti. “Todo o sangue de boi do matadouro vem para algumas pipas”, dizia solenemente o Teacher ítalo-brasileiro, arrematando “é para corpo e cor ao vinho”. Não sei de onde veio essa prática Viking de beber o sangue dos inimigos (bois brabos abatidos). Bem, se vocês querem saber como eu me formei, tirando pneu em Enologia, eu vou contar. A Gircey, o Zaldi (Toniollo), a Regina e o Henrique, formavam um quarteto especial. Estávamos sempre alegres, criativos, solidários, amáveis, amigos dos professores e a Regina, bem esse é um simples detalhe, era filha do professor Amintas Lage, o Diretor da Escola. Isso tudo pode ter ajudado um pouco, no detalhe. Bem, sabe aquele ditado que diz que “quem conta um conto acrescenta um ponto?”. Pois não é meu estilo, posso ter lapsos de precisa memória mas não acrescento pontos. Vamos do porque dessa história. Dias atrás, recebi, do Dr. Mauro Celso Zanus, Chefe-geral da Embrapa Uva e Vinho, uma caixa de uvas BRS Vitória, que agradeço muito. Olhei as uvas, lembrei do meu avô que cultivava uma uva parecida do tipo “ninguém quer comer”, confesso que não levei fé. Mas aí é que está, se você é torcedor do Inter vai entender melhor, “tenha fé”. Levei para casa, coloquei no refrigerador, no terceiro dia abri o refrigerador “a procura de tudo” e lá estavam as uvas. Vieram os pensamentos saudosos da Escola, a personalidade marcante do Prof. Fenócchio, era um querido, me passava apesar de eu não ser um bom aluno, criei um ritual e fui em direção as uvas. UMA DELÍCIA, nada a ver com a variedade do parreiral do meu avô. Bagos grandes, pretos que nem carvão, carnosa, suculenta, deliciosa, sem sementes, de um futuro de comercialização brilhante. A Embrapa representa muito para a Agricultura Nacional. Pena que seus importantes estudos não sejam acompanhados da implantação de um planejamento agrícola para o país. É um entra ministro, sai ministro, que fazem as coisas não darem muito certo. Vejam, por exemplo, a notícia da semana passada: o milho bateu recorde de produção, mas não temos silos suficientes para armazená-lo. Bolsonaro……. pronto, acabou o espaço. “Buon Fine Settimana a tutti”, traduzindo “bom fim de semana a todos”.