Tudo começou num táxi. O sujeito, que estava em São Paulo, numa Feira, e precisava jantar decentemente depois de um dia inteiro de trabalho, pediu para ir até um restaurante, mas o motorista se perdeu. Gira, gira, gira e – Pomba! – nada de boteco nas proximidades. Ia retornar ao hotel, quando percebeu uma movimentação expressiva diante de uma casa com iluminação diferenciada.
Beleza! Desembarcou aí com uma fome do capeta.
Ia entrar, quando foi barrado:
-Sozinho, cavalheiro? Então paga quatrocentos.
-Quatrocentos por um cuscuz paulista? – brincou o cidadão.
-Amigo, aqui você come o que quiser, ninguém tem preconceito, mas tem que pagar antes. E o preço triplica para quem chega desacompanhado…
Foi então que o cara se deu conta da mancada. Aquela era uma casa de swing. Ao dar meia volta, ele esbarrou noutra, mas de espetáculos. Entrou, gostou, petiscou e curtiu um show de Jazz “sinistro”.
Desde então, toda vez que ele vai a São Paulo, reserva uma noite no memorável Bourbon Street Music Club, onde acabamos indo nessa semana. Na saída, lá pela meia-noite, caía um toró como só cai em São Paulo. Embora não estivéssemos em região de alagamentos, as bocas de lobo vomitavam água que nem mini vulcões, e as cascatas se avolumavam nas ruas.
Acionamos o UBER. A motorista, uma loira ousada, que nos apanhou quase dentro do bar, mostrou logo a que veio. Impressionante sua habilidade de pilotar falando pelos cotovelos.
O trajeto parecia longo. Volta e meia, me escapava um “ai” espichado, especialmente nas curvas, quando eu fincava o pé direito no chão pra frear o carro. Ela deve ter percebido, porque começou a nos contar sobre os vários cursos feitos nos últimos tempos. De Coaching. Falei baixinho para a pessoa ao lado que era mais sensato ela coaxar por aí, com tanta água dando sopa, do que dirigir.
A mulher não dava trégua. Acrescentou que ministrava palestras, era corretora, tinha uma filha linda de morrer, com olhão azul, mas o filho também não ficava para trás, ambos do primeiro ou do segundo casamento. Talvez o terceiro. Eu já não acompanhava. Quando ela quis saber o que tínhamos jantado, por pouco não mostrei. Só mais uma curva, e ela guardaria uma lembrança bem azeda no tapete do veículo. De repete, ela surtou:
-Gente, nós vamos parar na favela! E agora, o que faço?
-A motorista é tu, caraca! – respondi indignada.
Os demais, apreensivos, interpretavam o GPS. Entra aqui, sai ali, coisa e tal. Diante de um trecho alagado, ela freou de supetão, xingou o da frente e, “pé ante pé” pra não molhar os fundilhos do motor, atravessou a via.
Finalmente chegamos ao hotel. Na despedida, ela agradeceu e, com a melhor das suas gargalhadas, pediu uma avaliação generosa.
-Pode deixar! Você merece! – respondemos com a melhor de nossas intenções.