Agricultores de Pinto Bandeira ainda precisam enfrentar problemas com fungos e ataque tardio das moscas-das-frutas
Os agricultores e a Emater de Pinto Bandeira ainda não conseguem estimar a quantidade de perdas na safra de pêssego devido ao granizo. O último levantamento apontava 23% de quebra, contudo, nas últimas semanas, alguns produtores têm enfrentado problemas com um ataque tardio das moscas-das-frutas e podridão parda, ocasionada por um fungo.
Em levantamento prévio, a Emater estima perdas de 80% da produção nos pomares atingidos, mas o levantamento final deve ser feito somente no início do próximo mês. Na avaliação dos agricultores e com a Emater, aqueles que não sofreram ação das intempéries climáticas renderam bons frutos.
Já a incidência da mosca-das-frutas teve aumento considerável nesta safra. De acordo com a engenheira agrônoma da Emater do município, Melissa Maxwell Bock, a ocorrência foi menor em Pinto Bandeira se comparado aos demais municípios monitorados. “O maior problema foi a chuva de granizo e, como consequência disso, as frutas mais tardias ficaram com o problema da podridão parda”, avalia.
Ela explica que o dano ocasionado pelos temporais criou um ambiente propício à proliferação do fungo. “Os pomares que não foram atingidos pelo granizo tiveram excelente safra”, complementa.
Além da mosca
Na observação do pesquisador da Embrapa Uva e Vinho, Marcos Botton, a incidência de moscas-das-frutas na região aumentou na semana do Natal e se mantém alta desde então. Ele atribui o aumento a dois fatores: frutos abandonados nos pomares e fruteiras nativas que não recebem tratamento e atraem o inseto.
Sobre o primeiro fator, o pesquisador comenta que os pêssegos abandonados são uma fonte para a proliferação da praga. “Isso resulta no aumento da população”, observa. Com relação às fruteiras nativas, Botton avalia que os insetos se proliferam em torno delas e se deslocam até os pomares das fruteiras tardias. “A gente sabe que quanto mais tardia for a colheita, menos frutas ficam no campo. Então a população do inseto se desloca para as mesmas cultivares”, explica.
Embora o problema das moscas-das-frutas seja relevante, ele está associado à quebra de safra apenas em casos isolados. Segundo Botton, o principal fator que prejudicou o pêssego em Pinto Bandeira é o granizo. “Em alguns locais que caiu granizo, acabou machucando os frutos. Agora, quando amadurece, abre portas para algumas podridões. Em alguns casos, é isso que está acontecendo com as variedades tardias”, avalia.
Para evitar a proliferação de pragas, o pesquisador recomenda que os produtores façam tratamentos em conjunto, como forma do problema não afetar os demais pomares. “A mosca não respeita vizinho, se ela sai de um pomar vai para o outro. Por isso, nosso sonho é que façam o tratamento de forma conjunta”, considera.
O problema do preço
Com menos pêssegos no mercado, a tendência natural seria um aumento no preço. Mas de acordo com o presidente da Associação dos Produtores de Fruta de Pinto Bandeira, Vagner Spadari, a boa expectativa não se concretizou. “Nós esperávamos um aumento nos valores após o período de festas, mas até agora não está ocorrendo isso”, expõe.
De agora em diante, Spadari acredita que há perspectiva de melhora, mas ainda estão previstos alguns desafios de mercado. “Como o pêssego é uma fruta que não aguenta muito e tem um período determinado para ser armazenado, nós precisamos colocá-lo no mercado de uma forma ou outra. Mesmo que isso não seja agradável para todo o setor”, expõe.
Breve história do sistema de monitoramento da mosca-das-frutas
Ele foi implantado na Serra Gaúcha, em 2017, pela Embrapa Uva e Vinho. O monitoramento existe desde 2011, na região de Pelotas, com a Embrapa Clima Temperado, mas devido à importância das frutas para a região da Serra, foi expandido para a Serra Gaúcha.
Segundo informações da Embrapa, o monitoramento é realizado durante o ano inteiro, mas no período da safra uma equipe técnica de pesquisadores, extensionistas, produtores, representantes da indústria e demais parceiros se reúnem para avaliar os dados coletados e fazer indicações para o manejo mais adequado no período.
A Serra e o funcionamento do sistema de monitoramento na região
Juntas, Bento Gonçalves, Farroupilha e Pinto Bandeira são responsáveis por 80% da produção de frutas de caroço (pêssego e ameixa) para consumo in natura da região. Somado a isso, o senso agropecuário do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) do ano passado demonstra que Pinto Bandeira se tornou o principal produtor de pêssego de mesa do Brasil, com uma média de 1020 hectares cultivados e 15 mil toneladas produzidas.
Em virtude da vocação para as frutas de caroço, o acompanhamento pelo sistema de monitoramento é feito até o fim da safra. De acordo com informações disponibilizadas pela Embrapa, o trabalho ocorre em parceria com 14 produtores, que estão cedendo a área para a instalação de armadilhas em pomares nos municípios envolvidos.
Se comparado à safra 2017/2018, a população da mosca aumentou
Segundo último boletim enviado pela Embrapa Uva e Vinho, foram capturadas 60 moscas-das-frutas na semana de 4 a 11 de janeiro. Ainda de acordo com o relatório, um dos fatores que pode ter ocasionado o aumento na incidência são os frutos abandonados nas árvores, devido aos danos ocasionados pelo granizo.