Que é um mundinho fútil e superficial, não se discute. Mas que existe, especialmente entre as mulheres, uma fixação pelos eventos “fashions” e seus desfiles extravagantes exibindo silhuetas flexíveis que avançam feito najas e que se vergam como varas verdes, sem deixar cair o glamour, isso também não se discute.
Inveja? Por que não?! Apreciadoras de uma boa picanha com maionese, e brigadeiro de sobremesa, vislumbrar figuras quase etéreas que sobrevivem a folhas, é coisa de sonho. Ainda mais quando a própria condição física, que exige numerações extras fabricadas sem design, contribui para a baixo autoestima. Se bem que hoje, os paradigmas estão mudando… Mulheres reais podem ter formas generosas.
Já nas magrelas tudo cai bem. E elas pagam o preço sem pestanejar. Enquanto muitas fofinhas curtem a Netflix entupindo-se de pipoca, as fitness estão nas academias vigiando aquela gordurinha de um milímetro e meio que cercou o umbigo.
Aliás, todas pagam alto preço. A abundância, além de encurtar as pernas, diminui o fôlego e as possibilidades, como a de vestir peças que estão nas vitrines. É preciso fugir dos poás, dos círculos, das esferas e dos florais, que, de tempos em tempos, voltam a serem hits do verão. Para compensar o excesso, o bom-senso na escolha: cores neutras ou monocromáticas, desenho miúdo e estampa discreta, conforme pregam os mandamentos da moda.
Mas, já dizia Cecília Meireles em sua poética, “Ou isto ou aquilo…”, “quem sobe nos ares, não fica no chão, quem fica no chão não sobe nos ares”. Portanto, a opção é de cada uma: há as que conseguem equilibrar sua elasticidade em dez centímetros de salto e há as que conseguem mostrar sua sensualidade em um par de pantufas.
Tudo é muito relativo. Inclusive a moda, que quer muito mais que apenas vender produtos. Em sua linguagem não verbal, reveladora de tendências conscientes ou inconscientes de comportamento, também reside a intenção de levar o consumidor a comprar sonhos. E, para brincar com os que levam muito a sério essa questão, ela vem com um prazo de validade estabelecido, que vai alimentar o consumo e enriquecer as grifes. Bastante óbvio, mas nem por isso menos glamoroso.
Já às que se deliciam vendo criações bizarras em cabides ambulantes com bumbunzinhos do tamanho de um coração, lhes resta compartilhar a glória das modelos em seus quarenta minutos de desfile. Aliás, tempo menos longo do que o processo digestivo após a ceia de fim de ano regada a espumante ou vinho do vale. Tim-Tim!