Para que não vire um novelão mexicano, encerro hoje a série “Aventuras no Chile” ou “Diário de Viagem”. Não vai ter final feliz, porque final pressupõe fim de carreira solo – ou no solo. E ninguém vai esticar as canelas por enquanto, muito menos sorrindo de felicidade.
No capítulo anterior, falava do sufoco pelo qual passamos no trânsito de Santiago, perdidos e achados que fomos. A consequência desse desencontro, além da exaustão, foi o adiamento da agenda do dia – viajar para Mendoza, onde tínhamos hotel previamente reservado. De modo que fomos obrigados a desembolsar o valor de uma diária a mais no Chile e uma diária não usufruída na Argentina – que não pode ser transferida para a noite seguinte nem ampliada, em função do feriado próximo que lotara toda a rede hoteleira, inclusive resorts, pousadas e similares. Na nossa peregrinação em busca de hospedagem, pedíamos socorro a Deus e ao mundo. Mas foi Ele de novo quem deu as coordenadas, desta vez de um SPA, com tudo de bom e nada barato.
Enquanto atingíamos o estado zen cercados de prazeres mundanos, nos passou pela cabeça que os imprevistos pelos quais estávamos passando poderiam não ser aleatórios… Talvez tivessem a ver com travessuras… Bom, qualquer fenômeno neste sentido até que era inspirador. Afinal, depois de cada evento singular, vinha a recompensa no plural.
E chegou a data do retorno sem que tivéssemos resvalado dos Andes, pegos na aduaneira (só confiscaram minha maçã), colidido com o carro ou caído da moto. Por sorte! Ou nossos protetores haviam acionado um exército de forças paralelas para as coisas mais sérias. Digo isso porque provoquei o destino quando minha imensa ousadia e coragem me permitiu montar na BMW de duas rodas. Nas curvas, que eram acentuadas e constantes, eu fazia o contrapeso, ou seja, se o piloto pendia para a direita, eu me jogava para esquerda e vice-versa. Tudo errado! Só mais tarde soube do risco de acidente nessas circunstâncias.
No aeroporto Internacional Comodoro Arturo Merino Benítez, despachamos a bagagem, passamos pela segurança e finalmente embarcamos de volta ao país das maravilhas. Voo tranquilo – sem “vias esburacadas” – com direito a filminho e delícias gastronômicas, fotos nas alturas, etecétera e tal. Tudo em paz, motivo para que nossa suposta escolta suspirasse de alívio e descansasse.
Tinham direito a um cochilo… só que dormiram pra caramba.
Já no Salgado Filho, fomos retirar as malas, que desfilavam na esteira. Visualizamos cada uma delas e fomos apanhando: a vermelha, a xadrezinha, a verde limão, a dourada e a… Epa! A prateada, abarrotada de compras, sumira…
Após todos os protocolos, que duraram mais de hora, eu e a dona da mala começamos a rir compulsivamente diante da nova sacanagem do destino, ou qualquer que fosse o seu nome… Aí ela olhou para o alto e encerrou a questão:
-Tá, “pessoal”, chegou né?! Ou fim de amiga!
Acho que levaram a sério, porque um mês depois, a mala apareceu. Intacta.