Queda de preço do Bitcoin e falta de regulação levantam dúvidas sobre sustentabilidade do ativo virtual em longo prazo
A oscilação constante da cotação do Bitcoin, falta de regulação e questionamentos sobre sua capacidade de se manter estável ainda são motivos de preocupação para investidores ou interessados nas criptomoedas. Desde seu maior pico, em dezembro de 2017, o valor caiu 82% e hoje o preço varia em torno de US$ 4 mil, cerca de R$ 16,5 mil em reais.
Embora a redução da cotação esteja acumulada, neste mês o Bitcoin caminha para a maior alta desde julho. Enquanto alguns analistas entendem que a queda acumulada é semelhante aos movimentos anteriores e não representa um risco à sustentabilidade da moeda, outros compreendem que é cedo demais para dizer que esse foi o fundo do poço.
Segundo o economista e professor do Instituto Federal de Educação do Rio Grande do Sul (IFRS), Pedro Henrique de Morais Campetti, de um lado o Bitcoin parece ser uma bolha e, do outro, pode ter futuro sustentável. “Hoje 90% das transações financeiras do mundo são eletrônicas. Vamos passar por um momento de que o papel vai ser substituído pela moeda digital”, comenta.
Confiança nas criptomoedas
Para o economista, a questão em jogo é a incerteza de como vai ser o mercado com o Bitcoin e outras moedas digitais. Normalmente, o dinheiro serve como reserva de valor, meio de troca e unidade de conta. “As criptomoedas não estão sendo usadas para isso e está pouco claro quando isso vai acontecer. É uma riqueza especulativa”, avalia.
Campetti entende que embora tenha havido desvalorização alta no último ano, o Bitcoin ainda tem valor considerável. “A questão é que ainda é muito incerto como isso vai ser, porque existem centenas ou milhares de criptomoedas e outras iniciativas de moedas digitais, como a do fundador da Paypal. Então existem vários caminhos”, afirma.
Além disso, o economista vê como problema a falta de lastro das criptomoedas. “Não pode trocar por petróleo, por exemplo. O Bitcoin é simplesmente é algo que tem valor porque as pessoas dão valor a ele, está relacionado com a confiança no ativo. Só vai ser possível trocar pela moeda nacional se tiver pessoas que queiram comprar criptomoedas”, explica.
Criptografia e blockchain
O Bitcoin é um arquivo digital online que funciona como moeda alternativa. Diferente do dinheiro tradicional, ele é criado por um processo computacional conhecido como mining (mineração). As transações feitas por meio do Bitcoin ficam registradas em um índice global, uma espécie de banco de dados descentralizado que usa criptografia para registrar as transações, denominado de blockchain. “Existe possibilidade que dê certo, quem investe está apostando que vai dar certo. A forma como foi construída é muito interessante e merece ser pesquisada. A ideia do block chain, da criptografia, de informática, isso tudo é muito interessante”, considera Campetti.
Bitcoin pode ser o futuro dos pagamentos online
O desenvolvedor web bento-gonçalvense Anderson Triacca entende o Bitcoin mais como um meio de pagamento do que propriamente uma moeda. Ele explica que sua estrutura foi projetada para funcionar como um sistema de pagamentos em nível global, com segurança do blockchain. “Vários países entendem como moeda, outros como sistema de pagamento, e o Brasil é uma incógnita”, comenta.
Triacca explica que não existe consenso institucional sobre como o Bitcoin deve ser entendido sob o ponto de vista legal no Brasil. “A Comissão de Valores Imobiliários (CVM) entende como um valor imobiliário e o Banco Central como ativo financeiro”, aponta.
Os riscos de investimento são os mesmos de investir em qualquer negócio onde não existe lastro financeiro e isso, segundo o desenvolvedor, deixa o bitcoin exposto aos ataques especulativos. “Pessoas com grande capital podem injetar uma grande quantia de moeda real no sistema, aumentando seu valor e sua cotação”, avalia. Na sua perspectiva, até que o Bitcoin não esteja devidamente regulamentado, há grandes riscos de manipulação.
De acordo com Triacca, o Bitcoin barateou as transações online e facilitou a transferência de divisas de um país para outro. Contudo, ainda é prematuro afirmar que há potencial para substituir as demais moedas, já que o mais provável parece ser que ele se torne um novo meio de pagamento online. “Mas nada disso vai acontecer antes que existam regulamentações e garantias jurídicas, que tornem seguro e viável”, acredita.