Dados das secretarias municipais apontam elevação nos diagnósticos da doença; uso de preservativo é a melhor prevenção
Muitas vezes começa com um machucado, sem dor, e que pode ser visível ou não. Nos homens, quando aparece na área genital fica evidenciado. Para as mulheres, pode acabar imperceptível. Em outros casos, a garganta e o ânus podem ser o alvo dos sintomas. E tudo isso desaparece naturalmente, dando a impressão de que o organismo conseguiu vencer os sintomas. É aí que mora o perigo. Afinal, você entrou no próximo estágio de uma doença que vem aumentando anualmente em todo o país e também nos municípios da região. A sífilis, caso não tratada, pode atacar seu cérebro, mudar a estrutura dos seus ossos, deformar seu rosto e até matar seus filhos, caso você seja gestante. E isso não está vinculado a classe social: a falta de prevenção na hora do ato sexual é o principal responsável pelo aumento de casos. Mesmo com o tratamento gratuito na rede pública, deixar o preconceito de lado e buscar ajuda é o melhor remédio para vencer o problema.
Conforme dados da secretaria municipal de Saúde Bento Gonçalves, através da Vigilância Epidemiológica, nos últimos anos, os casos de sífilis no município aumentaram consideravelmente. Em 2016, foram registrados 261. No ano passado, o número chegou a marca de 318. Até o momento, em 2018, já foram 215 novos diagnósticos, aumento de 140 novos casos por ano. Conforme a enfermeira e coordenadora do Serviço de Atendimento Especializado e Centro de Testagem e Aconselhamento (SAE/CTA), Adriana Cirolini, com a evolução nos tratamentos das Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs) e na melhoria da expectativa de vida em pacientes com o vírus do HIV, houve um certo relaxamento por parte da população na hora do ato sexual. “Pela estabilização do HIV, se morre muito menos, a expectativa de vida melhorou. Com o decorrer dos tratamentos eficientes da doença, as pessoas passaram a utilizar menos o preservativo no ato sexual. Se perdeu o medo da Aids por essa qualidade de vida, mas outras infecções tomaram a frente e a sífilis é a maior delas”, afirma.
Conforme Adriana, os dados apontam que desde 2014 houve aumento nos casos em adultos, principalmente em mulheres gestantes e, consequentemente crianças. Ela salienta ainda que a transmissão da sífilis ocorre através de ato sexual, seja ele vaginal, oral ou anal e, independente da pessoa ter um parceiro fixo ou não. “Não importa se a pessoa é conhecida ou não. O ideal é usar o preservativo, vir realizar o teste. A melhor maneira é a informação”, ressalta. Na maioria dos casos em Bento Gonçalves, os diagnósticos apontam para a fase latente da doença, quando a lesão aparece e regride com o passar do tempo. “A fase secundária, por exemplo, quando há o surgimento de manchas pelo corpo, desaparece espontaneamente, então, muitos casos chegam sem o sintoma, com a história de exposição, sem o uso da camisinha”, revela.
Mesmo com os dados preocupantes, a sífilis, segundo Adriana, está longe de ser uma sentença de morte. Com tratamento gratuito pelo serviço público de saúde, o paciente consegue eliminar a doença através de injeções de penicilina. A enfermeira ainda explica que em casos de gestantes, a aplicação do medicamento consegue até mesmo impedir a passagem da bactéria da grávida para seu filho. O tratamento na mãe também cura a criança. Quanto mais cedo o tratamento nela, menores os danos no bebê. “O problema afeta todas as faixas etárias em Bento. Mas como acabamos tendo essas situações de sífilis congênita, são mulheres que engravidam, na faixa etária dos 20 aos 39 anos. Sempre o acometimento é maior é na fase reprodutiva. Mas isso não quer dizer que jovens, no início da vida sexual ou pessoas acima dos 60 anos não tenham diagnóstico da doença. Todos que são sexualmente ativos, com relação desprotegida correm o risco de contrair DSTs”, ressalta.
Onde surgiu a doença?
Conforme especialistas, não há uma resposta definitiva de quando, onde e como a sífilis surgiu. Uma das explicações mais aceitas é de que a infecção seja uma doença das Américas que chegou à Europa quase que junto com a notícia do descobrimento do continente. Os pioneiros das grandes navegações teriam contraído a bactéria, que foi espalhada pela Europa quando eles retornavam para casa.
Outra teoria é a de que a sífilis sempre existiu na Europa, mas era diagnosticada equivocadamente. Diversas pesquisas afirmam que a bactéria surgiu na África e foi se espalhando pelo mundo junto com nossos ancestrais.
Fases da Sífilis
Primária – Duração: 4 a 8 semanas – Na início, o único sintoma é uma ferida, indolor, na área infectada (pênis, vagina, ânus ou garganta). O machucado some no fim dessa fase.
Secundária – 2 a 6 meses – Os principais sinais são machucados pelo corpo. Eles aparecem espalhados, mas se concentram na palma das mãos e nos pés.
Latente – de 2 a 40 anos – As feridas e os sintomas desaparecem. A partir desse estágio, ela não é mais contagiosa.
Terciária – até a morte – A sífilis reaparece potente: deforma as pernas e ataca o rosto e o cérebro.