Especialistas avaliam os planos de governo e traçam o perfil dos dois candidatos ao governo do Rio Grande do Sul

Durante as apurações do primeiro turno, como ocorreu ao longo dos meses de campanha que o precederam, a tensão e as discussões populares estavam centradas na disputa presidencial. Os debates em torno dos demais cargos passaram como que em um segundo plano. Se no Rio Grande do Sul, seguindo uma tendência conservadora que tomou quatro das cinco regiões brasileiras, Jair Bolsonaro venceu com certa facilidade (computou 52% dos votos contra 22% de Fernando Haddad), a votação para o Governo do Estado foi bem mais acirrada (35% para Eduardo Leite, e 31% para José Ivo Sartori), embora tenha ocorrido de uma forma menos “intensa”.

Baixada a poeira, com os candidatos ao segundo turno definidos, ficou para os indecisos, mesmo num contínuo clima de letargia, e para quem votou em outras siglas, a tarefa de analisar as propostas dos dois candidatos, na tentativa de compreender suas diferenças de pensamentos e planos de governo. Um trabalho que não parece fácil nem para os especialistas.

 

 “Difícil encontrar alguma diferença”

Esta foi à resposta dada, de prontidão, pelo cientista político, Marcos Paulo dos Reis Quadro, quando indagado sobre as diferenças nos planos de governo de Leite, do PSDB, e Sartori, do PMDB. Acontece que pela primeira vez desde a redemocratização, o candidato do PT não foi um dos dois mais votados no Estado, gerando assim uma disputa inédita de dois candidatos do mesmo campo político-ideológico, alinhados em pautas de centro e centro-direita.

Para Reis, os programas são praticamente espelhados em questão de propostas e também na falta de profundidade com que elas são apresentadas. “Nenhum deixa claro como vai cumprir qualquer coisa”, diz. Opinião semelhante a do sociólogo, Gregório Grisa que pontua que a pauta de ambos se baseia, sobretudo, na austeridade e na redução do Estado. Nesse sentido, inclusive, é onde encontra uma das poucas diferenças discursiva entre os dois. “Sartori se apega ao acordo com a União como única medida para salvar o Estado, e prioriza a privatização das estatais para isso. Leite fala em uma nova governança e abertura para que a iniciativa privada participe dos investimentos em infra-estrutura”, pontua.

Ele lembra ainda que as similitudes ficam ainda mais claras quando avaliamos as votações concordantes dos parlamentares do PSDB em relação a maioria das medidas propostas por Sartori e Temer nos últimos anos. Para ele, independente de quem vença, uma sigla será base alinhada da outra no futuro.

 

O Gringo X O Moderno

Se o pleito federal foi agitado, com prevalência do discurso moral sobre o debate ideológico, no Estado, os estudiosos acreditam que as eleições também podem tender a ser decididas pelo imagético, sobretudo, levando em conta a semelhança dos discursos entre os concorrentes ao governo. E já é no tom com que as palavras dos candidatos, quase sempre sinônimas, são proferidas nestes discursos, que passam a ser identificadas as formas com que eles trabalham suas imagens e os valores que elas refletem. “Sartori é uma figura com limites de argumentação, o que muitas vezes é usado como aspecto de um homem simples, próximo do povo, verdadeiro. Já Leite tem uma oratória mais sofisticada, estudos na área de gestão, o que cativa seguimentos empresariais”, exemplifica, Grisa.

Em outro paradoxo de nosso momento político e social, destaca-se ainda que o fortalecimento dos partidos de direita no Estado, ancourou-se, paralelamente, no tradicionalismo moral e no sentimento de inovação na política. Como elucida Reis, Sartori e Leite, são, cada um a seu modo, a oposição entre esses termos. Se ambos se assemelham quanto a gestão, no entanto, um representa a tradição e o outro, a visão do “novo”. “Enquanto o Sartori se apoia na tese de que a austeridade é importante, de que ele é confiável, de que um sujeito respeitável, e assim por diante, o Leite vem aposta no contrário, na ideia de que apresenta um modo moderno de governar”, avalia.

 

 

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