Descobri por que ando um pouco cansada. Meu corpo, esta máquina complexa com funções múltiplas, nunca para. Não tem intervalo, final de semana ou férias. A cada segundo, ele fabrica 25 milhões de novas células.
Os músculos responsáveis pelo foco dos meus olhos estão sempre praticando exercícios que chegam aos cem milhões de movimentos diários.
Meu cérebro também não relaxa. Já fez mais de noventa bilhões de sinapses que armazenam dados equivalentes a 30.000 iPhones de última geração. E as reações químicas acontecem numa velocidade equivalente ao trem de Xangai, um dos mais rápidos do mundo.
Minhas glândulas salivares já produziram vinte e três mil litros de saliva, o que daria pra inundar o Palácio do Planalto.
Mas isso está me consumindo. Daqui a pouco, as gavetinhas da cachola com os respectivos fichários virtuais vão ficar tão secretos que nem Bill Gates conseguirá abrir. E o ritmo dos meus neurônios é capaz de despencar que nem a Marina Silva nas pesquisas de intenção de voto.
E vejam que nem saí da cabeça! Tem ainda a trabalheira danada feita pelas engrenagens do pescoço para baixo, esta intrincada rede que assombra de tão perfeita.
Os do contra dirão que nem tudo é tão perfeito assim. Afinal, alguns penduricalhos só servem para incomodar. O cóccix, por exemplo, que às vezes dói pra caramba, é a lembrança do tempo em que tínhamos rabo… Mas quem garante que hoje não temos? Pior ainda, que não o temos preso?
O apêndice é outro caso discutível. Ninguém precisa de uma bolsinha cheia de bactérias que pode se romper a qualquer momento e provocar um estrago federal. Para isso temos grande parte dos políticos.
E os dentes do siso?! Embora não haja espaço pra eles na boca, continuam nascendo. Tem gente que suspeita que é só para beneficiar os cirurgiões-dentistas…
Quanto ao tal músculo eretor do pelo, que antigamente servia pra assustar os animais, hoje só serve pra nos dar arrepios quando começa a propaganda eleitoral gratuita… Gratuita pra quem???
Outro acessório inútil é o dedinho do pé, que teve serventia na época em que nos balançávamos nos galhos das árvores. Mas desde que descemos delas, ele se tornou um elemento que só leva porrada da quina dos móveis.
E esse lance de que nariz grande é pra cheirar melhor, e orelhas grandes, pra escutar melhor, é coisa do Lobo Mau.
Mas tudo bem! O importante é que esta engenhoca chamada corpo humano receba manutenção regular para que continue trabalhando até o limite de sua força. Afinal, o Engenheiro que a projetou previu prazo de validade.
E eu vou mais é curtir esta preguicite aguda… “Uaaaaaaaaaaix…” Opa! Bocejo carioca. Pra quem tem orgulho de ser gaúcho é “Uaaaaaaaaaaaah…”