A lua está incessantemente cumprindo com seu roteiro e suas fases, ora grande, redonda e mágica, bulindo com as marés e com a imaginação, ora magrinha e sarada, como se estivesse saindo de uma academia. Seja como for, ela sempre fascinou a humanidade, que, inclusive quis pousar nela.
Por esses dias, descobri que botei a cara no mundo durante a Lua Nova, no período conhecido como escuridão lunar – o que explicaria algumas coisas… – mas fui registrada com ela já na fase Crescente – o que explicaria outras coisas…
Na minha infância, acompanhei os adultos guiando-se pela Lua tanto para o plantio e corte de árvores, como para a colheita e corte dos cabelos. Os filós aconteciam nas noites enluaradas, porque não havia a necessidade de lanternas para o deslocamento feito pé. Também durante a Lua cheia ou na troca de fase, as parteiras ficavam de prontidão, pois elas sabiam que uma energia maior vinha do alto capaz de mexer com os bebês. Ah! E a mudança do tempo era anunciada pela proximidade de um anel em torno do satélite. Quanto mais perto, mais certa era a chuva.
Naquela época, admirava-se o céu enquanto se caminhava, poetava-se “ouvindo estrelas”. Hoje, a atenção se fixa aos movimentos aqui embaixo, porque, se a gente bobear, vem chumbo. Talvez por isso, se foi perdendo a conexão com o Universo…
Refletia sobre isso, quando me deparei com a sabedoria oriental. Um provérbio chinês originado de um conto zen, que vou resumir:
Monge e mestre estavam em meditação no pátio do templo, à luz da Lua. Em dado momento, o monge interrompe o mestre e o questiona sobre o paradoxo: por que confiar nas palavras se o verdadeiro sentido surge através do silêncio. O mestre responde que as palavras são como um dedo apontando para a Lua. O sábio olha para a Lua; já o tolo se preocupa com o dedo que a aponta. Acrescentou que as palavras são como bolhas de sabão: frágeis e inconsistentes, desaparecendo quando em contato prolongado com o ar. A Lua está e sempre esteve à vista, motivo por que os homens se esquecem dela pelo simples costume de aceitar sua existência como fato consumado.
Essa metáfora representa a atual cena política brasileira. Tanto nas mídias como nas redes sociais, o que se vê é a busca insana de fragilidades, de desvios éticos, de relações partidárias duvidosas, de inutilidades, ao invés de projetos com ações detalhadas e passíveis de serem realizadas. Perde-se tempo precioso na guerra de farpas, ao invés da discussão de ideias. Com o radicalismo orbitando de uma margem à outra, o que menos importa é a Lua. Olha-se apenas o dedo.