Quem não gosta de temperar a vida com gotas homeopáticas de mistério? Elas dão, ao cotidiano, pitadas de emoção, que não se encontram na realidade objetiva, nua e crua. No entanto, tem gente que vai de litro, transformando cada evento por menor que seja em megaprodução hollywoodiana.
Essas tramas engenhosas também chamadas de Teorias da Conspiração revelam o desejo de o indivíduo acreditar que vicissitudes fortuitas possam ser algo espetacularmente planejado por organizações maquiavélicas e misteriosas.
Outra motivação é a necessidade que o ser humano tem de preservar-se. Se tragédias forem entendidas como aleatórias, vai sobrar insegurança, já que todo mundo estaria na corda bamba à mercê do acaso. E isso é desconfortável.
Mas não dá para excluir os Egos na criação de teorias conspiratórias. Pessoas que se julgam conhecedoras de uma versão oculta que só elas conseguem intuir, juntar as peças e formular hipóteses fantásticas.
Por isso ou por aquilo, centenas de teorias são criadas e difundidas especialmente pela Internet. Com o passar do tempo, algumas poucas acabam se revelando verdadeiras, outras são definitivamente refutadas. Mas têm as que permanecem no limbo por não serem comprovadas, nem descartadas. E a gente fica com a pulga atrás da orelha…
Por exemplo, Getúlio Vargas “se suicidou” num ato totalmente voluntário?
João Paulo I, o Papa sorriso que dirigiu a Igreja Católica por trinta e três dias (a idade de Cristo) morreu mesmo de morte natural?
Em 1969, havia tecnologia suficiente para levar o Homem à Lua?
O facebook é uma armadilha da Cia para criar um banco de dados de qualquer cidadão do mundo?
As pinturas de Michelangelo, na Capela Sistina, escondem mistérios do Judaísmo?
“A Última Ceia”, de Leonardo DaVinci, possui uma trilha sonora que soa como um réquiem?
Existem realmente mensagens demoníacas e de apelo sexual em algumas músicas tocadas ao contrário?
E, agora, o evento mais recente: Foi mesmo a porta dianteira do lado direito do Renault que me atacou, na última sexta-feira, com um baita golpe na bochecha?
Este último fato pode fazer cócegas na imaginação de quem gosta de teoria conspiratória – ou de uma boa fofoca – pois, além do hematoma na face, estou com algumas costelas muito doloridas. E o complicador é que a verdade não é nada convincente, afinal qual é a probabilidade de uma porta nocautear alguém?
A propósito: Já passei da fase do vermelho para o roxo. Logo mais pinta o azul, o verde, o amarelo, o cinza… São os cinquentas tons de um trauma. Ou seriam de uma trama?