Uma das versões da piada conta que, numa grande empresa trabalhava um rapaz que era muito gozador e irreverente. Certo dia, quando tentava ligar para um amigo, errou na digitação e acabou no ramal do chefe:
— Fala aí, safado! Anda aprontando muito?
O chefe foi logo dizendo:
— Sabe com quem você está falando?
Percebendo o engano, o funcionário respondeu que não.
— Aqui é o presidente da empresa.
Todo sem jeito, o rapaz perguntou:
— E você, sabe com quem está falando?
— Não! — respondeu o chefe exasperado.
— Graças a Deus — disse o rapaz, desligando o telefone.
Essa é uma variante divertida do carteiraço, bem diferente da realidade que, ao invés de risos, provoca indignação. Infelizmente é uma prática muito comum usada por muitas autoridades e agentes públicos para intimidar e obter privilégios. De modo geral, as vítimas não reagem, temendo confusão e/ou represálias.
Mas pior que o carteiraço é a subserviência gratuita, por iniciativa própria. Não lembro se já contei, neste espaço, uma situação que vivi há alguns anos. Em caso afirmativo, conto com a falta de memória dos leitores…
Estava eu numa fila de bom tamanho para pagar uma conta. Ao chegar a minha vez, a caixa me sinalizou que esperasse, pois dera preferência a um gordinho indeciso, chegado não sei de onde, que demorou alguns minutos para escolher um chocolate. Não gostei muito, mas como até me identifiquei com o fulano, deixei passar em branco.
Assim que o freguês se afastou, a atendente achou por bem me dar uma explicação pela sua atitude discriminatória.
-Ele é juiz! – disse ela sorrindo e reforçando a exclamação. Parecia que falava de Jesus Cristo.
-E daí? O cidadão é jovem, não tem problema de coluna, está com tempo, não precisa pegar o “busão”… – foi o que eu NÃO disse.
Saí com um olhar de paisagem típico de quem está obsediado por uma força maligna. Só mais tarde, me dei conta de que talvez o cidadão estivesse tão acostumado com o servilismo ao seu redor que nem pestanejou ao ser passado para a frente, a despeito de deixar para trás uma senhora da idade da mãe dele. Ou, distraído que estava, nem percebera a movimentação que sua figura discretamente vestida provocara. Talvez até preferisse o anonimato…
Quero crer que ainda há gente que não confunde bajulação com respeito.